18 de out. de 2013

Entrevista: Bruno Fagundes, produtor e ator da peça "Tribos"


Oi pessoal, tudo bem?

Estou muito feliz por poder apresentar este material inédito para vocês! Uma entrevista exclusiva, do Blog Vendo Vozes, com o ator e produtor Bruno Fagundes.

A peça estreou em setembro, em São Paulo, e ainda não há previsão de apresentações em outros estados, mas vou torcer muito para que eles venham a Porto Alegre em 2014 (e vocês aí, torçam pela cidade de vocês, hehehe). A acessibilidade oferecida no espetáculo (há sessões especiais com intérprete de Libras, legendas e audiodescrição) surpreende, já que o teatro é sempre muito criticado por ser uma das artes menos acessíveis a quem tem alguma deficiência.
Torcemos agora para que esse exemplo se dissemine, e os surdos, deficientes auditivos, cegos, enfim, todos, possam assistir a peça que bem entenderem, de todos os gêneros e com todas as temáticas.

Abaixo um release de "Tribos", que traz um surdo como personagem principal. No final da postagem, a entrevista que o Bruno concedeu ao blog:

Comédia perversa, com texto de Nina Raine e direção de Ulysses Cruz, aborda questões familiares; com Bruno Fagundes, Arieta Correa, Eliete Cigaarini, Guilherme Magon e Maíra Dvorek, a partir do dia 14 de setembro, no Teatro Tuca
Crédito: Jairo Goldflus
Antonio e Bruno Fagundes encontram-se na produção e no palco do teatro, pela segunda vez. O motivo agora é ainda mais especial, já que formam uma dedicada equipe de produção com os atores Arieta Correa, Eliete Cigaarini, Guilherme Magon e Maíra Dvorek, em uma premiada comédia perversa, com sacadas inteligentes e uma questão polêmica - que promete criar uma inusitada relação com a platéia - entreter, provocar questionamentos e entregar um bom produto aos amantes das artes.
Nina Raine, autora do texto, usa a figura de um deficiente auditivo para questionar os diversos tipos de limitação do ser humano e, de uma maneira perversamente divertida e politicamente incorreta, revive as típicas questões familiares e reforça as dificuldades de convivência - como em toda tribo.
Tribos aborda a surdez universal e divide o tema em duas categorias: 1) daqueles que não conseguem ‘calar-se’ por tempo suficiente para entender uma realidade diferente de sua própria 2) dos surdos que são fisicamente incapazes de receber estímulos sonoros;. "Somos só mais um na multidão"; "O mundo é surdo", diz Billy. Existe surdez maior que o preconceito; que o orgulho; que a ignorância; o egoísmo; a falta de amor?
Tribos estreia em São Paulo, dia 14 de setembro, no Teatro TUCA.
O TEXTO
Sucesso no Royal Court Theater, em Londres, e vencedor do New York Drama Critics, quando em cartaz nos Estados Unidos, o texto tem tradução de Rachel Ripani e direção de Ulysses Cruz. Billy (Bruno Fagundes) nasceu surdo em uma família de ouvintes, liderada pelo pai Christopher (Antonio Fagundes) e pela mãe Beth (Eliete Cigaarini), e completada pelos irmãos Daniel (Guilherme Magon) e Ruth (Maíra Dvorek). Ele foi criado dentro de um casulo ferozmente idiossincrático e politicamente incorreto. Adaptou-se brilhantemente às maneiras não convencionais de sua família, mas eles nunca se deram ao trabalho de retribuir o favor. Finalmente, quando ele conhece Sylvia (Arieta Correa), uma jovem mulher prestes a ficar surda, Billy passa a entender realmente o que significa pertencer a algum lugar.


Na imagem acima, os atores da peça, na ordem da esquerda para direita: Bruno Fagundes, Maíra Dvorek, Eliete Cigaarini, Guilherme Magon, Antonio Fagundes e Arieta Correa. Todos estão com roupas e sapatos pretos. Os atores estão tapando, com as mãos, os ouvidos dos que estão ao seu lado. Apenas Bruno e Arieta, que estão nas extremidades, não estão com mãos tapando seus ouvidos.

Agora, confiram a entrevista:

Vendo Vozes - Como ocorreu o seu envolvimento com a comunidade surda e a preparação para este papel? 

Bruno: Meu envolvimento com a comunidade se deu de maneira muito natural. Comecei com profissionais da área da surdez, depois com fonoaudiólogas e aos poucos fui ampliando para representantes da comunidade surda. Tivemos muito pouco tempo de preparação, mas foi um mergulho intenso na comunidade, na forma de vida do deficiente auditivo. Meus maiores desafios foram aprender LIBRAS e a busca da voz característica do deficiente auditivo.


Vendo Vozes - Você já possuía algum contato com a comunidade surda anteriormente? Já conhecia a língua de sinais?

Bruno: Não, nenhum. Minha cabeça se abriu completamente para esse universo a partir dessa pesquisa.

Vendo Vozes - Na sua opinião, qual é o maior desafio do ator ao interpretar uma pessoa surda?
Bruno: A fala é realmente um dos maiores desafios, não só pela questão técnica da articulação, potência, volumes, região da fala, mas também pelo fato de que o personagem precisa ser entendido pelo público. E meu trabalho de ator, levando em conta as emoções, as nuances do personagem, a projeção para platéia, nada disso poderia ser mascarado pela dificuldade da fala. Então foi um processo intenso de treino. Além disso, nós ouvintes nunca saberemos o que é ser surdo, como é a vida interna desse personagem, foi preciso muita criatividade também, rsrs.


Vendo Vozes - Como vocês perceberam a necessidade de acessibilidade da peça aos surdos e deficientes auditivos, e como essa acessibilidade está sendo oferecida?
Bruno: Seria um contrassenso fazer uma peça na qual o personagem principal é deficiente auditivo e não incluí-los. Foi uma iniciativa minha como produtor, a partir do meu contato com a comunidade, mas rapidamente a equipe toda se entusiasmou. Nos dias 26 de outubro (último sábado do mês), 30 de novembro (último sábado do mês) e dia 14 de dezembro, estamos realizando as sessões com acessibilidade. Para isso, temos alguns parceiros envolvidos. A primeira grande parceira e amiga é a intérprete de LIBRAS Mirian Caxilé. Ela me ensinou muito sobre cultura e identidade surda e é INTÉRPRETE DE LIBRAS oficial de Tribos. E a empresa Steno do Brasil que nos forneceu tablets com LEGENDA (para surdos oralizados) e a maravilhosa novidade AUDIODESCRIÇÃO PARA CEGOS para os dias de acessibilidade. 

Vendo Vozes - Como a comunidade surda tem recebido a peça?

Bruno: Maravilhosamente bem!!! Dia 28 de setembro foi nossa primeira sessão acessível e foi um dos dias mais emocionantes da minha vida. Tinham na platéia aproximadamente 350 surdos. E eles têm voltado, mesmo nos dias sem acessibilidade, levando seus familiares ouvintes e amigos. Tem sido uma experiência inesquecível. TODOS os meus próximos projetos de teatro, ao longo da minha vida, terão sessões acessíveis.


