Mostrando postagens com marcador entrevista. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador entrevista. Mostrar todas as postagens

30 de out. de 2013

Entrevista: Paula Pfeifer, do Crônicas da Surdez


Hoje publicamos a entrevista com Paula Pfeifer, escritora, formada em Ciências Sociais, funcionária pública e blogueira do Sweetest Person e do Crônicas da Surdez. Paula é deficiente auditiva desde a infância (ela tem aquele tipo de deficiência auditiva em que ouve um apito constante, e não o "silêncio"), é oralizada e não utiliza a língua de sinais. Diversas postagens do blog Crônicas da Surdez geraram muita polêmica pela defesa que Paula faz dos direitos dos surdos oralizados, pela paixão que ela tem pelos aparelhos auditivos, e pela falta de acessibilidade que os surdos enfrentam, já que a maioria das campanhas e movimentos de inclusão acreditam que intérpretes de Libras seriam uma forma de incluir a todos os surdos.

Foto de Paula Pfeifer, copiada de seu perfil
no blog Crônicas da Surdez

Enquanto se recupera da cirurgia do Implante Coclear que fez recentemente, ela gentilmente nos concedeu essa entrevista, contando um pouco de sua experiência e do que pensa. Aproveitem!



Vendo Vozes: Olá Paula. Como começou a sua experiência com a deficiência auditiva?
Paula: Bem pequenininha eu já reclamava para a minha mãe: "Tem um apito no meu ouvido". E muitas, muitas otites na infância.


Vendo Vozes:  Começaste, como blogueira, com o Sweetest Person, blog que fala de maquiagem, moda, literatura... O que te levou a escrever um blog como o Crônicas da Surdez? Você não o considera mais forte e polêmico?
Paula:Foi quando decidi 'sair do armário' na questão da surdez. Vi que conseguia atingir milhares de pessoas com o primeiro blog e achei que seria ótimo conseguir atingir outros milhares para falar de um assunto sério.

Vendo Vozes: Em algumas postagens você utiliza o termo deficiência auditiva, e em outras, surdez. Você vê diferença entre esses termos?
Paula: Não vejo nenhuma, é apenas para variar um pouco de termo, rsrsrs. A surdez tem vários graus e é sinônimo de deficiência auditiva. Para mim, são apenas terminações que dizem respeito à mesma coisa. Inclusive brinco dizendo que quem tem DA e não aceita ser chamado de surdo, ainda está na fase da negação.

Vendo Vozes: Quais foram os principais obstáculos que encontraste na trajetória escolar?
Paula: Me adaptei sem nem saber que ouvia mal. Criança, aprendi sozinha a ler lábios, e isso me ajudou muuuuito no colégio. Procura sentar nas fileiras coladas à parede pois assim tinha uma visão panorâmica da sala. Era assim que ia 'me defendendo'.


Vendo Vozes:  Das mensagens que recebeste de leitores do blog ou do livro que se identificaram com tua história, ou que, de alguma maneira, foram ajudadas por ela, há alguma que se destacou?
Paula: São tantas, todos os dias, e eu choro com cada uma delas, me arrepio com cada uma delas. Lembro de um - hoje grande amigo - que me disse que a vida dele se divide em duas partes: antes do Cronicas da Surdez e depois do Cronicas da Surdez. Antes, ele era teimoso e nem queria saber dos aparelhos auditivos, hoje, fez implante coclear e está ouvindo tudo! Isso me emociona demais.

Vendo Vozes:  Você relata receber muitas críticas de leitores contra alguns posicionamentos polêmicos teus, como a falta de um órgão que represente os surdos oralizados, por exemplo. Na sua opinião, por que há essa divisão entre surdos oralizados e surdos que sinalizam? Não seria mais produtivo para ambos os grupos se lutassem unidos?
Paula: Há muito tempo já perdi a 'inocência' no quesito surdez. O lobby feito por instituições voltadas somente à língua de sinais sempre foi muito forte, mas já começou a enfraquecer pois nós estamos cada vez mais voltados e dedicados à missão de mostrar pro mundo a diversidade da surdez e que nem todo surdo usa libras ou pretende viver preso dentro de uma comunidade de iguais. Nossas necessidades são diferentes. Partindo do principio em que 'lideranças surdas' dizem aos quatro ventos que existem surdos e Surdos, como se uma letra maiúscula denotasse superioridade, fica difícil. O que eu mais gostaria que nosso país tivesse é uma educação de qualidade para o aluno surdo (usuário de Libras ou não), para que ele tenha um português escrito tão bom quanto o de crianças de países de primeiro mundo. Isso é imprescindível para o mundo real, no qual é impossível que uma pessoa tenha um intérprete ao seu lado 24hs.

Vendo Vozes: Como foi escrever o livro "Crônicas da Surdez"? Qual a diferença, na tua opinião, entre escrever em um blog e escrever em um livro?
Paula: Escrever o livro foi reviver toda a minha trajetória e perceber o quanto cresci. Acho que a diferença principal é que escrever um livro sempre foi meu sonho, afinal, sou leitora compulsiva de livros desde que me entendo por gente.

Vendo Vozes:  Recentemente te submeteste a uma cirurgia de implante coclear. Como está sendo a tua recuperação e quais são as tuas expectativas?
Paula: A ativação do meu implante será em Porto Alegre dia 11.11, com a equipe do Dr.Luiz Lavinsky. Estou tranquila e sem expectativas pois sei que é um processo lento e longo. Só espero que seja recompensador!

Obrigada pela entrevista, Paula, e uma ótima recuperação para você.
E, leitores, aguardo os seus comentários. Vamos dialogar!

3 de out. de 2010

Entrevista exclusiva: Pedro Witchs

Olá pessoal! É com grande alegria que hoje divulgo a entrevista que fiz com Pedro Witchs, meu colega de projeto de pesquisa, e ex-aluno do curso Introdução ao Ensino de LP para Surdos (UNISINOS), quando nos conhecemos. Leia e comente!

Sobre o entrevistado
Pedro Henrique Witchs é ouvinte, cursa o semestre do curso de Biologia da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS, é pesquisador do Grupo Interinstitucional de Pesquisa em Educação de Surdos – GIPES, bolsista de Iniciação Científica da Profa. Dra. Maura Corcini Lopes (Programa de Pós-Graduação em Educação da UNISINOS) e atualmente também é aluno do curso de formação de Tradutores/Intérpretes de Língua de Sinais da Ulbra. Tem 21 anos, nasceu e reside em Sapucaia do Sul. Apesar de tão jovem, somente neste ano Pedro recebeu dois prêmios com reconhecimento nacional por sua pesquisa: no início do ano ele recebeu o prêmio na categoria Estudante de Graduação, do Prêmio Construindo Igualdade de Gênero, promovido pelo governo federal, com o artigo Gênero e Sexualidade na Escola de Surdos. Agora, ele conquistou o primeiro lugar na área de Ciências Humanas e Sociais, Letras e Artes, do 8º Prêmio Destaque do Ano na Iniciação Científica, realizado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Com certeza, ninguém duvida que esse jovem professor-pesquisador irá muito longe.

Olá Pedro, é uma alegria para nós sua entrevista para o Blog Vendo Vozes.

Pergunta 1: Como surgiu seu interesse pelo mundo dos surdos?
Resposta: Olá, primeiro quero agradecer o interesse do blog pelo meu trabalho. É um prazer estar aqui para responder a uma entrevista, pois sou leitor deste espaço desde quando meu interesse pela cultura surda começou a criar forma. Digo “criar forma” porque acredito que meu interesse materializou-se a partir do momento em que comecei a aprender língua de sinais em meados de 2008. Posso dizer que a minha vontade em aprender língua de sinais foi uma dessas vontades que surgem do nada, porque antes de aprendê-la eu não conhecia surdos (pelo menos não o suficiente para eu sentisse necessidade de me comunicar com eles). Ou seja, meu contato com qualquer membro da comunidade surda era nulo. Eu gosto de considerar meu interesse em aprender a língua de sinais brasileira uma situação análoga à vontade que eu tive de aprender, por exemplo, a língua inglesa no início de minha adolescência. Claro que as pessoas estão mais expostas à cultura dos povos usuários da língua inglesa e isso é um fator que contribui para que se crie o interesse em aprendê-la. Contudo, gosto de saber que o meu passaporte de entrada ao “mundo dos surdos” se deu assim: despretensiosamente. Posteriormente ao fato de eu ter realizado um curso de LIBRAS de nível básico, sedento de saber mais sobre a comunidade e a cultura dos surdos, descobri que havia pesquisas sobre esses assuntos sendo realizadas na Unisinos. Consegui contatar a professora-pesquisadora que lidera as pesquisas do Grupo Interinstitucional de Pesquisa em Educação de Surdos (GIPES), a Profa. Dra. Maura Corcini Lopes, a fim de saber mais sobre o trabalho do grupo. Por sorte, ela estava selecionando bolsistas de Iniciação Científica, então eu me candidatei à vaga. Desde então, cada vez mais aprendo sobre esses temas abordados pelos autores dos Estudos Surdos em Educação. Inclusive, quero mencionar que o fato de eu realizar atividades de Iniciação Científica não faz de mim um pesquisador (ainda, hehehe), mas sim um aprendiz de pesquisador.

