Olá queridos,
É com muita alegria que retomo as postagens do blog depois de iniciar essa vida corrida, agitada e maravilhosa da maternidade!
Hoje publico uma entrevista muito interessante com Fernanda Falkoski, uma jovem educadora que tem se dedicado a ensinar surdocegos. Apesar de ter apenas 25 anos, a jovem professora nascida em Canoas e que atualmente reside em Novo Hamburgo, RS, é formada em curso de Magistério, Letras-Português pela UNISINOS, Tradutora/Intérprete de Libras pela ULBRA, além de vários cursos na
área de cegueira. Atualmente cursa Pedagogia pela UNISINOS, e cursa pós-graduação em Neuroeducação e Educação Inclusiva –
Capacitar NH. Em nossa entrevista ela compartilha conosco como tem sido ensinar surdocegos na rede regular de ensino.
Vendo Vozes: Como surgiu seu interesse por temas como surdez e surdocegueira?
Fernanda:
Iniciei os cursos de libras, mas não tinha nenhum contato com
pessoas surdas, ao me formar no magistério fui chamada para assumir
uma turma de alunos surdos e a partir dai senti a necessidade de
buscar mais conhecimentos na área. Após esse trabalho fui
transferida para uma escola de educação infantil para trabalhar com
alunos surdos de 2 e 3 anos, fiz mais algumas formações na área e
parti para o curso de Tradutor/Intérprete de Libras e cursos de
braile, mas sem ter interesse por surdocegos.
No
curso de Tradutora/Intérprete de Libras tive meu primeiro contato
com a surdocegueira, através de falas dos professores e um filme, "Black", nesse período estava começando a pensar no Trabalho de
Conclusão de Curso da faculdade de Letras, então pensei: Porque
estudar sobre surdos se poderia conhecer sobre surdocegos? Então
comecei a conversar com pessoas sobre esse meu interesse, mas não
tinha nenhum contato com pessoas surdocegas.
No
ano de 2011 na van em que eu ia para a faculdade, uma amiga me disse
que trabalhava perto da minha casa e que lá tinha um menino
surdocego matriculado, logo pensei, tenho que conseguir contato.
Então fui até a escola, conversei com a equipe diretiva que me
encaminhou para a secretaria de educação do município de Novo
Hamburgo e passei a interagir com esse menino.
A
partir dai fui em busca de cursos, leituras e referência que
pudessem auxiliar nessa busca pela conhecimento da surdocegueira, mas
infelizmente encontrei pouco material, poucas referências, mas
consegui o contato com um surdocego Alex Garcia que foi a pessoa que
me auxiliou muito no início desse trabalho. Consegui o contato dele
e nos encontramos para conversar, ele me explicou algumas coisas, me
deu dicas e materiais de consulta, já que aqui no RS não temos
cursos na área.
Em
2012 acabei sendo contratada pelo município de Ivoti, pois eles
tinham uma aluna cega e precisam de alguém que conseguisse trabalhar
com ela, trabalhei durante 6 meses com ela e fui transferida para
outra escola do município que também tinha um menino surdocego. Foi
com o estudo de caso desse menino que fiz meu Trabalho de Conclusão
de Curso.
Desde
então busco formações, contatos, escrevo sobre o assunto, ainda
tenho contato com as crianças, mas não dentro de escolas, mas
informalmente. Hoje também conto com a parceria de Habdel Hussein, também surdocego adulto, que auxilia nesse trabalho.
E
assim é um pouco da história de como surgiu meu interesse pela
área.
Vendo Vozes: Qual são os principais desafios para quem atua nestas áreas?
Fernanda: O principal desafio é um pouco a falta de interesse dos municípios em investir nesses casos, sabemos que não são apenas esses dois
meninos que conheço que são surdocegos, mas onde estão os outros?
Quem trabalha com eles?
Quando
faço esses questionamentos, muitas vezes recebo a resposta estão
sendo atendidos dentro das possibilidades, mas o que me deixa triste
é saber que tenho um pouco a oferecer e não tenho oportunidade em
poder ajudar, passar um pouco do meu conhecimento, dos meus estudos e
vivências nessa área.
Vendo Vozes: Como um educador que pretende se especializar nestas áreas pode
proceder? Onde há cursos ou material sobre o assunto?
Fernanda: Infelizmente não temos cursos nessa área, poucos materiais
publicados. Quem quer trabalhar com surdocegos precisa correr atrás
de pessoas que trabalham ou trabalharam, que pesquisam esse assunto,
pois se esperar por cursos, não conseguirá nada.
Vendo Vozes: Atualmente, as escolas estão preparadas para atender alunos
surdocegos? Como elas podem se preparar?
Fernanda: As escolas não são preparadas para trabalhar com crianças
surdocegas, falta organização estrutural, materiais, e
principalmente professores qualificados. Tenho um projeto de trabalho
com alunos surdocegos, mas ainda não consegui coloca-lo em prática
devido a falta de interesse dos municípios.
Vendo Vozes:Qual conselho você daria para os pais de uma criança surdocega que não sabem como proceder com a educação de seu filho ou o que ele é capaz de aprender?
Fernanda: Primeiro é acreditar no potencial de seu filho, todos podem aprender, todas as pessoas têm esse direito. Cabe a família acreditar e buscar recursos, informações e ações que possam ser feitas pelas crianças surdocegas. Por mais difícil que seja, não desista mesmo que sejam muitos os desafios a serem superados. Busque o máximo de informações sobre a deficiência, mas não encare como uma deficiência e sim como um jeito diferente de se viver.
Vendo Vozes: Por favor, deixe uma mensagem aos leitores que possuem interesse em
se especializar nesta área.
Fernanda: A primeira coisa que digo é não se pode desistir, serão muitos os
obstáculos, mas é possível buscar formação na área com os
profissionais que já trabalham, me coloco a disposição para
esclarecimento de dúvidas e conversar mais sobre o assunto.
Vendo Vozes: Como os leitores podem entrar em contato contigo?
Fernanda: Quem tiver interesse ou curiosidade no assunto, pode escrever para o
e-mail: fezinha_noia2@hotmail.com,
pode me adicionar no Facebook Fernanda Cristina Falkoski, ou então
escrever no blog: http://consolinesc.blogspot.com.br/
Vendo Vozes: Existem materiais, pesquisas e artigos já publicados por ti ou sobre
teu trabalho? Como ter acesso a eles?
R:
Sim tenho algumas publicações na área e também meu TCC que possam
enviar caso tenham interesse:
Artigo
“Inclusão de surdos na educação infantil: aquisição e
desenvolvimento da língua de sinais”, publicado na revista
Arqueiro n°24 (INES)
Artigo
“Promovendo o ensino-aprendizagem e a efetiva inclusão de aluno
surdocego pré-linguístico em escola regular” (acesse aqui)
Artigo
publicado na revista Aprendizes – Ivoti.
“Dialogando
sobre aquisição da linguagem e surdocegueira”. (acesse aqui)
Artigo:
“Surdocegueira: aprendendo pela proximidade”, publicado na
Revista Reação. Ano XV - nº 87. Julho/Agosto de 2012. Caderno
Técnico Científico, Volume 77, pág. 2 e 3.
Artigo:
“Aluno surdocego pré-simbólico: linguagem, língua e
escola” (acesse aqui)
Descrição das imagens: à esquerda, Fernanda com sua toga de formatura do curso de Letras; à direita, Fernanda apresenta um trabalho acadêmico, ao lado de um texto projetado em uma parede.
Agradecemos à Fernanda pela disponibilidade da entrevista.
Comente conosco sua opinião sobre o assunto!