Vendo Vozes - Vocês pretendem viajar com a peça para demais estados? (tomara que venham ao Rio Grande do Sul!!!)

Bruno: Por enquanto, não temos nenhuma viagem agendada. Infelizmente, viajar exige um esforço monumental, envolve custos altíssimos com transporte, estadia, alimentação, aluguel de equipamento e toda uma logística de adaptação. Não é nada fácil. Mas quem sabe na metade do ano que vem?

Muito obrigada ao Bruno, pela entrevista, e à Lívia Bollos, assessora de imprensa, pela atenção.

Maiores informações sobre o espetáculo:
Tribos
Autor: Nina Raine
Tradutor: Rachel Ripani
Diretor: Ulysses Cruz
Elenco: Bruno Fagundes, Arieta Correia, Eliete Cigaarini, Guilherme Magon, Maíra Dvorek e Antonio Fagundes
Figurinista: Alexandre Herchcovitch
Cenógrafo: Lu Bueno
Iluminador: Domingos Quintiliano
Trilha: André Abujamra
Assistente de cenografia: Livia Burani e Moises Moshe Motta / Assistente de produção: Danny Cattan
Diretor de produção: Germano Soares Baía
Realização: Antonio Fagundes e Bruno Fagundes
Local: Teatro TUCA
Capacidade: 672 pessoas
Endereço: Monte Alegre, 1024 - Perdizes – São Paulo
Horários: sexta 21h30 / sábado 21h30 / domingo 18h
Fone: (11) 3670-8455
Estacionamento: R$ 12 (Rua Monte Alegre, 835)
Ingressos: sexta R$ 50 / sábado R$ 60 / domingo R$ 50
Classificação etária: 14 anos
Pontos de venda: bilheteria do Tuca (terça a domingo 14h às 19h / domingo 14h às 18h) ou www.ingressorapido.com.br
Mais informações: http://www.tribos2013.com/ e www.teatrotuca.com.br



16 de out. de 2013

Ensino de língua inglesa para surdos

Olá queridos!

Semana passada conheci no nordeste várias pessoas muito queridas. Uma delas era ainda mais especial: Toni! Depois de começarmos a conversar sobre nossas pesquisas, nosso trabalho, descobri que ele fez mestrado em Ciências da Linguagem com uma dissertação sobre aprendizagem de língua inglesa para surdos. Claro que eu o convidei a escrever um pouco sobre esta pesquisa e pedi para publicá-la aqui no blog, o que ele prontamente atendeu.

Abaixo, reproduzo o depoimento de Toni (na verdade Antonio Henrique Coutelo de Moraes) sobre este trabalho: 

Foto de Toni.
Esse trabalho teve motivações intrínsecas e extrínsecas. Primeiramente, fui motivado pela convivência com surdos, que demonstraram interesse em aprender a língua inglesa e pelo carinho que tenho por minha prima que é surda e com quem convivo muito. Também, em um dado momento de minha experiência em sala de aula, eu me deparei com um aluno surdo e uma série de questionamentos surgiram em minha mente. De início, foi muito difícil receber aceitação das pessoas na Academia no que diz respeito à pesquisa. Contudo, após muita conversa e exposição de ideias, as ideias foram aceitas. Embora a aquisição da língua estrangeira para surdos pareça uma questão passível de ser adiada por haver outras questões relacionadas à aquisição da segunda língua que ainda não tenham sido resolvidas, eu e minha orientadora acreditamos na necessidade de avançar em novas discussões. Para tanto, realizamos a pesquisa sem deixar de estarmos atentos para o contexto de aquisição do conhecimento do surdo no Ensino Médio. O objetivo foi de investigar a possibilidade de fluência no inglês por seis sujeitos surdos, sendo necessário, então, observar o seu processo de aquisição e aprendizagem da LE em um contexto educacional inclusivista multi(bi)linguista. Inicialmente contávamos com dez sujeitos, dos quais alguns desistiram por dificuldades com a linguagem escrita de uma forma geral. Esperamos contribuir para que essa linha de estudos seja ampliada pois são poucas as iniciativas em nosso país sobre o tema.

A dissertação foi defendida em Recife, em 2012, e orientada pela Dra. Wanilda Maria Alves Cavalcanti. Para ter acesso a ela clique aqui.
Para contatar o Toni, o e-mail dele é: coutelodemoraes@gmail.com

Obrigada, querido Toni, por toda a ajuda e por disponibilizar seu precioso trabalho conosco. 
Abração,
Vanessa.

26 de set. de 2013

Dia Nacional do Surdo

Olá queridos

Hoje é dia Mundial do Surdo, dia 26 de setembro.
Mas qual o significado desta data?
A Comunidade Surda Brasileira comemora em 26 de setembro, o Dia Nacional do Surdo, data em que são relembradas as lutas históricas por melhores condições de vida, trabalho, educação, saúde, dignidade e cidadania. A Federação Mundial dos Surdos já celebra o Dia do Surdo internacionalmente a cada 30 de setembro. No Brasil, o dia 26 de setembro é celebrado devido ao fato desta data lembrar a inauguração da primeira escola para Surdos no país em 1857, como nome de Instituto Nacional de Surdos Mudos do Rio de Janeiro, atual INES‐InstitutoNacional de Educação de Surdos. Toda esta história começou em26 de setembro de 1857, durante o Império de D. Pedro II, quando o professor francês Hernest Huet fundou, com o apoio do imperador o Imperial Instituto de Surdos Mudos. Huet era surdo. Na época, o Instituto era um asilo, onde só eram aceitos surdos do sexo masculino. Eles vinham de todos os pontos do país e muitos eram abandonados pelas famílias.

Agradeço a oportunidade de conhecer essa comunidade e por tudo que tenho aprendido desde que me aventurei por ela, há aproximadamente 10 anos. Desenvolver pesquisas na área da educação de surdos é um desafio constante, mas eu não consigo imaginar minha vida acadêmica de outra maneira. Conhecer os surdos, sua língua e sua cultura impactaram fortemente minha vida. Além de ter aprendido tanto sobre cultura e a língua dos sinais, aprendi muito sobre a minha própria língua e sobre mim.


"A língua de sinais nas mãos de seus mestres, é uma língua extraordinariamente bela e expressiva, para a qual, na comunicação uns com uns outros e com um modo de atingir com facilidade e rapidez a mente dos surdos, nem a natureza e nem a arte  proporcionaram um substituto satisfatório. Para aqueles que não a entendem, é impossível perceber suas possibilidades para os surdos, sua poderosa influência sobre a moral e a felicidade social dos que são privados da audição, e seu admirável poder de levar o pensamento a intelectos que, de outra forma, ficariam em perpétua escuridão. Enquanto houver duas pessoas surdas na face da Terra e elas se encontrarem, então serão usados sinais."
J. Schuyler Long (The sign language, 1910) 
Prefácio de Vendo Vozes, de Oliver Sacks.