Pergunta 2: Como foi receber duas premiações com reconhecimento nacional apenas este ano?
R: Para mim, acima de qualquer reconhecimento, as duas premiações são um incentivo para que eu permaneça no caminho investigativo. Pretendo continuar desdobrando minhas pesquisas de forma comprometida com a sociedade e, principalmente, com a comunidade surda.

Pergunta 3: Na sua opinião, quais são os maiores desafios para o professor de Ciências e Biologia para surdos?
R: Em meu recorte investigativo (“recorte” porque faço uso de dados obtidos através de duas pesquisas maiores realizadas pelo GIPES), venho percebendo que os desafios enfrentados pelos professores dessa área de conhecimento específica são parecidos com os desafios enfrentados por qualquer professor de surdos que não tenha língua de sinais como primeira língua, independente da área de conhecimento. Poder pensar nas possibilidades de criação nessa língua, a meu ver, tem sido a maior dificuldade, pois, embora ela já seja uma língua oficial do país, parece ainda ser pensada apenas como uma ferramenta pedagógica, uma língua de tradução de conteúdos.

Pergunta 4: Como você avalia as políticas públicas atuais de educação de surdos no Rio Grande do Sul?
R: A proposta da inclusão escolar é uma realidade que perpassa a educação de surdos no Estado. A preocupação agora é em como esse trabalho está sendo encaminhado. É muito importante que as condições educacionais sejam igualitárias e, para isso, uma série de elementos são necessários aos professores e aos surdos matriculados nas escolas regulares. Sabemos, através das pesquisas vinculadas ao GIPES, que muitas escolas ainda não se adequaram à "Educação que nós os surdos queremos" (remeto-me ao documento elaborado pela comunidade surda do Rio Grande do Sul durante o Pré-Congresso ao V Congresso Latinoamericano de Educação Bilíngue para Surdos realizado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS em 1999). Se a preocupação com a qualidade da educação dispensada aos surdos não existir nesses espaços inclusivos, então é possível se perguntar que tipo de inclusão está sendo proposta.

Pergunta 5: O que você recomendaria para aqueles acadêmicos ou docentes que pretendem trabalhar com o ensino de ciências para surdos, ou que possuem alunos surdos em suas turmas “regulares”?
R: Aos que querem trabalhar com surdos: comecem a aprender língua de sinais o mais rápido que puderem! O professor que trabalha com surdos precisa ser fluente em língua de sinais. Sabe-se que, em nossa realidade, nem todos os professores ouvintes de surdos estão preparados para o trabalho de caráter bilíngue, mas essa etapa da formação docente deles precisa ser defendida, sem contar todos os outros compromissos que esses professores deverão ter em relação às especificidades da educação de surdos como, por exemplo, compreensão sobre a diferença cultural e a identidade surda. Aos que possuem alunos surdos em suas turmas regulares: se não há um profissional tradutor/intérprete de língua de sinais trabalhando em sua escola, procurem os direitos de seus alunos surdos. A escola precisa imediatamente se adequar aos seus alunos surdos começando pela contratação do profissional habilitado para esse serviço de tradução. Essa profissão acaba de ser regulamentada no Brasil e, na lei, é possível encontrar todas as recomendações que uma escola precisa para realizar tal contratação como, por exemplo, que tipo de formação o profissional deve ter, entre outras coisas. Após as barreiras linguísticas serem derrubadas, ou melhor, durante esse processo, o professor precisa pensar nas especificidades de seus alunos surdos a fim de garantir-lhes condições educacionais de igualdade.

Pergunta 6: Na sua opinião, qual a principal característica que deve ter um professor para trabalhar com surdos?
R: Acho que, tratando-se de característica, e antes de se pensar que o trabalho é com surdos ou ouvintes, precisa-se ter compromisso profissional com seus alunos. Quando digo profissional pode parecer que estou dizendo que seja preciso rigidez, aplicação de técnicas, etc. e que todas as habilidades calcadas na formação humanística do professor sejam ignoradas. Entretanto, não é assim que quero que entendam. Para mim, o professor é um profissional e, por isso, precisa lidar profissionalmente com qualquer situação que ultrapasse a função de ensinar exatamente pelo fato de ser responsável pela formação de outros que, assim como ele, são humanos. Para a prática pedagógica com surdos, penso que seja necessário que o professor desenvolva a habilidade de pensar na língua de sinais, explorar suas infinitas possibilidades de criação a partir da língua de seus alunos, ao invés de apenas expressar-se por meio dela.

Pergunta 7: Quais são seus projetos acadêmicos e profissionais para 2011?
R: Estou programado para concluir minha graduação no segundo semestre de 2011. No primeiro semestre, começarei a desenvolver meu trabalho de conclusão de curso e no meio do ano me formo no curso de formação de Tradutores/Intérpretes de Língua de Sinais na Ulbra. Enquanto futuro professor de surdos, é fantástico estar aprendendo tudo o que posso a respeito de tradução/interpretação de língua de sinais. A realização desse curso de formação tem sido muito útil acadêmica e profissionalmente. Espero realizar um bom trabalho articulando as três áreas de conhecimento: Biologia, Estudos de Tradução e Educação de Surdos.

Pergunta 8: Qual a importância da internet e do seu blog na sua formação acadêmica e como pesquisador?
R: A internet é uma ferramenta fundamental para o meu trabalho hoje. Através dela, tenho acesso a outras ideias, outros trabalhos nos quais posso me inspirar, pensar sobre, bem como posso divulgar o meu próprio trabalho a fim de contribuir com outros profissionais. Isso tudo sem mencionar que ela me permite contatar tais pessoas, redefinindo as possibilidades de trocas.

Pergunta 9: Como os interessados podem entrar em contato com você e ter acesso à seus trabalhos e projetos?
R: É muito interessante essa prática de manter um blog, por isso eu mantenho um também. Não é nenhum Blog Vendo Vozes, nem nada, mas é higiênico, viu? Podem visitá-lo sempre que quiserem, hehehe. Nele é possível encontrar vários canais de acesso a mim e aos meus trabalhos, desde Orkut a Twitter, e passando por vários outros também. Os interessados podem acessá-lo através do endereço: http://biologiaemlibras.blogspot.com/

Por favor, deixe uma mensagem para os leitores do Blog Vendo Vozes....
Muitíssimo obrigado pela atenção de vocês, leitores que chegaram até essa parte da entrevista. Desejo que todos permaneçam frequentando este blog, pois ele é um veículo de informação muito importante e confiável tratando-se de assuntos que envolvem a surdez. Espero que tenham gostado, podem comentar, a Vanessa permite que vocês comentem aqui, não é proibido. Se gostaram, não gostaram críticas, sugestões, podem mandar, porque assim como vocês, eu costumo vir aqui e lerei seus comentários (até os responderei se precisar). Enfim, obrigado mesmo, Vanessa, pela oportunidade. Confesso aos leitores que eu fiquei muito empolgado quando a Vanessa, na última reunião geral do GIPES, me convidou para esta entrevista, porque sei da importância deste blog. Muito obrigado.

Muito obrigado, Pedro, pelo seu tempo e atenção conosco. É uma grande alegria poder divulgar seu trabalho e contar com sua colaboração em nosso Blog Vendo Vozes.

Atenciosamente,
Vanessa Dagostim Pires.
Eu e o colega Pedro na UNISINOS.

19 de jun. de 2010

Vendo Vozes: uma viagem pelo mundo dos surdos e outras obras de Oliver Sacks

Olá pessoal!
Preciso compartilhar com vocês a releitura que estou fazendo da obra de Oliver Sacks, Vendo Vozes, o livro que dá título ao blog e que me incentivou a iniciar, eu também, "esta viagem pelo mundo dos surdos" que o autor relata (viagem esta, que tem durado mais de 7 anos). Após ter passado todos esses anos e todas os estudos, leituras e descobertas que fiz, desde a primeira leitura do livro, resolvi lê-lo novamente (estou sentido a necessidade de rever diversos conceitos neste ano, devido ao desenvolvimento de minha tese de doutorado e outros projetos), e, novamente, estou amando. Desta vez, estou lendo outra tradução, mais atualizada, e publicada pela Companhia de Bolso (Companhia das Letras). Por ser uma edição "de bolso, ou pocket", ela também é mais barata, por isso, não posso deixar de recomendá-la a cada leitor. Se você não encontrá-lo nas livrarias de sua cidade, peça pelas livrarias tradicionais da internet, está muito fácil de encontrar porque esta última edição saiu agora, em 2010.  Além de ser uma tradução mais atual! 
Quero aproveitar muito das considerações e das leituras do livro aqui no blog, e espero a participação e comentários daqueles que já leram, estão lendo, relendo, ou pretendem ler o livro. Mais uma vez, reitero: ele é FUNDAMENTAL para todos aqueles que querem entender um pouco mais sobre a surdez, os surdos, a comunicação e linguagem humanos, a comunidade e cultura surdas e as línguas de sinais, e, mais ainda, ao ilimitado poder que nosso cérebro tem de se comunicar e desenvolver!