(Estátua de um menino estendendo a mão - Parque Champs de Mars - Paris, França.  Foto de Bruno Pires)

A singela homenagem do blog Vendo Vozes a todos os leitores!
Vanessa.

22 de set. de 2013

Campanha pela inclusão da LP/S nos cursos de formação de professores

Olá pessoal

Estou sem tempo para novas postagens, mas gostaria de compartilhar com vocês esta imagem abaixo, que podem utilizar em seus blogs, sites, redes sociais, murais de escola e cursos, grupos de discussão, com o objetivo de colocarmos em prática um decreto que existe há quase 8 anos, porém ainda não é posto em prática em muitos cursos superiores: a inclusão da Língua Portuguesa para Surdos nos currículos.
Como podemos lutar pelo acesso dos surdos à uma educação bilíngue de qualidade se nossos professores não possuem informações e formação adequada para isso?

Você que é professor, estudou ou estuda Letras, Pedagogia ou Magistério, teve alguma formação sobre Língua Portuguesa para Surdos na sua instituição de ensino?
Nos conte a sua experiência e nos ajude a divulgar esta ideia.





Texto da imagem:
Art.13. O ensino da modalidade escrita da Língua Portuguesa, como segunda língua para pessoas surdas, deve ser incluído como disciplina curricular nos cursos de formação de professores para a educação infantil e para os anos iniciais do ensino fundamental, de nível médio e superior1, bem como nos cursos de licenciatura em Letras com habilitação em Língua Portuguesa.
 Parágrafo único. O tema sobre a modalidade escrita da língua portuguesa para surdos deve ser incluído como conteúdo nos cursos de Fonoaudiologia. (BRASIL, 2005 - artigo 13 do Decreto 5.626 de 2005)


Se está no Facebook, compartilhe a partir do link do nosso grupo (aqui).
Abraços,

Vanessa!

3 de set. de 2013

Visões de Mundo


Olá pessoal, tudo bem?
Perdoem a demora por novas postagens, mas estou bastante envolvida com a escrita da tese e o meu trabalho.

Bem, o texto que publico hoje é da autoria de Jônatha Bittencourt, estudante de Jornalismo (UFRGS), âncora da Bandnews FM Porto Alegre e repórter da Rádio Bandeirantes RS. O texto foi primeiramente publicado no blog Três Gotinhas, da minha amiga Mariana, que foi entrevistada para a reportagem realizada. Gentilmente os dois me cederam o texto, para publicá-lo também aqui no blog.


Visões de mundo
Jônatha Bittencourt
Conduzidos por uma bengala, dão passos para além da escuridão. Os barulhos do ambiente são como faca de dois gumes: ora ajudam, ora atrapalham quem deles é dependente.
Dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde apontam que a cada 5 segundos uma pessoa se torna cega no mundo. Os números também indicam a existência de 40 a 45 milhões de casos; 90% deles em países emergentes ou subdesenvolvidos; e 80% poderiam ser evitados. Segundo o Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, de 2010, mais de 35 milhões de brasileiros têm algum tipo de deficiência visual. Dos números apontados, aproximadamente meio milhão de pessoas são totalmente incapazes de enxergar. Em Porto Alegre, os números indicam que pelo menos seis mil pessoas têm cegueira total.
Apesar do índice considerável de deficientes visuais ao redor do mundo, a impressão dominante é de que não existe uma consensual preocupação com o bem-estar dos cidadãos que vivem em tais condições. Quando surge em meio à política, a acessibilidade parece apenas uma “pauta positiva” diante das denúncias cada vez mais recorrentes. E contando com esse panorama, onde alguns cegos ainda ousam sair às ruas, outros resistem entre quatro paredes.


Na imagem acima, o autor do texto, Jônatha Bittencourt, em frente à Casa Lar do Cego Idoso
Na foto, um jovem magro, de camisa xadrez preta, calça jeans e uma pasta cuja alça está atravessada em diagonal em seu peito, segura um objeto de papel em sua mão direita. Ele está no centro da foto, em primeiro plano. Atrás, há um prédio cor de rosa e branco, com os letreiros em cor preta "Casa lar do cego idoso". Na entrada do prédio há uma calçada de concreto, e à direita do jovem há um caminho de piso tátil até a porta de entrada do prédio.


Rua Braille, número 480. Esse é o endereço da Casa Lar do Cego Idoso, instalada no bairro Rubem Berta, na zona norte de Porto Alegre. No local, cerca de 40 pessoas com mais de 60 anos de idade são acolhidas. Dentre as pessoas que se dedicam a levar assistência e conforto aos moradores, estão Joanete e Niderauer.
História Viva
Joanete Pretto Zanandrea, 58 anos, tesoureira. Niderauer Pacheco de Quadros, 87 anos, tesoureiro. Na sala do departamento, no térreo da casa de dois andares, eles falam do trabalho com muito entusiasmo. Quando um para, o outro continua dando cada vez mais fôlego à conversa, que compete com o barulho das obras que estão sendo feitas no local – recém haviam chegado recursos do governo municipal.
A história do estabelecimento teve início há 40 anos, antes mesmo da sua fundação. Em maio de 1973, um grupo de cegos descontentes com a política de atendimento aos deficientes visuais no Rio Grande do Sul e com a falta de atividades esportivas para eles resolveram fundar a Sociedade Esportiva Louis Braille (SELB). “Nós tivemos diversos troféus”, destaca Niderauer. “Levamos vários títulos de futebol de salão e atletismo.”
Dez anos depois, a SELB passou a se chamar SOLB, de Sociedade Louis Braille. Perdeu a letra E, de Esportiva, que justamente motivou sua criação. Mal sabiam o que lhes esperava. Uma longa jornada na área social se estenderia pela frente.
Com a formação de um novo estatuto, em 1998, o nome da entidade mudaria para Associação de Cegos Louis Braille (ACELB). Cientes de que não seria fácil, mas que era necessário trabalhar mais pesado por uma rede de serviços que atendesse pessoas cegas idosas em situação de vulnerabilidade social, resolveram criar um setor responsável por essas demandas. Em 2000, foi inaugurada a Casa Lar do Cego Idoso, contando, inicialmente, com 12 moradores.
Joanete relata que chegou até a instituição por meio do marido. Segundo ela, por ele ser deficiente visual, os círculos sociais do casal passaram a ser, principalmente, pessoas cegas. Considerando o quadro em que se encontrava a militância pelos direitos das pessoas com deficiência, Joanete percebeu a necessidade de se engajar no projeto. Hoje, só lamenta pela falta de circular mais entre os moradores da casa, como fazia antigamente. “Passo mais tempo aqui, na sala da tesouraria, só lidando com números. Sinto falta lá de cima”, diz Joanete.
Enquanto ela conclui seu raciocínio, dá para notar que Niderauer já aguarda a vez de falar. Ele foi um dos fundadores da associação. Tem muita história para contar.
Sou aposentado. Fiz parte da diretoria de uma cooperativa de crédito. Naquela época, eu administrava a parte de empréstimos e cheguei a colaborar com cegos carentes. Além disso, sou membro, há muito tempo, da Irmandade São Miguel e Almas. Essa organização auxiliou desde o início a Associação de Cegos Louis Braille.”
Os dois destacam que, nesses 13 anos de funcionamento do asilo, passaram por muitas experiências. Uma delas insiste em se repetir. A indiferença parece resistir ao tempo.
Algumas pessoas têm familiares aqui. Às vezes, ligamos para avisar que estão no hospital porque passaram mal e que precisam ser visitados, mas recebemos como resposta: “Eu não vou atrás dele, já está na hora de morrer mesmo”, desabafa Joanete. “Infelizmente, alguns chegam ao ponto de dizer isso. São pessoas que abandonaram completamente seus parentes.”
Diante de situações como essa, o desânimo passa a ser um dos maiores inimigos dos que moram na casa. O sentimento, inclusive, toma uma certa vantagem por não existir um serviço de acompanhamento psicológico no local. “Eu acredito que se tivéssemos uma psicóloga aqui, ela teria muito trabalho”, diz Joanete, “muitas vezes não falam, mas no fundo estão precisando”. As dificuldades para a contratação de uma psicóloga decorrem das verbas governamentais, que “estão mais direcionadas às benfeitorias do lugar”, como destaca Niderauer.
Em meio à conversa com os dois tesoureiros, chega à porta um homem de avançada idade vestido ao estilo camponês, segurando nas mãos uma sacola com veneno para formigas.
Um Jardineiro Revolucionário