Para quem quiser saber mais sobre o autor, o Programa da TV Cultura "Roda Viva" realizou em 1997 uma entrevista com Oliver Sacks, que você pode assistir clicando aqui.

Um abraço a todos, aguardo comentários! 
(Se eu sumir por uns tempos, vocês já sabem: estou lendo!)

13 de abr. de 2010

Entrevista exclusiva: Pâmela Isis.


Olá pessoal, tudo bem?
Como estou participando do I Seminário Respeitando e conhecendo a LIBRAS, em Santarém, no Pará, juntamente com a intérprete Pâmela Isis, consegui entrevistá-la para nosso Blog, e tenho certeza que vocês vão gostar muito da entrevista, assim como eu!
Obrigada, Pâmela, pelo seu carinho e dedicação conosco e pela concessão da entrevista.
(Na foto, à esquerda eu, e à direita, a Intérprete Pâmela, nos preparando para a abertura do I Seminário Respeitando e Conhecendo a LIBRAS - IESPES - Santarém, PA).

Sobre a entrevistada

Pâmela Isis Mota tem 21 anos, é paulista e é intérprete de LIBRAS da Rede Vida de Televisão, e graduanda de Pedagogia da UNILAGO.


Olá, Pâmela, é uma alegria para nós sua entrevista para o Blog Vendo Vozes.

Pergunta 1: Como foi seu ingresso no mundo dos surdos?

Resposta: Quando eu tinha aproximadamente 16 anos, fiz um curso de administração no Senac, e dentro do currículo do curso havia uma disciplina de LIBRAS. Foi meu primeiro contato efetivo com a LIBRAS e com os surdos, e me encantei. Mas era apenas um semestre, e sem contato com surdos eu fui esquecendo, embora o interesse continuava. Alguns anos depois, eu estava em uma missa em minha paróquia, e vi alguns surdos participando da missa com uma intérprete. Aquilo mexeu muito comigo, e ardeu em meu coração. Depois da missa, fui conversar com aqueles surdos, e comecei a conviver com eles e aprender mais. Logo fui convidada a participar interpretando as missas como voluntária, e comecei a fazer parte da Pastoral dos Surdos. Depois de cinco anos trabalhando como voluntária, fui convidada a ser intérprete da Rede Vida de Televisão, e estou trabalhando lá há um ano e oito meses.


Pergunta 2: Qual foi seu maior desafio no início da carreira de intérprete?

Resposta: Foram muitos os desafios. Um deles foi a sensação de estar sozinha, pois nem sempre os outros intérpretes auxiliavam. Também havia a vergonha de me expressar, das expressões faciais e corporais. Com o tempo, percebi que isso era primordial na profissão, e era necessário desenvolver mais essas habilidades.

Pergunta 3: Como é o trabalho da Pastoral dos Surdos? Como você contribui?

Resposta: O primeiro objetivo é a evangelização dos surdos, com a interpretação das missas e ensino bíblico. Além disso, possuimos um centro de estudos que alfabetiza surdos que não sabem ler, encaminham para o mercado de trabalho, damos atendimento psicopedagógico e fonoaudiológico gratuito. A Pastoral dos Surdos é coordenada pela Professora Psicopedagoga Leonor Bernardes Neves. Até hoje sou voluntária da pastoral, e interpreto as missas aos domingos, e auxilio na parte democrática.

Pergunta 4: Para quem quiser receber atendimento da Pastoral ou ser voluntário, como deve proceder?

R: A pessoa interessada pode acessar o site nacional da Pastoral, http://www.effata.org.br/, e lá procurar informações e localizar a paróquia mais próxima que tenha esse trabalho.

Pergunta 5: Na sua opinião, qual a principal característica que deve ter um intérprete, e qual ele não deve ter?

Resposta: Ele não pode ser uma pessoa tímida, mas ter desenvoltura e ser ousado. Também não pode ser orgulhoso, ou ter uma “síndrome de estrelismo”, usando a língua de sinais e os surdos como escada para sua promoção pessoal.

Pergunta 6: O que uma pessoa que quer ser intérprete profissional deve fazer?

Resposta: Primeiro passo, procurar um curso de LIBRAS, de preferência com um instrutor surdo; desenvolver a sua expressão corporal e facial, mesmo que seja treinando em frente a um espelho. E ter convivência com a comunidade surda, porque a teoria nunca vai substituir a experiência.

Pergunta 7: Qual a postura que o intérprete deve ter para seu trabalho não ser confundido com caridade?

Resposta: Ele deve deixar bem claro que é um profissional como qualquer outro. Assim como um médico, por exemplo, ele ajuda as pessoas, mas é um profissional. Também precisa entender que o surdo não precisa do intérprete o tempo todo, ele tem seu modo de vida, e precisa ser independente.


Pergunta 8: Quais são seus projetos para seu futuro profissional?

Resposta: Prentendo continuar estudando e me aprofundando na língua de sinais, para ser professora alfabetizadora de surdos.

Pergunta 9: Como é o seu trabalho como intérprete na TV? Quais as diferenças entre interpretar na televisão e em eventos?

Resposta: Na televisão, temos um espaço menor na tela, é uma construção de espaço menor, você construir a sua interpretação em LS naquele pequeno espaço, ou não será visto e entendido. Quando você interprete na televisão, em rede nacional, você pode utilizar uma variação maior de sinais, pode englobar vários regionalismos. Já em eventos, você precisa saber qual é o público, qual variação de LS você deverá utilizar. Além disso, em eventos você interage com os surdos, na televisão não, você não tem um retorno imediato sobre seu trabalho, não há essa interação.


Pergunta 10: Como os interessados podem entrar em contato com você e ter acesso à seus trabalhos e projetos?

Resposta: Meu e-mail é mel_libras@yahoo.com.br, e também tenho um perfil no orkut (Pâmela Isis) e Twitter, no twitter.com/PamelaLibras. Assistam a missa na Rede Vida de Televisão, de segunda a sexta às 19h10, aos sábados, às 15h, e aos domingos às 8h da manhã, ao vivo.


Por favor, deixe uma mensagem para os leitores do Blog Vendo Vozes....

Gostaria de ressaltar que a LIBRAS é uma língua acessível a todos, não é um bicho-de-sete-cabeças, e todas as pessoas deveriam aprender pelo menos um pouco sobre ela.Muito obrigada, Pâmela, pelo seu tempo e atenção conosco. É uma grande alegria poder divulgar seu trabalho e contar com sua colaboração em nosso Blog Vendo Vozes.



22 de jan. de 2010

Entrevista Exclusiva: Marinélia Soares

Olá pessoal

É com grande prazer que apresentamos hoje uma entrevista exclusiva do Blog Vendo Vozes com a educadora Marinélia Soares, importante personagem da educação dos surdos no estado do Acre.
Sobre a entrevistada
Marinélia Soares é ouvinte, intérprete de LIBRAS e professora de surdos há cerca de oito anos, e vem desenvolvendo um importante trabalho educativo com a inclusão de alunos surdos nas escolas do ACRE. Atualmente trabalha na Sala de Apoio Pedagógico à Inclusão, no Núcleo de Apoio Pedagógico- CAS do ACRE e possui um blog muito interessante sobre o tema, intitulado “Trabalhando com surdos”, no qual troca experiências e materiais a respeito de educação de surdos.