Na imagem acima, Sr. Adão Alcides Zanandrea
Um senhor, com chapéu preto e roupa cinza está posando para a foto, de frente para a câmera, no canto esquerdo da imagem. Ele segura uma pequena sacola branca. Atrás dele, uma grande estante de madeira escura, antiga, ocupa todo o fundo da foto. Na estante há muitos livros e porta-retratos.

É o marido de Joanete, Adão Alcides Zanandrea, 75 anos, ex-presidente da ACELB e, atualmente, conselheiro estadual da Saúde e dos Direitos das Pessoas Deficientes. Ele só enxerga com o olho direito – e apenas 9%.
Era o presidente e o jardineiro da casa”, interrompe Niderauer fazendo uma piada. Os três caem na gargalhada. Adão aproveita a brincadeira do amigo e já faz a seguinte recomendação, todo orgulhoso: “Pois vá ver minhas bananeiras no pátio! Certo dia meu sogro me disse: “Onde não dá geada, o colono planta três pés de bananeira e, após três anos, vai colher bananas que durarão um bom tempo para uma família de cinco pessoas”. Há dois anos, no mês de março, colhemos 70 cachos!” A esposa e seu colega tesoureiro não contestaram. Ele parece ter aprendido, realmente, a lição do sogro.
Mas ele é mais que um jardineiro.
Mesmo enfrentando dificuldades por causa da visão, resolveu cursar Direito. Registrava as aulas em um gravador de som, depois escutava as fitas. Caso não tivesse como gravar em um determinado dia, pedia emprestado o caderno dos colegas. Em casa, Joanete lia e assim ele estudava.
Eu gravava tudo em áudio e até traduzia para o Braille. Mas nunca comprei livros,” comenta Adão. Na época, adquirir obras em Braille custava muito caro – mais do que atualmente.
Depois da colação de grau, deu início à carreira de advogado. Com o passar dos anos, começou a dar aulas e a trabalhar no Ministério do Trabalho, atendendo na área previdenciária. Ainda hoje, Adão Zanandrea recebe homenagens pela sua militância a favor dos deficientes visuais. Pelo amplo conhecimento jurídico, foi convidado diversas vezes a Brasília, Rio de Janeiro e outras cidades brasileiras para colaborar no planejamento de uma legislação que contemplasse as questões de acessibilidade e direitos humanos em torno da deficiência visual. “Eu ajudei a escrever essas leis. Tenho até hoje os documentos de agradecimento lá do Rio de Janeiro”, diz orgulhosamente.
Seu antigo local de trabalho em Porto Alegre, a agência do Sistema Nacional de Emprego (SINE), também foi palco de revolução. Lá, durante 18 anos, atuou como o único deficiente visual, passando de estagiário a professor. “Até que um dia nós, mais de duzentos deficientes na cidade, entramos no Palácio Piratini e exigimos do governador os nossos direitos.”
Em 1981, no Ano Internacional das Pessoas Deficientes, o então ministro da Previdência do país, Jair Soares, anunciou sua candidatura ao governo do estado do Rio Grande do Sul. Percebendo que o governador gaúcho do momento, José Augusto Amaral de Souza, encontrava-se em risco e disposto a abrir concessões para se manter no cargo, os manifestantes aproveitaram a oportunidade para protestar. Naquele dia, foram prometidas centenas de vagas para deficientes em todo o estado.
Eu estava a dois palmos do governador. Lembro-me de ouvir dizendo: ‘Vamos começar a contratar. Estou determinando!’ Chegaram a fazer reclamações contra alguns secretários, mas o governador Amaral respondeu: ‘Secretários são pagos para me ajudar administrar o Estado. Contratem! Estou determinando!’”
Antes de sair para o pátio com sua sacola, despediu-se dizendo: “Na tua reportagem, não se esquece de dizer para as pessoas virem conhecer esse lugar e tomarem conhecimento do que uma obra assistencial de promoção humana pode fazer”.
Ao sair da tesouraria, meu próximo passo foi subir ao primeiro andar, acompanhado por Joanete. No local, além de dormitórios e de um “fumódromo”, existe uma sala com assentos onde parte dos idosos gosta de passar o dia.
Solidão e Resistência


Dona Catarina segurando a mão de Jônatha
Na foto acima, uma senhora idosa, com cabelos grisalhos e um gorro de lã cinza segura, com as duas mãos, a mão de uma terceira pessoa. Reconhecemos que é de Jônatha, o autor do texto, porque é possível visualizar a manga xadrez de sua camisa. Os olhos da idosa estão fechados, e ela está com a cabeça levemente inclinada para a esquerda.