Olá Marinélia, é uma alegria para nós sua entrevista para o Blog Vendo Vozes.
Como foi seu ingresso no mundo dos surdos?
Marinélia: Através da minha mãe que trabalha com alunos surdos há 20 anos, dessa forma desde cedo tive contato com todos eles. Quando se iniciou o uso da LIBRAS, comecei a fazer o cursos junto com os professores da escola especial, comecei com um trabalho voluntário e após um ano iniciei a trabalhar como intérprete e professora da pré escola.
Qual foi sua primeira experiência com a educação de surdos? Quais foram seus desafios na época?
Marinélia: Durante o período de voluntariado aprendi muito com as professoras, mas meu desafio maior foi ir interpretar em escolas inclusivas, sendo que na época estava sendo uma das pioneiras no estado do Acre, e as escolas não aceitavam a presença de outra pessoa dentro de sala. Lembro-me que os professores falavam enquanto escreviam no quadro, além de fazerem ditados, e, quando era dada alguma orientação não era aceita.
Como você avalia as políticas públicas atuais de educação de surdos no Acre?
Marinélia: Há muito a se fazer ainda com relação a políticas públicas para surdos, mas já podemos notar que algumas coisas estão mudando, a questão da acessibilidade teve um grande avanço. Os profissionais estão recebendo formações a cada dia. Sendo assim, creio que tudo é um processo e que as políticas publicas podem contribuir muito.
Qual tipo de atendimento é prestado no CAS?
Marinélia: O CAS é dividido em 4 Núcleos
1º Núcleo de Capacitação
Onde são atendidas pessoas que fazem parte da comunidade, família e profissionais da educação em cursos de Libras em contexto.
2º Núcleo de Convivência
Responsável por cursos profissionalizante, para alunos surdos, cursos de artesanato para surdos e familiares e inserção e acompanhamento de surdo no mercado de trabalho.
3º Núcleo de Tecnologia
Ajuda os demais núcleos dando apoio tecnológico, edição de vídeos, slides...
4º Núcleo de Apoio Pedagógico
Este Núcleo é responsável pelos atendimentos nas escolas inclusivas, palestras e oficinas de concretização, e produção de recursos didáticos.
Na sua opinião, qual a principal característica que deve ter um professor para trabalhar com surdos?
Marinélia: Primeiramente deve ter amor pela docência, pelas diferenças, pois para trabalhar com alunos especiais é necessário muita dedicação, muito amor, e o conhecimento e interesse pela Língua de Sinais.
Como é a formação continuada para professores na região Norte do país? Quais as principais dificuldades encontradas?
Marinélia: Com relação à formação dos profissionais do CAS, temos o que há de melhor, os grandes nomes da educação de surdos já estiveram no Acre, nos orientando tanto com relação a Libras quanto a Português como Segunda Língua. No que diz respeito a formação dos professores da rede regular de ensino que recebem alunos surdos, enquanto CAS encontramos muitas dificuldades, muitos deles não são liberados pelas escolas para participarem dos cursos, o que dificulta muito nosso trabalho.
Conte-nos um pouco sobre sua experiência como intérprete e instrutora de LIBRAS.
Marinélia: Trabalhei durante três anos como intérprete, foi uma experiência nova tanto para mim quanto para as escolas, me tornei amiga de muitos professores como também dos alunos surdos e ouvintes. Percebi que a profissão de intérprete precisa buscar muito, estudar sempre, pois todo dia surge termos novos em sala de aula. Afastei-me devido problemas de saúde, mas admiro muito. Atualmente não me preocupo com a interpretação, me apaixonei pelos recursos e procedimentos com alunos surdos, percebi que apenas saber libras não vai ajudar o professor a ensinar o alunado surdo. Sei que posso ajudar muitos professores que se depararam com alunos surdos em sala de aula orientando-os a mudarem sua metodologia em sala de aula.
Quais são seus projetos acadêmicos e profissionais para 2010?
Marinélia:Ingressar na Pós Graduação de LIBRAS, Ministrar um curso para SESC/AC de Português como Segundo Língua, Libras em Contexto, Metodologia para o ensino de alunos surdos e Recursos.
Qual a importância da internet e do seu blog na sua formação como educadora e na troca de experiências com outros profissionais?
Marinélia: Muito importante, como é maravilhoso receber recados, com lindas mensagens de elogios, com dúvidas, melhor ainda é poder ajudar, receber a mensagem de volta agradecendo, relatando que deu certo o procedimento. Adquiri vários amigos, vários parceiros. Tudo isso contribuiu muito em meu trabalho, adoro pesquisar, o universo dos blogs é magnífico me encantei... foi assim que resolvi montar o meu.
Como os interessados podem entrar em contato com você e ter acesso à seus trabalhos e projetos?
Marinélia: Email: msoaresdelima@hotmail.com
Blog: www.trabalhandocomsurdos.blogspot.com
Por favor, deixe uma mensagem para os leitores do Blog Vendo Vozes....
Marinélia: Acredite que todos podem aprender, o que pode mudar é a formar de ensinar e de aprender.



(Nas imagens acima, Marinélia durante uma oficina para professores de surdos do Acre.)

O que vocês acharam da entrevista? Comentem!

Abraços, Vanessa.

1 de abr. de 2009

Entrevista Exclusiva: Psicóloga Janaina Cabello






Olá pessoal





É com imensa alegria que publicamos uma entrevista exclusiva com a psicóloga Janaína Cabello, a quem agradeço de coração pela atenção e pela concessão desta!

Janaina Cabello é ouvinte, formada em licenciatura plena e formação de psicólogo pela UNESP (Universidade Estadual Paulista), atua como psicóloga no Instituto Phala - Centro de Desenvolvimento para Surdos em Itatiba, São Paulo, onde nasceu e vive. Ela também cursa pós-graduação lato sensu em LIBRAS e Educação de Surdos, e é graduanda do curso de Pedagogia.

Pergunta 1: Como começou seu contato com a comunidade surda?
Resposta: Iniciei os estudos da LIBRAS em 2006, assim que me formei, e comecei a trabalhar no Instituto Phala – Centro de Desenvolvimento para Surdos em 2007.
Sempre sou questionada, principalmente por psicólogos que conheço, sobre como me interessei por estudar e atuar com a comunidade surda. Interessei-me pela cultura surda e por entender um pouco daquela misteriosa maneira de se comunicar quando, participando da coleta de dados para o doutorado de uma professora, durante minha graduação,descobri que seria necessário entrevistar jovens surdos. Como eu já havia aceitado o trabalho e não fazia a menor idéia de como isso seria possível, contamos com a interpretação realizada por profissionais ligados ao Centrinho de Bauru (HRAC/USP). As perguntas do questionário a ser aplicado foram filmadas e, durante a coleta, eu filmava as respostas dos jovens surdos. Meu trabalho foi realizado, mas eu sequer podia me apresentar ou perguntar o nome daqueles jovens!
Essa lacuna permaneceu durante a minha graduação, até porque na época ainda não era obrigatória a disciplina de LIBRAS nos cursos de licenciatura e não havia em nossa grade curricular um aprofundamento na área. Depois de formada, retornei da cidade de Bauru à Itatiba e encontrei um curso de extensão acadêmica em língua de sinais – foi como tudo começou.

Pergunta 2: Antes deste primeiro contato como era a sua visão sobre os surdos? O que pensava sobre eles?
Resposta: Antes desse primeiro contato com a comunidade surda eu não imaginava como poderia desenvolver um trabalho específico para os surdos, na verdade eu nunca havia me questionado até então em como interagir com a comunidade surda. Eu sabia sobre a restrição auditiva e sobre a existência de uma língua diferente, visual, mas não podia imaginar o desenvolvimento e a constituição de uma identidade lingüística própria, por exemplo. Realmente não havia “olhado” para os surdos até então.

Pergunta 3: Sua formação acadêmica em psicologia contemplou estudos sobre atendimento a pessoas com surdez?
Resposta: Não. Discutimos em uma disciplina aspectos relacionados aos diversos tipos de “deficiências” (visual, auditiva, intelectual, física), mas de uma maneira bastante superficial, sendo o enfoque bastante clínico e médico (a pessoa surda tem uma perda auditiva que pode variar de leve a profunda, existem aparelhos amplificadores, a possibilidade do implante coclear, etc). A graduação mostrou possibilidades de atuação nesse sentido, mas não aprofundamos com estudos específicos em nenhuma área, sendo que esses estudos tiveram que ser realizados posteriormente.

Pergunta 4: Como você chegou ao Instituto Phala e como é sua atuação naquele centro?
Resposta: Comecei a trabalhar na Instituição assim que conclui um ano de estudo em LIBRAS. Havia acabado de concluir um ano de extensão acadêmica em Língua de Sinais e estava muito interessada em atuar como psicóloga junto à comunidade surda, mesmo porque eu queria me certificar que realmente eu estava aprendendo a língua, então queria contato com os surdos. Uma fonoaudióloga que fez o curso junto comigo me indicou para a Instituição, que me contratou. Até então o Instituto nunca havia contratado uma psicóloga que soubesse um pouco de LIBRAS! Hoje, atuo no Instituto Phala em dois projetos: um, o “Projeto Passo a Passo”, que atende crianças e adolescentes surdos com diferentes níveis de perda, propõe um trabalho multidisciplinar com a atuação também de fonoaudióloga e assistente social. O trabalho consiste em acolher a família no momento do diagnóstico, esclarecer sobre quais procedimentos podem ser tomados para garantir o pleno desenvolvimento das potencialidades daquela criança surda, além de fazer outros encaminhamentos que sejam necessários. Em parceria com um instrutor surdo, oportunizamos com que a criança e sua família entrem em contato com a Língua de Sinais, bem como com outras famílias e crianças e jovens surdos, realizando um acompanhamento sistemático. Outro projeto que coordeno, o “Capacitação para a Inclusão”, foi aprovado esse ano, em janeiro de 2009, pelo Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de Itatiba e tem como objetivo a profissionalização de adolescentes surdos, entre 14 e 18 anos. O projeto prevê aulas de informática, rotinas administrativas, marketing pessoal, português e orientação profissional para que, no final do ano, possamos encaminhar esses adolescentes para estágios supervisionados em empresas parceiras. Todas as aulas contam com a presença de uma intérprete e os professores das disciplinas iniciarão no próximo mês o curso de LIBRAS oferecido pelo Instituto.

Pergunta 5: Como surgiu o Instituto? Como ele é financiado?
Resposta: O Instituto Phala é uma OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) e surgiu em dezembro de 1999. Foi fundado por um grupo de famílias que não encontraram na cidade atendimento específico e especializado para seus filhos com diagnóstico de surdez. As crianças até então não tinham contato com outros surdos ou com a LIBRAS e as famílias, com a ajuda de profissionais, mobilizaram-se para fundar uma Instituição que pudesse atender as crianças em suas especificidades. Atualmente o Instituto atende crianças e adolescentes surdos e suas famílias, moradores de Itatiba e região, e recebe apoio da prefeitura municipal de Itatiba, através de um repasse de verba que mantém as despesas fixas (como o aluguel, contas, manutenção predial); os projetos desenvolvidos são mantidos através de parcerias com a Prefeitura, sendo que temos projetos cadastrados na Secretaria de Ação Social e de Educação (que, depois de aprovarem nossa proposta de trabalho, fazem o repasse de verba a partir de uma prestação de contas e relatórios técnicos mensais). A partir de 2009 também estamos contando com o financiamento do Fundo Municipal do Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente para a realização do projeto de profissionalização. Para a complementação da verba necessária, contamos com a parceria com empresas privadas que nos apóiam, e com a doação de pessoas interessadas no voluntariado.

Pergunta 6: Que tipo de ajuda ou colaboração são bem vindas ao Instituto?
Resposta: O Instituto agradece qualquer tipo de colaboração, mas atualmente necessitamos de apoio financeiro para podermos investir na manutenção e segurança do prédio, na aquisição de materiais específicos e na remuneração dos profissionais técnicos, que hoje atuam com uma carga horária insuficiente para atender a toda demanda que procura pela Instituição. Materiais lúdicos e pedagógicos específicos também são muito bem vindos. Profissionais de diversas áreas e que atuem com surdez e língua de sinais podem contribuir conosco compartilhando experiências e metodologias, através da realização de palestras, workshops etc.

Pergunta 7: Na sua opinião, qual a importância de um profissional da psicologia saber se comunicar em LIBRAS? Qual a diferença de um paciente surdo que se comunica através da língua de sinais diretamente com o psicólogo daquele atendimento que é feito através de intérprete?
Resposta: Acredito que a LIBRAS é fundamental para o acompanhamento terapêutico do surdo. A questão do setting terapêutico, do sigilo e ética profissional, até mesmo o vínculo que se estabelece com o terapeuta fica comprometido quando há a necessidade do intérprete, mesmo que esse intérprete seja uma pessoa de confiança do surdo. Acredito que seja fundamental para o êxito do acompanhamento essa comunicação cliente-terapeuta, o cliente precisa se sentir “compreendido” em diferentes sentidos pelo terapeuta, e a primeira forma de se compreender alguém é compartilhando da língua com que essa pessoa se comunica. Sinto que as famílias também passam a confiar mais no meu trabalho quando percebem que posso me comunicar com o surdo sem precisar do intermédio de outra pessoa. É um momento muito íntimo na maioria das vezes, e se o surdo encontra alguém disposto a atendê-lo em sua língua, disposto a aprender com ele para poder compreender suas dificuldades, acredito que se sinta mais motivado e envolvido com o atendimento oferecido. Na minha opinião, atender o surdo em LIBRAS é respeitá-lo como sujeito surdo, como falante de outra língua e, a partir daí, é possível que ele te respeite também como profissional e que o processo caminhe em parceria.

Pergunta 8: Você é uma profissional em constante aperfeiçoamento. Qual a diferença que essa busca faz em seu trabalho?
Resposta: O aprofundamento teórico faz parte dos bastidores dessa atuação: a prática, sem o devido respaldo teórico, não se sustenta. Atualmente, estou cursando uma nova graduação, a de Pedagogia, motivada pela experiência com professores que trabalharam com crianças surdas e ouvintes na mesma sala de aula e relataram as imensas dificuldades em se relacionar com seus alunos surdos, bem como em desenvolver uma metodologia de ensino que contemplasse suas necessidades ou de desenvolver avaliações que pudessem balizar o processo de ensino. Também estou cursando pós-graduação lato sensu em LIBRAS e Educação de Surdos, para me aprofundar, entre outras questões, na língua do surdo. A LIBRAS está em constante movimento, é uma língua viva, uma língua que pertence a um grupo cultural, e acredito que seja necessária busca constante para acompanhar todas essas dinâmicas alterações e garantir um trabalho de qualidade.

Pergunta 9: Como os demais profissionais de sua área vêem o seu trabalho?
Resposta: Acredito que muitos psicólogos se debrucem em questões teóricas relacionadas a aspectos de aquisição de língua, desenvolvimento de linguagem e sua relação com o desenvolvimento cognitivo, porém não especificamente no caso da língua de sinais. Acredito também que muitos psicólogos, como eu durante a graduação, nunca tenham “olhado” para os surdos e suas necessidades, por isso encarem, em um primeiro momento, a minha atuação como “curiosa”. Penso que com a obrigatoriedade da LIBRAS na grade curricular dos cursos de licenciatura, mais psicólogos se sensibilizem com a atuação na área já durante a graduação.

Pergunta 10: Em fevereiro você teve a oportunidade de, juntamente com a pedagoga do Instituto Phala, apresentar em Cuba o trabalho realizado pelo Instituto, na Associação Nacional dos Surdos de Cuba. Como surgiu esse convite? Como foi a receptividade e o contato com uma cultura surda de outro país? (se quiser pode mandar fotos, materiais referentes, etc).
Resposta: Inicialmente havíamos inscrito o trabalho para um evento internacional que aconteceria em Cuba no ano passado, mas que teve que ser cancelado. Como nosso trabalho já havia sido aceito e nós manifestamos o interesse de participar mesmo sendo em um evento menor, fomos convidadas a apresentar o trabalho que desenvolvemos no Instituto Phala na Associação Nacional dos Surdos de Cuba. Fomos muito bem recebidas pela Associação e pudemos assistir aulas de língua de sinais cubana, ministradas por instrutores surdos. Também conhecemos outros profissionais que atuam com os surdos e com a formação dos intérpretes de língua de sinais e instrutores surdos de lá, como psicólogos e pedagogos. Percebemos como eles são cuidados em relação à formação cultural do intérprete, responsável por realizar todo esse intercâmbio cultural entre a cultura ouvinte e surda. Em Cuba eles ainda estão em processo de digitalização de materiais, sendo que a maioria dos materiais utilizados ainda são impressos. Como o acesso ao computador e à internet é bastante restrito, os recursos utilizados no Brasil, lá ainda estão em fase de implementação, adaptação e desenvolvimento (materiais digitais e o sistema de closed caption, por exemplo).

Pergunta 11: Pensando no trabalho que você desenvolve, envolvendo atendimento a pessoas com necessidades especiais, surdez, línguas de sinais, psicologia, inclusão, que bibliografias (artigos, livros) ou demais materiais (vídeos, filmes, sites) você recomenda para aqueles que se interessam nessas áreas?
Resposta: Acho importante, para quem quer entender um pouco sobre a identidade e a cultura surda, entender sobre o processo histórico da surdez. O livro “Vendo Vozes”, do Oliver Sacks (editora Companhia das Letras), pode ajudar nesse sentido e também traz outras referências. “A surdez-um olhar sobre as diferenças”, de Carlos Skliar (org. –Editora Mediação) também contribui com discussões importantes. Na minha atuação com crianças, tive o respaldo dos livros “A criança surda”, de Márcia Goldfeld e “Como brincam as crianças surdas”, de Daniele Nunes Henrique Silva, ambos da editora Plexus. Especificamente na área de Psicologia, atualmente, tenho estudado autores como Vygostky, Luria e Piaget, para entender como desenvolveram suas teorias sobre as bases psicológicas da aprendizagem e do desenvolvimento. Os filmes “Mr. Holland – Adorável Professor”, “...e o seu nome é Jonas”, e “Nell” trazem discussões interessantes, bem como o documentário “Som e Fúria”.

Pergunta 12: Como nossos leitores podem obter mais informações sobre o Instituto Phala? (e-mail, site, endereço, telefone, etc...)
Resposta: O Instituto Phala está localizado na cidade de Itatiba, interior do estado de São Paulo, e pode ser contatado pelo telefone (11) 4538 2799 ou pelos e-mails institutophala@gmail.com ou contato@institutophala.com.br . Os interessados podem conhecer melhor a Instituição e nossas ações através do site http://www.institutophala.com.br/

Pergunta 13: Como os interessados podem entrar em contato com você?
Resposta: Através dos contatos do Instituto Phala ou através de meu e-mail pessoal cabello.jana@gmail.com . Terei o maior prazer em conhecer novos profissionais, familiares, surdos, enfim, pessoas que queiram contribuir com a minha atuação!