Sentada em uma das poltronas, Catarina Gonçalves de Oliveira, de 76 anos, se concentra em seu crochê colorido. Apesar da cegueira total, faz a peça de roupa com as próprias mãos. Peço licença e um pouco do seu tempo. Ela retribui com alegria à ideia de ser entrevistada. Dona Catarina aproveita para pegar uma das minhas mãos e, esquentando-a, “segurar” a companhia por mais tempo.
Ela explica que o crochê faz parte da sua vida há anos e é uma das formas de vencer a depressão. “Eu já fazia isso quando enxergava um pouco. E agora não posso ficar mais parada, meu anjo. Sinto um sufoco e um mal estar quando não faço nada. A gente fica tão desnorteada quando perde a visão…”
Tudo começou quando eu era pequenininha, com quatro anos”, explica, “estava com meu irmão, que era muito arteiro na época. Um militar que estava passeando com seu cavalo gordo deixou cair um cartucho de dinamite perto de nós. Curioso, meu irmão foi pegar a bomba no chão. Ela explodiu. O cavalo levou um susto tão grande que levaram umas duas semanas para achá-lo”.
O acidente fez com que dona Catarina, ainda menina, perdesse 95% da visão.
Depois de um tempo, fui diagnosticada com catarata. Precisei ir à Santa Casa. Daí chegou o doutor mais experiente e me disse: ‘Catarina, tem que operar com urgência senão vai perder as vistas!’ O problema é que fizeram com anestesia geral, quando era para ser local. Antes eu pelo menos enxergava a luz, os degraus das escadas…”
Após essas palavras, dona Catarina voltou a contar sua história do início mais umas três vezes. Talvez pela idade. Resolvi não questioná-la mais sobre as causas da cegueira.
Tenho dois filhos, faz tempo que não me visitam. O Daniel não vem há mais de um ano.” Ela parece ter criado uma espécie de resistência a esse sofrimento. Apesar de fazer questão de dizer que não recebe visitas, destaca: “Mas nem conto mais com isso, não dou bola. Eles têm a vida deles. Precisamos pensar em nós mesmos, não nos parentes, e esperar a morte chegar, né?” Ela ri.
De repente cegos
Na mesma sala onde dona Catarina se dedica ao seu crochê, Osvaldo Ferraz escuta televisão. “Não posso ler ou assistir à TV, então só ouço notícias e futebol”, explica. O homem de 80 anos de idade perdeu completamente a visão há 10 anos.
Se eu mais ou menos imaginasse”, suspira, “não teria deixado acontecer. Deitei enxergando e acordei cego”. Tudo por causa de um glaucoma, doença que se caracteriza pelo aumento gradual da pressão dentro dos olhos. Com isso, o nervo ótico, responsável por transportar as sensações visuais para o cérebro, tende a sofrer uma lesão. No caso de Osvaldo, total.
Por mais que receba, em média, duas visitas por mês, Osvaldo Ferraz sente no peito a angústia de viver no mundo da escuridão. “Isso deprime a gente”, afirma. As amizades dentro de casa servem de estímulo para o dia-a-dia. “Conhece o Niderauer? Andando com ele, tá com tudo…”
Depois de conhecer Osvaldo, fui conduzido por Joanete a um dos quartos do asilo. Em uma cama estava um homem que, em plena juventude, foi desafiado por uma raríssima doença chamada Paget. Os especialistas afirmam que apenas 5% a 30% dos casos são sintomáticos. Os demais pacientes só descobrem a doença durante exames mais específicos ou, como no caso de Alenir Moraes da Silva, de 61 anos, através das consequências.
Por volta dos 20 anos de idade, a vida de Alenir mudou drasticamente.
Eu era bastante ativo na época, trabalhava no campo”, afirmou. “A doença de Paget apareceu de repente e eu perdi a visão. Foi bastante difícil. Ninguém sabia de nada, como lidar ou não com isso.”
Ainda assim, resolveu seguir em frente. “Procurei minha independência”, declara. Além de trabalhar em empresas da capital, participou da direção de algumas entidades que apoiam deficientes visuais. Em Porto Alegre, viveu a dura realidade de uma cidade que, como a maioria ao redor do mundo, ainda está distante do ideal quando se trata de acessibilidade.
A cidade não está preparada. Na verdade, uma sociedade preparada para conviver e até entender a dinâmica de um deficiente visual não existe no mundo inteiro, viu? As barreiras arquitetônicas são imensas.”
Uma declaração que, por vezes, parece ser ignorada. Fazendo o uso contextualizado do conhecido ditado popular, a impressão que fica é que onde há cego, quem enxerga é rei. Mais do que isso, quem enxerga dita as regras de como ver o mundo.
Embora exista a imposição de limites que deveriam ser repensados, Alenir Moraes da Silva declara viver “uma vida normal. Ela já é feita de altos e baixos, de coisas boas e ruins. Ser cego é apenas um detalhe. Mesmo assim, a pessoa pode ser capaz de se adaptar e de se esquecer, muitas vezes, da própria condição de cega”, conclui.
Alenir foi o último morador que conheci na Casa Lar do Cego Idoso – que prometi a mim mesmo visitar mais vezes. Antes de ir embora, ainda passei pelo jardim de Adão.
Saí decidido a conhecer mais pessoas e lições de vida.