Por favor, deixe uma mensagem para os leitores do Blog Vendo Vozes...
Mensagem: Em primeiro lugar, gostaria de agradecer muito pela oportunidade de falar um pouco sobre a minha atuação e sobre a Instituição onde trabalho. É um imenso prazer e também uma grande responsabilidade poder dar um depoimento falando sobre minha atuação. Ainda tenho importantes passos a dar e muitas coisas para aprender. Sinto-me tateando um universo ainda desconhecido, imenso. Questiono-me se não sou inconseqüente em alguns momentos de me aventurar nesse universo sem ter o conhecimento necessário para tal. Mas nesses momentos em que minha prática se “apequeniza” diante dos desafios, os surdos com quem convivo e os outros que tenho conhecido nessa jornada me fazem acreditar que minha prática é possível e pertinente. Com certeza, tudo o que penso e sei sobre surdez, surdos, língua de sinais, é fruto da convivência com eles e da imensa paciência que todos eles têm em compartilhar comigo sua cultura, língua e amizade. Portanto, gostaria de aproveitar para agradecer a todos os surdos e profissionais que têm me acompanhado. Também gostaria de aproveitar para convidar os psicólogos a conhecerem melhor os surdos e as possibilidades (maravilhosas) de atuação com eles.
Obrigada!

Muito obrigada, Janaina, pelo seu tempo e atenção conosco. É uma grande alegria poder divulgar seu trabalho e contar com sua colaboração em nosso Blog Vendo Vozes.
Atenciosamente,Vanessa Dagostim Pires.

Na foto abaixo, alunos surdos com o instrutor Leonel, no centro. (Associação Nacional de Surdos de Cuba)

Na foto abaixo, alunos surdos em curso de língua de sinais em Cuba - Instrutora Leonor
Baixe a entrevista em pdf. CLIQUE AQUI

27 de out. de 2008

Entrevista exclusiva: Antônio Campos de Abreu



Olá Pessoal!
Temos a honra de divulgar uma entrevista que realizamos com Antônio Campos de Abreu, mais um exemplo de luta para todos nós, surdos e ouvintes!


Antônio Campos de Abreu é mineiro, Assistente Administrativo da USIMINAS e formado em História pela UNIVERSO em 2007. Casado com Rita de Cássia é pai de três filhos, e é atuante na FENEIS e Associações de Surdos.


Pergunta 1: O que causou a sua surdez?
Antônio: Eu nasci surdo profundo. Minha surdez é devido à genética de meus pais que eram primos. Temos vários casos de surdez na família.

Pergunta 2: Como foi sua descoberta sobre a surdez e o primeiro contato com a Língua de Sinais?
Antônio: Na minha família minha irmã nasceu surda, meu avô, etc. Então quando nasci minha mãe tinha dúvida se eu seria surdo ou não. Minha mãe tem um primo médico Dr. Amador Álvares, que me examinou em seu consultório e constatou minha surdez. Ele acendia e apagava a luz e meu reflexo era totalmente visual. Minha família já sabia sobre a língua natural dos surdos, pois meu primo Ernani Álvares Silva e Abreu é surdo e estudou no INES, no Rio de Janeiro. Comunicávamos através da língua natural e sinalizada.

Pergunta 3: Você estudou em escolas especiais para surdos e depois, na Universidade, no sistema de inclusão. Pela sua experiência, quais foram as vantagens e desvantagens dessas duas modalidades de ensino (Especial e Inclusão)?
Antônio: Eu tinha 11 anos - 1967 a 1973 quando comecei a estudar no INES, Rio de Janeiro. Quando retornei a Belo Horizonte eu estudei num colégio São Vicente onde tinha único surdo e ouvinte no Ensino Médio. Parei por um tempo os estudos e quando retornei fiz supletivo com a presença de intérprete e terminei o Ensino Fundamental.
Com o tempo vi a necessidade de continuar os estudos e fui aprovado no vestibular na Universidade Salgado de Oliveira - UNIVERSO para o curso de História. Na faculdade tinha a presença de intérprete onde a comunicação era importante. Havia troca de informações, experiências, etc. Antes, a escola comum não tinha intérprete e/ou professores que sabiam Língua de Sinais e conseqüentemente a comunicação entre aluno surdo e professor era muito difícil. Tive que lutar arduamente no passado para chegar onde cheguei. Hoje, é mais fácil em relação ao passado. A tecnologia tem nos beneficiado muito. A educação dos surdos, por causa da comunicação, era muito difícil antigamente.

Pergunta 4: O que o motivou a cursar História?
Antônio: Escolhi o curso de História por causa da história dos surdos e sua luta através das associações de surdos e movimento dos surdos. No curso tive a oportunidade de comparar os diversos contextos na História dos surdos e ouvintes. Muita coisa é parecida. Infelizmente muitos documentos da história dos surdos foram perdidos, mas ainda encontramos documentos em preservação contando a trajetória da comunidade surda. Quando visitei a Universidade de Gallaudet, nos EUA, pude ver os registros e documentação da história dos surdos e fiquei muito interessado. Retornando ao Brasil busquei mais informações da história dos surdos no Instituto Nacional de Educação de Surdos em Rio - INES, e encontrei vários registros antigos de surdos, história, lutas, conquistas, etc. Meu sonho é trabalhar no INES, mas moro em Belo Horizonte...

Pergunta 5: Que dificuldades você sofreu na Universidade ou no mercado de trabalho? Sofreu preconceito por ser surdo?
Antônio: Não tive problemas, apenas os professores ficavam apavorados e surpresos com um surdo na sala de aula da faculdade UNIVERSO! Mas com o tempo todos se acostumaram e os professores sempre me respeitaram como pessoa, como surdo e não tive problemas. Apesar da minha experiência, sinto por outros surdos que têm dificuldade e não é respeitado. Isso depende da faculdade também... Quanto ao mercado de trabalho, estou a 30 anos trabalhando na USIMINAS. Não tive problemas de relacionamento ou comunicação. Acredito que o principal é a qualidade da empresa e sua integração com os funcionários. Minha auto-estima é boa e sinto-me seguro na interação com os colegas de trabalho. No geral, resumo que a sociedade precisa conhecer a cultura surda e perceber que o surdo é capaz sim de estudar, trabalhar e participar ativamente da comunidade onde está inserido.

Pergunta 6: O que você aconselha para surdos que estejam com dificuldades de ingressarem no mercado de trabalho ou em uma universidade?
Antônio: Aconselho a observar o exemplo dos surdos que são líderes e diretores de instituições e organizações. O INES, por exemplo, tem professores e inspetores que são surdos. O Monsenhor Vicente, juntamente com a Associação dos Surdos ensinaram-me que o surdo é capaz e pode exercer diversas funções no mercado de trabalho. Assim fui para os Estados Unidos na Universidade Gallaudet, fazer um curso de capacitação de liderança, onde encontrei o Dr. Yerher Andresson, sociólogo, que ensinou-me sobre a importância da organização e explicou-me o sentido da palavra “PODER SURDOS”
“SE SURDOS “. Aprendi a importância da Associação dos Surdos e da Federação dos Surdos, como meio de influenciar a comunidade surda, trazendo a consciência do surdo como pessoa que estuda e trabalha e como cidadão, buscando seus direitos e melhoria de vida. A primeira faculdade a abraçar a causa da comunidade surda na educação foi no Sul, em Porto Alegre através da ULBRA e da Escola Concórdia. Tive a oportunidade de visitá-la e participar de palestra que ensinava que os surdos precisavam se organizar e fazer movimento dos surdos. Pensando na melhoria de vida para os surdos, fundei a FENEIS – Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos. A FENEIS faz convênios com empresas e organizações e a sua primeira parceria foi com a DATAPREV. Para uma boa comunicação no ambiente de trabalho, os surdos precisavam de intérprete e assim caminhamos até que o Governo Federal através da CONADE ,CORDE e MEC/SEESP tiveram abertura para defender a causa dos surdos. Nossa luta no início não foi fácil. Os surdos tiveram que lutar por leis e decretos que dão acessibilidade. A FENEIS é uma peça fundamental nestas conquistas, pois foi pioneira no mercado de trabalho para surdos. Hoje vemos os frutos, mas ainda não terminou: lutamos ainda pelos direitos profissionais dos surdos, pela falta de orientação da família que tem surdos, etc. Muitos surdos aprenderam sobre educação, política, história, perspectiva de vida, dentro das associações e na FENEIS, onde os líderes surdos ensinam e orientam vários surdos através de palestras e reuniões.

Pergunta 7: Na sua opinião, o que falta para que mais surdos cursem o ensino superior?
Antônio: Esse é o nosso objetivo! Muitas faculdades ainda não estão preparadas ou não querem aceitar os surdos. Temos o exemplo da UFSC que está extraordinariamente levando os surdos à Pós-Graduação e até o Doutorado. Temos poucas faculdades que se interessam. O Brasil precisa pensar na acessibilidade dos surdos e fazer valer as leis. Nosso objetivo é que os surdos tenham a oportunidade de chegarem ao curso superior através de Universidade Federal.

Pergunta 8: No curso de História, você pode estudar mais sobre a história da Surdez e dos Surdos? Sua visão sobre isso mudou depois da faculdade?
Antônio: Antes da faculdade eu tinha muitos materiais e documentos sobre os Surdos e não sabia como fazer para preservar este “patrimônio”. Quando comecei a estudar História comecei a entender e a fazer comparação entre o passado da nossa história e o passado da história dos surdos. Percebi que assim como a política era influenciada no passado pela religião, também os surdos eram influenciados a não utilizarem as mãos, por causa do incentivo da fala, da tradição. Comecei a comparar fatos e a percebê-los em seus respectivos contextos. A faculdade foi muito importante pra mim, pois abriu um leque de informações sobre diversos fatores que influenciam uma sociedade, entre elas, a sociedade surda.

Pergunta 9: Você fez trabalho de conclusão de curso (ou monografia)? Sobre qual tema?
Antônio: Eu fiz e refiz 7 vezes. Era reprovado sempre pelos professores por causa da bibliografia. Meu sonho era apresentar o título: Surdos-Mudos, por causa da história dos surdos que eram considerados mudos, do contexto da época passada, etc. Não consegui documentar muitos autores e livros, pois a maioria eram estrangeiros, em inglês, difícil de traduzir e então resolvi mudar o título para: Surdos – Uma Abordagem Brasileira, Historiográfica e Cultural. Fiz resumo básico, mas tive dificuldade com a leitura de vários livros e autores.

Pergunta 10: Que livros que foram importantes em sua vida você recomenda para os visitantes do Blog?
Antônio: O primeiro livro que li foi “Até onde vai O SURDO” O autor é surdo, Jorge Sérgio L. Guimarães, Rio de Janeiro - 1961. Fiquei admirado com a história do Universitário que era surdo e estudou universidade, mas Porque não fazer o serviço Militar?. Eu gostei muito e também de outros livros como “O Vôo da Gaivota” e outros 66 livros sobre surdo que tenho em casa! Agora por último li o livro da Sra. Karin Strobel, surda, com o título “As imagens do outro sobre a Cultura Surda”. Este eu indico porque mostra a sociedade surda, seus valores e sua identidade. Também reflete quanto à forma da sociedade vê o sujeito surdo. É uma boa leitura.

Pergunta 11: Que tipo de serviços você presta na FENEIS e nas Associações de surdos?
Antônio: Fui presidente da FENEIS e participei de diversas Associações dos Surdos e Federação Desportiva dos Surdos, Confederação Brasileira Desportivo de Surdos e membro –Board WFD – Federação Mundial de Surdos. Atualmente sou Diretor Financeiro da FENEIS Minas Gerais. Aqueles que desejam conhecer melhor nosso trabalho, podem visitar o site da FENEIS: http://www.feneis.org.br/ e procurar o Relatório Anual de 1987 à 2007.

Pergunta 12: Quais são seus planos para 2009?
Antônio: Continuar fomentando o trabalho dos surdos, sua língua, sua identidade. Pretendemos organizar Seminário, Congressos, passeatas dos Surdos comemorando o Dia dos Surdos e Dia da LIBRAS (abril/setembro). Promoveremos Debates, Seminários sobre o “SER SURDO” e participar da Conferência Internacional de História dos Surdos, que acontecerá na Suécia. Temos muitos planos para 2008! Estamos avaliando as propostas e organizando os projetos!

Pergunta 13: Como os interessados podem entrar em contato com você?
Antônio: Através de e-mail:
feneis@terra.com.br
alemaolibras@yahoo.com.br
abreulibras@hotmail.com
e por FAX: (31) 3225-0088

Por favor, deixe uma mensagem para os leitores do Blog Vendo Vozes....
Parabenizo a iniciativa do Vendo Vozes que através do Blog abriu espaço para divulgarmos e informarmos aos leitores um pouco mais sobre nossa cultura surda. Para aqueles que desejam aprofundar no assunto, ou conhecer melhor o mundo dos surdos, não deixem de entrar em contanto enviando e-mails. Fico feliz em saber que um número cada vez maior de pessoas tem buscado informações sobre a pessoa surda, sobre a LIBRAS. Desejo a todos uma boa leitura! Antônio Campos de Abreu



Abaixo, algumas fotos de Antônio e sua linda família!

Obrigada, Antônio, pela atenção e por ser um grande exemplo pra todos!

Se você quiser sugerir alguém para ser entrevistado pelo Blog, ou gostaria de participar, escreva abaixo em "comentários". Abraço a todos e ótima semana! Vanessa

25 de jan. de 2008

Entrevista exclusiva: Shirley Vilhalva


É com grande prazer que publico uma entrevista excluiva do Blog Vendo Vozes à Shirley Vilhalva. Ela é surda, formada em Pedagogia, com Pós graduação em Metodologia de Ensino e cursa Mestrado em Lingüística na UFSC onde tem o projeto Índio Surdo. Foi diretora de Escola Estadual de Surdos - CEADA, segunda vice presidente da FENEIS e Conselheira do CONADE. Atualmente, atua como Professora Tutora do Pólo UFSC.

Pergunta: Onde você nasceu e como foi sua infância?

Shirley: Eu nasci em Campo Grande – Mato Grosso do Sul, no meu olhar hoje, digo que, minha infância foi cheia de descobertas e desafios cotidianos, mais uma aventura lingüística do que social. Como criança convivendo com três línguas em casa sem saber quais línguas era me fez apenas ver a diferença através da articulação de quem falava. Posso dizer que tive uma infância disciplinada e com muita dedicação familiar para que pudesse atravessar a trajetória da vida com mais motivação ao encontro com os outros num mundo desconhecido.

Pergunta: O que motivou a sua surdez?

Shirley: Minha surdez é hereditária. Em grau de surdez poderia dizer que minha surdez é neurossensorial, bilateral, severa e profunda. Tenho nove familiares surdos entre primos.

Pergunta: Como foi sua educação? Em que tipo de escola estudou?

Shirley: Minha educação iniciou com professor particular e seguiu por muito tempo numa sistemática de aprendizagem da língua escrita, a minha professora deu ênfase mais na escrita sem cobrança da fala, alguns relatos comentei em meu livro que demorava entender o conceito das coisas. Estudei em escola regular e sempre tive apoio de minha irmã Ângela (hoje ela é mãe de surdo) na sala de aula como se fosse minha intérprete, só que era em leitura de palavras faladas, a conhecida leitura labial. Ela me colocava a par de tudo que estava acontecendo na sala. Hoje comparo com o trabalho do intérprete da Libras.
Relato que mesmo estudando em escola regular, meu sonho sempre foi estudar em escola de surdo, onde eu não seria surda porque estaria com meus pares, os surdos iguais a mim.
Só consegui ir para uma escola de surdo quando fui aceita como estagiária do magistério. Foi uma realização, nasci neste momento e comecei nova vida.

Pergunta: Como foi sua descoberta sobre a surdez e o primeiro contato com a Língua de Sinais?

Shirley: A suspeita de minha surdez foi indicada pela minha tia Carmem que é professora e hoje tem um neto surdo. A descoberta não posso te falar muito, pois estava no “chiqueirinho” e não recordo da situação de como foi o impacto. A busca eterna da cura posso dizer que é desgastante, pois a família sofre em buscando nas igrejas, nas curandeiras, nas benzedeiras, nas promessas, nos médicos, nas vizinhanças e ainda por cima uma choradeira que não acaba mais, quando chegava visita e tinha que explicar que eu não falava e nem ouvia...um tal de coitadinha daqui e dali, coisas que hoje vejo que continuam ainda em outros lares.

Pergunta: Como surgiu a idéia de publicar o livro “Despertar do Silêncio”, e como foi a criação dele?

Shirley: A idéia de publicar o livro foi realmente deixar registrado uma fase de minha vida que estava encerrando. Busquei em meu diário o que gostaria que as pessoas soubessem e mostrei também que já tinha novas metas para seguir. Escrevi o livro quando deixei a direção da escola de surdos em Campo Grande e fui trabalhar como Técnica Pedagógica na Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso do Sul. Terminando uma trajetória como diretora de escola de surdos e segui para o Projeto índio Surdo o qual estou buscando contato desde 1991 visitando aldeias indígenas como você conferiu na página 44 do livro no site da editora Arara Azul (http://www.editora-arara-azul.com.br/pdf/livro1.pdf)

Pergunta: Como decidiu se tornar professora?

Shirley: Vem de longa data, pois sempre tive um sonho de ser professora de surdos, sempre quis ser palestrante e também almejava que um dia pudesse ser escritora e pesquisadora, sucessivamente. Digo aos meus alunos e alunas que sou A PROFESSORA, com muito orgulho, pois acredito que o professor e professora são considerado(a)s como um nobre guerreiro que tem mais influência que um político na vida das pessoas que passam pelo menos 200 dias letivos em contato direto. Eu tive excelentes professores que hoje são meus colegas de trabalho e tenho honra de dizer o que cada um me motivou, sim tem as dificuldades, mas são menores quando temos um nobre professor ou professora fazendo o alicerce em nossa vida.

Pergunta: Como foi o ingresso na Universidade? Quais as principais dificuldades que encontrou nesse período?