Construindo Rampas
Esta jovem de 27 anos tem deficiência visual parcial (baixa visão) desde o nascimento. Enxerga apenas 10% e como se estivesse usando um binóculo – não tem a percepção lateral, periférica. Para começar a ver algo, precisa estar a, no máximo, dois metros de distância, quanto mais iluminação melhor. No computador, utiliza fontes que variam de 22 a 24 pontos. Além disso, é jornalista formada.
Você deve estar imaginando: “Essa pessoa deve ser uma grande profissional de rádio, afinal de contas, deficientes visuais não desenvolvem com facilidade os outros sentidos? Trabalhar com a audição deve ser o seu forte!” Deixe-se surpreender: estamos nos referindo a uma apresentadora de televisão. Seu nome é Mariana Baierle, jornalista pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e mestre em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Nunca imaginei que seria telejornalista, era uma das áreas pelas quais eu menos me interessava na época da universidade. Até que um dia prestei um concurso temporário para a TVE-RS e, inclusive, passei no acesso universal. Fiquei toda orgulhosa por ter me classificado. Quando entrei, houve certa resistência, não sabiam o que fazer comigo.”
Hoje, Mariana é repórter e apresentadora do quadro Acessibilidade dentro do programa Cidadania. Apesar das dificuldades enfrentadas inicialmente, com o tempo passou a usar algumas situações a seu favor. Em filmagens na rua, por exemplo, consegue se concentrar ao se dirigir à câmera. Já que não enxerga perifericamente, não se preocupa se alguém a está assistindo.
Mas nem tudo é motivo de tranquilidade. O luto e a contestação são “pautas” permanentes na vida Mariana. Apesar de viver em um país onde os direitos humanos são, supostamente, prioridade, ela acredita que a questão ainda é tratada com superficialidade.
Gosto de fazer uso de uma frase da publicitária Juliana Carvalho, cadeirante: ‘É preciso construir rampas na cabeça das pessoas’. E é bem isso, mudar um pensamento, um comportamento. Não é só a rampa que vai dar acesso, mas as pessoas, a forma de atender e lidar com naturalidade. Alguns ainda têm aquela ideia: ‘Nossa! Aquele é deficiente, está vendo? Está vindo ao teatro, ao cinema, como é que pode? Está saindo de casa!’ Ainda existe, infelizmente, essa resistência. Por isso existe a necessidade de ‘construir rampas’ num sentido bem mais amplo, de transformação cultural.”
Dentre vários preconceitos que deveriam ser colocados em xeque nos nossos dias, um ainda intriga muita gente: “O que esse tipo de pessoa vai fazer em Paris se não pode ver a Torre Eiffel? Qual a importância de ir a Roma sem enxergar o Coliseu?” Diante desse tipo de pensamento, Mariana contra-ataca: “Não é bem assim! O que vale é a sensação de interagir com as pessoas, caminhar pela cidade, tirar fotos…” Tirar fotos? “Sim, vão tirar, querer uma recordação. Depois os outros descrevem as imagens coletadas! Isso acontece por meio da audiodescrição, um método de trazer acessibilidade nessas situações.”
Confesso que fiquei um tanto surpreso com essa ferramenta de “visualização”. Vale a pena destacar que a jornalista Mariana Baierle tem um blog chamado Três Gotinhas (www.tresgotinhas.com.br). Na sua página pessoal, ela explica o porquê do nome: “Acho que três gotinhas é uma boa conta, considerando que às vezes posso colocar a mais ou a menos (e não ficarei sabendo disso). Então a tentativa de sempre colocar três gotinhas me parece uma boa média.” Ali, Mariana registra as mais diversas experiências vivenciadas, que vão desde a simples imaginações e conversas a grandes viagens.
Falando em viagens…
Nem só olhos visualizam
Estou a menos de uma semana na Alemanha e já são tantas as coisas para contar que fica difícil entrar em detalhes, mas posso dizer que foram, por enquanto, os dias mais difíceis da minha vida.” (16/09/2012)
O autor dessas palavras se chama Lucas Radaelli, um jovem de 21 anos de idade, estudante de Ciências da Computação na Universidade Federal do Paraná. Assim como Mariana, ele tem um blog na internet (www.lucasradaelli.com) e é deficiente visual. No entanto, é cego. Para chegar à Alemanha, Lucas precisou superar algumas barreiras durante os anos de estudos. Ele relata que a partir da terceira série, passou a estudar mais de forma digital. Os livros eram escaneados pelos pais e “lidos” através de softwares em seu computador. O Braille servia como ferramenta apoio.
Já na universidade, participou de um processo seletivo por uma única bolsa destinada ao setor de Exatas, que englobava Ciências da Computação, Tecnologia da Informação, Física, Matemática, as engenharias etc. Passou por uma série de provas, como de idioma do país de destino, rendimento acadêmico, histórico escolar, iniciação científica e atividades extracurriculares. No final das contas, foi selecionado. Embarcou para a Alemanha. “O início foi mais difícil. Como eu não tinha amigos ainda ficava sem ajuda para algumas coisas. Precisei ultrapassar os meus limites para resolver esses problemas”, comenta. Além de visitar o país germânico com fins acadêmicos, Lucas revela sua paixão por viagens e destaca algumas das suas memórias. “Sempre pesquiso bastante para onde quero ir. Já fiz viagens frustrantes, onde só havia apelo visual. Mas já viajei para lugares dos quais gostei muito, como Dublin, na Irlanda. Havia muitos pubs com música tradicional. Lógico que a visão deve ser bastante importante, mas ainda existe a questão da culinária, dá para sentir o ambiente. Quando fui ao Museu Britânico, em Londres, passei por uma experiência muito legal porque era permitido tocar em várias estátuas egípcias. Nossa, visualizei várias estátuas.”
Já que conversamos sobre “aparências”, resolvi questioná-lo sobre conceitos de estética, beleza. Lucas destacou que faz uso de outros padrões. “Como aconteceu quando um amigo me mostrou dois celulares e perguntou qual deles eu havia gostado mais. Respondi indicando um. Ele quis saber o porquê. Falei que preferi pela traseira de metal porque me passava uma sensação melhor por ser gelado…”
Eu não tenho noção do que é uma cor. Então discussão sobre cores de pele é algo que não entra na minha cabeça”, ressalta. “Certa vez aconteceu uma situação engraçada envolvendo um amigo – eu acho que é negro, não tenho certeza. Ele estava bem ranzinza na parte da manhã e eu disse que ele estava parecendo muito alemão naquele dia. Todos meus amigos deram risada. Era bem no começo do nosso convívio. Por um tempo o chamamos de alemão.”
Assim encerrei a conversa, ciente de que para Lucas, preto e branco eram a mesma coisa.

11 de jul. de 2013

Resultado: Promoção de junho e Nova promoção de julho de 2013

Olá pessoal

A sorteada da promoção de junho foi Kátia Regina de Oliveira, do MS! Parabéns!

E, em julho de 2013, estamos realizando uma nova promoção na fanpage do blog no Facebook, em https://www.facebook.com/vendovozes. Para participar, acesse a promoção (clique aqui) e participe. Dá uma olhada na fofura que vamos sortear:


O prêmio (um kit de chaveiro, íma e clipe em biscuit) é um presente para os leitores do blog da Adriana, que faz esses e outros modelos diversos em biscuit e aceita encomendas. Para contatá-la, escreva para adriana_herculano@hotmail.com e peça seu orçamento. Gostei muito da ideia, que pode ser utilizada como presente ou lembrancinha em eventos, festas de aniversário, formatura, por exemplo, além da possibilidade de outros sinais em Libras. Super criativo!

27 de jun. de 2013

Documentário "Olhares"

Olá queridos, tudo bem?

No ano passado, postei um relato da minha experiência em curso que fiz sobre Educação, Cultura e Acessibilidade, na UFRGS (para ler, clique aqui). Pois bem, na época do curso, assisti ao documentário "Olhares", uma produção independente dos ministrantes do curso, Mestres Felipe Mianes e Mariana Baierle. Agora, o documentário está disponível na internet, gratuitamente, com os recursos de audiodescrição e legendas, e recomendo muito que assistam e divulguem esse filme. Ah, e se possível, chamem os dois para alguma roda de conversa, palestra ou evento, pois eles são inteligentíssimos e falam de inclusão de uma maneira diferente, irreverente e tocante. Recomendo!

Abaixo, reproduzo o texto da notícia que foi publicado no Blog Três Gotinhas, de propriedade da Mariana.


O documentário “Olhares” (2012) agora está disponível online para acesso em qualquer parte do mundo. No filme, pessoas cegas e com baixa visão contam suas experiências no acesso ao teatro, exposições, cinema, literatura, música e entretenimento.
A obra conta com audiodescrição – recurso de acessibilidade que permite acesso a pessoas com deficiência visual – e legendas – que se destinam ao público com deficiência auditiva. Trata-se de uma produção independente, produzida em caráter acadêmico e sem qualquer tipo de patrocínio. A direção, roteiro e produção são de Felipe Mianes (historiador e doutorando em Educação pela UFRGS) e Mariana Baierle (jornalista e mestre em Letras pela UFRGS) – ambos com deficiência visual.
Estima-se que “Olhares” já tenha sido assistido por mais de mil pessoas em eventos diversos, tais como: II Seminário Nacional de Acessibilidade em Ambientes Culturais na UFRGS, 6ª Primavera dos Museus (Salvador/BA), Mostra de Curtas-Metragem sobre a Temática de Deficiência da Fundação Liberato Salzano (Novo Hamburgo/RS), Feira do Livro de Novo Hamburgo/RS, Secretaria de Educação do Estado do RS, Santander Cultural (Porto Alegre/RS), Sala Redenção de Cinema Universitário da UFRGS, disciplinas da Faculdade de Educação da UFRGS, cursos de formação de professores e palestras na área da acessibilidade. Foi veiculado ainda na TVE-RS, canal de televisão aberta para todo o Rio Grande do Sul.
Segundo Mianes, o objetivo do trabalho é dar voz às pessoas com deficiência visual, destacando suas potencialidades na relação com o universo artístico e cultural. “Queremos mostrá-las como protagonistas de suas trajetórias de vida, para além dos estereótipos e das restrições”, afirma ele.
Desde os entrevistados até os diretores de Olhares tem diferentes graus de deficiência. Mariana Baierle comenta que ainda existe a ideia de que a pessoa com deficiência visual é apenas o cego. “No documentário buscamos dar espaço também aos indivíduos com baixa visão (aqueles com acuidade visual inferior a 30%), que possuem peculiaridades e representam a maioria entre o público com deficiência visual”, afirma ela.
É apenas de inclusão que precisamos? O que seria realmente a inclusão? O documentário convida à reflexão e ao debate sobre essas e outras questões trazidas no filme.
Para palestras, cursos, exibições públicas do filme ou consultoria em acessibilidade, entre em contato com os diretores através dos blogs: www.arteficienciavisual.blogspot.com ou www.tresgotinhas.com.br.