Shirley: Fiz vários vestibulares, pois não tinha intérpretes na época e nem Letras Libras como temos hoje. Dei muito trabalho para os professores e tivemos que negociar com o grupo de colegas que não era possível muita troca porque dificultava a minha compreensão, tive um único grupo e por incrível que pareça éramos apoio um para o outro. Eu sempre fui copista e na faculdade era assim também, pois não dava tempo de ler a boca do professor e escrever o que ele ditava. Então enquanto a colega ouvia e escrevia eu copiava simultaneamente e somente depois procurava ler para entender o que se referia o assunto em parte. Foi nesta época que iniciei os Cursos de Libras dentro da Faculdade que hoje é a UCBD.

Pergunta: Em sua opinião como professora, qual a importância dos professores surdos nas escolas especiais para surdos?

Shirley: É muito importante, como eu não tinha professor surdo e era a professora dos alunos surdos sentia muita falta, adquiri isso quando fui participar na CBDS e na FENEIS encontrei apoio e incentivo de surdos líderes como Antonio Campos, como falo a língua portuguesa isso às vezes era um entrave na comunicação e aceitação em 1986. Hoje os surdos mais politizados têm aceitado melhor os surdos falantes da língua portuguesa oral.

Pergunta: Sendo do MS, como você decidiu ir para a UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina)?

Shirley: Eu tentei mestrado na UFMS e não fui aprovada, escrevi ao MEC quais eram meus direitos por ser a única pessoa surda da seleção e recorrer, o MEC respondeu não tem amparo legal, faça as provas na UFSC que está mais habilitada em atender os mestrando e doutorandos surdos neste momento. Dando esperança que outras universidades abrissem as portas também, como aconteceu na UFBA. Não somente essas universidades abriram as portas, mas estou referindo de minha trajetória.

Pergunta: Como é seu projeto de mestrado em Lingüística Aplicada na UFSC, já existem alguns resultados de sua pesquisa que possam ser compartilhados conosco?

Shirley: Estou trabalhando com direcionamento para o mapeamento das línguas de sinais emergentes das comunidades/reservas indígenas do Mato Grosso do Sul, não é um assunto muito fácil, pois estou conquistando espaço e lideranças para poder ter mais acesso nas escolas indígenas e nas comunidades. O que posso dizer que inicialmente eu tinha uma idéia que você poderá acompanhar através do anexo da revista RVCSD (http://www.editora-arara-azul.com.br/revista/01/compar5.php). Ainda não tenho resultado como gostaria. Tenho vários caminhos a percorrer.

Pergunta: Como surgiu seu interesse pelos surdos indígenas (ou indígenas surdos)?

Shirley: Posso dizer que em 1987 via o Antonio Campos hoje Professor formado em História fazer palestra em Libras e aparecia nas transparências: Onde estão os Índios Surdos?
Nessa época eu não levava a sério, em 1991 veio a oportunidade de conhecer os Xavantes em Mato Grosso junto com outra militante surda e escritora, a Ronise Conceição de Oliveira e em 2002 em uma reunião da Feneis em Belo Horizonte que estávamos tratando sobre implantação o CAS, Antonio Campos apontou e disse: Chegou a sua hora, você está na Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso do Sul coloque em prática o Projeto Índio Surdos sem demora. Assim voltei e comecei ir para o interior conquistar as secretarias municipais, já que estas que têm acesso nas comunidades indígenas onde ficam as escolas indígenas e tem carro para nos levar já que às vezes é de difícil acesso. Tudo foi uma negociação. Ir para aldeia de dia e à noite dar palestra para professores sobre Educação de Surdos, Libras, Orientações Familiares em contrapartida, na verdade eu fazia qualquer negócio no sentido de poder ir para as aldeias. No Acre tive apoio da Helena Sperotto do CAS/AC e sua equipe buscando apoio com a Secretaria Estadual de Educação do Acre quanto ao táxi aéreo, carro e barco. Sobre como vamos denominar os índios surdos ou os surdos indígenas ou indígenas surdos, isso só vamos saber depois da Roda de Conversa que teremos como um primeiro encontro de índios surdos em Dourados previsto para este ano. Na verdade Índios têm uma etnia, agora pensando em uma posição de ser surdos, tem alguns colegas que dizem, por exemplo, Surdo + a etnia por exemplo: Surdo Guarani, Surdo Terena, Surdo Kadwéu, Surdo Kaxinawá e outros dizem como você disse acima, como eu disse apenas alguns exemplos. Esse é um comentário que vamos colocar em discusão com as autoridades que são os próprios índios surdos em encontro previsto em Dourados – MS.

Pergunta: Para aqueles que querem desenvolver estudos na área de Estudos Surdos, Línguas de Sinais, Educação de surdos, quais conselhos você daria? Quais áreas são promissoras para a pesquisa atualmente?

Shirley: Minha mensagem é: Todas as áreas são promissoras, desde que veja no ponto de necessidade de quem espera. Digo que os surdos esperam, os ouvintes esperam, os índios esperam, os surdocegos esperam e os demais deficientes esperam, esperam o que? Esperam a educação de qualidade, bom atendimento na saúde, abrangência no mercado de trabalho e de modo geral que haja acessibilidade em todas as áreas. O surdo é um novo surdo depois da Lei 10.436/2002, mais pensante no sentido de estar mais atuante depois do Decreto 5.626/2005, não continue pensando que os surdos continuarão os mesmos que a geração passada, que passaram pelos profissionais ouvintes fora da tecnologia. Começando por aí podemos pensar que o campo promissor hoje é a área da educação de surdos, da tecnologia, a educação a distancia, a lingüística que vem com futuros profissionais que sairão formados pelo Letras Libras. Os profissionais surdos e ouvintes agora poderão dizer, estaremos falando na mesma língua. Isso é se forem professores de Libras, mesmo que a prioridade seja para os profissionais surdos, pois se trata de ensino de uma língua e não de quem ouve mais ou ouve menos, a Libras é visual, não importa os ouvidos. Na minha percepção, aponta para muitos ganhos tanto para os surdos como para os ouvintes, o que será necessário é ter uma boa articulação e interação de ambas as partes. O mesmo que acontece na área indígena, se não houver uma boa negociação política os dois perdem, perdem tempo, perdem vida e fazem muitos esperarem.

Pergunta: Que bibliografia básica você indica para quem se interessa pelo tema?

Shirley: Eu indico para inicío de conversa os links:
Para quem atua com surdos:
Dificuldade de Comunicação e Sinalização – Surdez
http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/surdez.pdf

Livros da Editora Arara Azul que são gratuitos e disponíveis na internet:

http://www.editora-arara-azul.com.br/EstudosSurdos.php
http://www.editora-arara-azul.com.br/Livros.php

E ainda para quem quer comparar o desempenho do educador que atuou antes da Lei 10.436/2002 e o Decreto 5626/2005 os livros do INES é uma boa pedida para rir do que já fizemos, não digo que tudo será descartado tem muitas coisas que ainda estão no processo, veja em:
www.ines.org.br – livros digitalizados e para quem atua com surdocegos
Dificuldade de Comunicação e Sinalização – Surdocegueira/Múltipla Deficiência Sensorial
http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/surdosegueira.pdf

Obs: caso não consiga pelo link direto coloque na barra.

Pergunta: Quais seus planos pra 2008?

Shirley: Meus planos são visitar mais aldeias e conversar com as lideranças indígenas para autorizarem a atuação do Projeto Índio Surdo em sua escola indígena com objetivo de mapeamento das línguas de sinais emergentes das comunidades/reservas indígenas. Lembrando que temos um trabalho brilhante de Marisa Giroletti com os surdos Kaingang de Xanxerê aqui em Santa Catarina. Boa dica para os novos pesquisadores.

Pergunta: Como os interessados podem entrar em contato com você e com seus trabalhos publicados?

Shirley: Poderão entrar em contato pelos meus e-mails:
Shivi323@hotmail.com e svilhalva@yahoo.com.br

Segue meu último artigo: “Quais são as produções acadêmicas sobre índios surdos no Brasil?
http://www.cfh.ufsc.br/abho4sul/pdf/Shirley%20Vilhalva.pdf 24/01/2008

Pergunta: Por favor, deixe uma mensagem para os leitores do Blog Vendo Vozes.

Shirley: Deixo aqui que retirei de meu livreto de mensagens que me ajudaram no meu dia a dia que ainda não foi publicado estas singelas palavras para o Blog Vendo Vozes:
“Mesmo que você não queira liderar algo, saiba ensinar aquele que deseja. Não tema a concorrência, olhe para o céu e veja se tem um lugarzinho ainda para você no meio das estrelas. Viu quanto espaço você tem? Sucessos!”(Shirley Vilhalva)


Links relacionados:
Currículo Lattes de Shirley Vilhalva
Editora Arara Azul
Para baixar a entrevista em arquivo PDF clique aqui!!!

O que você achou da entrevista? Quem você gostaria que fosse entrevistado por esse blog? Comente no link "comentários" logo abaixo.
Abraços,
Vanessa.