Link para o vídeo: http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=GGgcBL6rRVE

17 de jun. de 2013

III Seminário de Docência e Tradução (ULBRA)

Divulgamos o III Seminário de Docência e Tradução, que acontecerá no próximo final de semana (22/06) na Ulbra, em Canoas (RS). O evento é gratuito, mas é preciso fazer inscrição aqui, pois as vagas são limitadas.

Objetivo: Instigar a pesquisa e formação nas áreas de tradução e ensino de Educação de Surdos; Propiciar um momento de reflexão a partir de pesquisas na pós-graduação de diferentes campos do estudo da linguagem e das experiências educacionais.

»Público-alvo: Evento destinado para professores em geral que atuam ou desejam atuar com o ensino de Surdos em diferentes espaços educacionais; para tradutores/intérpretes de Libras; pesquisadores; estudantes na área da licenciatura, pedagogia, fonoaudiologia, área da saúde e outras áreas afins.

»Programa:
•9h- 9h30min – Abertura

•9h30min– 11h30min - Palestra: As vantagens de ser bilíngue. (Prof. Dr. Ingrid Finger /UFRGS - http://lattes.cnpq.br/4698750497441929)
Palestra:A formação e os desafios do tradutor. (Prof. Dr. Ian Alexander /UFRGS-http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualiz acv.do?i d=K4745692 D2)
•12h00– 13h00: Intervalo

•13h00– 13h30min- Palestra: Formação e informação para professores e Intérpretes de Libras (Prof. Esp. Vinicius Martins (ULBRA) - http://lattes.cnpq.br/7217654228341536)

• 13h30min– 15h00 –Mesa temática - Escolas de Surdos: experiências e vivências no ensino de Surdos. Representantes de Escolas Bilíngues de Surdos.

• 15h00– 15h45min – Palestra - Surdo: Um sujeito bilíngue. (Prof. Ms. Carolina Comerlato Sperb / IFRS -http://lattes.cnpq.br/6263606372538364)

•15h45min– 16h00- Atividade de encerramento.


»Modalidade: Presencial

»Local: ULBRA Canoas Prédio: 14 Sala: Auditório 14B

»Data: 22/06/2013

»Horário: das 9h às 16h

»Carga horária: 6h/a

»Investimento: Gratuito

»Vagas: 250

»Equipe de Tradutores/Interprétes de Libras: Sandro Fonseca, Vanize Flores, Alessandra Lopes de Paula, Carlos Morais, Cíntia Luz, Fabiane Cardoso, Fátima Castro, Flávia Oliveira, Flávio Tomszewski, Giovani Santos, Iara Ribeiro, Lilian Santos, Maria Clara Leite, Márcia Kenes, Marilize Costa, Niliane Nickel, Sandra Klug e Talita Strack.


Site do evento: http://www.ulbra.br/extensao/curso.php?id=394

16 de jun. de 2013

10 obras literárias sobre diferenças (Parte 2)

Olá queridos leitores,

Conforme prometido aqui, hoje publicaremos a segunda parte da lista das 10 obras literárias que selecionamos, que tratam, com qualidade, de assuntos como deficiência e diferenças, e podem ser utilizadas em salas de aula, com seus filhos, ou simplesmente para aumentar seu repertório de boas leituras.
A primeira parte da lista com as 5 primeiras obras podem ser encontradas clicando aqui.
Segue a segunda parte:

6. Pollyanna (autora: Eleonor H. Porter | Editora: Várias)
Pollyana é a clássica história que várias gerações (incluindo a minha) leram na infância. Escrita em 1913 e considerado um clássico da literatura infanto-juvenil, a obra teve sua primeira tradução para o português brasileiro feita por Monteiro Lobato. Atualmente é possível encontrarmos várias versões e traduções em diferentes editoras, como uma edição bilíngue (inglês/ português) da Editora do Brasil ou em uma coleção de bolso pela Saraiva.
A obra conta a história de uma menina que fica órfã aos 11 anos e vai viver com sua amarga tia Polly (em algumas versões, Paulina), e enfrenta muitas diversidades e resistências da tia. Para conseguir viver nesse ambiente, ela joga o "jogo do contente" que aprendeu com seu pai, que ensina que temos sempre que buscar enxergar o lado positivo das coisas, mesmo que pareçam ruins. Até que a menina tem um acidente de carro e fica sem o movimento das pernas...


7. Um amigo no escuro (autora: Marcia Kuptas | Editora: Moderna)
A história de "Um amigo no escuro" é tão tocante que já foi adaptada e encenada no teatro. Ela conta a história de uma menina de 13 anos que durante um blecaute na rede elétrica resolve passar o tempo fazendo uma roleta russa. Mas não se assustem, o livro não é sobre violência! A roleta russa que Luciana, a personagem faz, consiste em discar, nos teclados do telefone, um número aleatório e conversar com alguém desconhecido. A partir daí a história se desenrola de maneira interessante e surpreendente! Leitura indicada para o público juvenil. 







8. O voo da gaivota (autora: Emanuelle Laborit | Editora: Best Seller)
Já falei sobre este livro em post de 2007 (ver aqui) mas faz tanto tempo e o livro é tão bom, que não vi mal nenhum em repeti-lo em nossa lista. "O voo da gaivota" (agora sem o circunflexo no primeiro 'o') é uma autobiografia da atriz francesa surda Emanuelle Laborit. A atriz encenou a peça que deu origem ao  famoso filme "Filhos do silêncio", na França, e fala, no livro (que em Portugal se chama "O grito da gaivota") sobre a sua infância e o como se descobriu surda, à medida que foi crescendo. Um lindo depoimento sobre as suas primeiras experiências "sem sons", com o esforço de seus pais para educá-la, seu esforço pessoal para falar, e a descoberta da língua de sinais que mudou totalmente sua vida. O livro não é mais publicado pela editora, que foi incorporada pelo Grupo Editorial Record, mas ainda é possível encontrá-lo em grandes bibliotecas ou quem sabe em um sebo. Recomendo muito, principalmente para quem se interessa pelo tema da diferença, e estuda/pesquisa/trabalha com surdos. Atenção ao procurar o livro: existe outro com o mesmo título, mas a história não tem nada a ver. Observe a autoria!


9. Feliz Ano Velho  (autor: Marcelo Rubens Paiva| Editora: Best Seller)

O romance que conta a história do acidente que deixou Marcelo tetraplégico foi um best-seller na década de 80, virou filme, peça de teatro e marcou toda uma geração. Ainda hoje há quem não tenha lido ou não conheça a obra, narrada de maneira irreverente e tocante, principalmente os mais jovens. Além do acidente, o livro traz recordações da infância e juventude do período de ditadura militar brasileira, já que seu pai foi cassado e desapareceu quando ele tinha 11 anos de idade. O autor também  escreveu outros livros, peças de teatro, e atualmente é colunista de diversos meios de comunicação, entre eles do Estadão (clique aqui para acessar a coluna dele). Indicado para adultos.


10. O Filho eterno  (autor: Cristóvão Tezza| Editora: Record)
Lançado em 2007, o romance "O filho eterno" já foi publicado em Portugal, Itália, França, Espanha, Holanda e Austrália, e recebeu os mais importantes prêmios literários brasileiros. Este grande sucesso conta a história da chegada de Felipe, um filho com Síndrome de Down à vida de um jovem casal. A história é narrada em 3ª pessoa, mas conta as experiências do próprio escritor. Diferente dos outros livros indicados, é a história de um pai, suas expectativas, reações, tristezas e grandes descobertas.

Aproveitem a lista e comentem! Abraço,
Vanessa.

5 de jun. de 2013

10 obras literárias sobre diferenças (Parte 1)

Olá pessoal,

Hoje vou inaugurar a série de postagens que estou preparando de "10 coisas", ou seja, listas de 10 dicas sobre algum material ou assunto relacionado às diferenças, surdez, inclusão, enfim, assuntos que possuem relação com o blog. Escolhi "10 coisas" porque é um bom número para quem começar a conhecer esses materiais, ou para você que já conhece, verificar o que ainda falta, opinar, dar outras sugestões. Pode ser que seja a primeira e última postagem da série, hehehehe, vamos ver se vocês gostam e se eu consigo tempo para continuar!

Começo então com as "10 obras literárias sobre diferenças" que eu considero que sejam relevantes, estão publicadas em língua portuguesa, e são fáceis de ser encontradas em bibliotecas e livrarias (pelo menos a maioria delas). Também pensei em obras que podem ser facilmente lidas por alunos (pensando que muitos leitores são professores),  e gostariam de debater assuntos como a tolerância às diferenças com seus alunos, certo? Por isso algumas são destinadas ao público infantil, outras para o juvenil, e outras somente para adultos!

Acabei dividindo o post em 2 partes, porque ele ficou muito longo! Então hoje começaremos com a primeira parte das 10 obras.

1. Tibi e Joca (autora: Cláudia Bisol | Editora Mercado Aberto)

"Tibi e Joca" está no topo da lista por um simples motivo: de todos, é o meu preferido! O livro é lindo, simples e sensível, e conta a história de Tibi, um menino cujos pais o descobrem surdo, e vive toda a problemática da diferença, quando seus pais não sabem o que fazer e ele se vê perdido e sozinho, até encontrar Joca, que lhe apresenta à Língua de Sinais, e com ela, um novo mundo. O livro traz o texto em língua portuguesa e a tradução em Libras do Joca, em ilustração no canto da página, e pode ser lido por crianças (alfabetizadas ou não), surdas ou ouvintes, e por adultos também, é claro. Quem me conhece sabe o quão difícil é contar a história do livro sem chorar, porque ele me toca demais. Recomendadíssimo!

Exemplo de página do livro.


2. A ararinha do bico torto (autor: Walcyr Carrasco | Editora Ática)


Outro livro fofo da lista, "A ararinha do bico torto" é recomendado para crianças de 8 a 11 anos, e conta a história de um filhote de ararinha que, por ter nascido com o bico torto, não consegue se alimentar e é abandonado por seus pais na floresta, onde é encontrado por um fotógrafo e seu filho. Sensível, a história rende muita discussão com os pequenos leitores, e além de falar sobre o tema deficiência também ensina a cuidar da natureza. Com belíssimas ilustrações, a obra também está disponível em versão para tablets.





3.  Ímpar (autor: Marcelo Carneiro da Cunha | Editora Projeto)

"Ímpar" é um dos livros que conheci por intermédio de meus alunos do ensino fundamental, que leram e amaram a obra. De forma emocionante e na linguagem dos adolescentes, conta a história de um menino que perde o braço em um acidente e, ao conhecer outros jovens com deficiência, forma uma turma de amigos chamados "Galera Ímpar". O livro é narrado em primeira pessoa pelo personagem principal, e mostra o cotidiano de alguém que de repente, começa a viver a vida de uma outra maneira.


4. Estrelas tortas (autor: Walcyr Carrasco | Editora Moderna)

Este é outro livro que conheci por intermédio de meus alunos, e narra uma história semelhante ao enredo de "Ímpar". A diferença é que a personagem principal, que sofre um acidente e fica paraplégica é uma menina, e a história é contada por vários personagens, que dão diferentes versões e visões do acidente e do que ele representou na vida de todos.



5. Aleijado (autor: Luiz Antonio Aguiar | Editora   )


Com um título que choca, em um mundo "politicamente correto", o livro (outro legado de meus alunos) com o subtítulo supercriativo "Aventuras de um garotão em luta contra escadas, buracos e outras desconsiderações do mundo" foi indicado ao Prêmio Jabuti e conta a história de um jovem que sofre um acidente após pegar a moto de um amigo emprestada, sem habilitação para dirigir. O personagem principal narra a sua aventura, ao ter de enfrentar um mundo nada acessível em um cadeira de rodas, em primeira pessoa, a partir de sua difícil recuperação. Vale a pena!



O que acharam da primeira parte da lista? Em breve publicaremos a segunda parte. Fiquem ligados!
Vanessa

2 de jun. de 2013

Promoção de Junho

Olá queridos leitores!

Quero aproveitar o início do mês de junho para lançar uma nova promoção no Blog. Para participar, você precisa apenas preencher o formulário abaixo (seus dados não serão divulgados) entre os dias 02/06 e 30/06/2013. No dia 1° de julho de 2013, sortearemos, entre os participantes, o livro "A educação do surdo ontem e hoje: posição sujeito e identidade", da autora Juliana Pellegrinelli Barbosa Costa, e publicado pela editora "Mercado de Letras". Você pode ter mais informações sobre o livro clicando aqui.
Atenção: cadastre no formulário o endereço onde você quer receber o livro, caso seja sorteado.
Você pode participar quantas vezes quiser.

Aproveitem e boa sorte!