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16 de jun. de 2013

10 obras literárias sobre diferenças (Parte 2)

Olá queridos leitores,

Conforme prometido aqui, hoje publicaremos a segunda parte da lista das 10 obras literárias que selecionamos, que tratam, com qualidade, de assuntos como deficiência e diferenças, e podem ser utilizadas em salas de aula, com seus filhos, ou simplesmente para aumentar seu repertório de boas leituras.
A primeira parte da lista com as 5 primeiras obras podem ser encontradas clicando aqui.
Segue a segunda parte:

6. Pollyanna (autora: Eleonor H. Porter | Editora: Várias)
Pollyana é a clássica história que várias gerações (incluindo a minha) leram na infância. Escrita em 1913 e considerado um clássico da literatura infanto-juvenil, a obra teve sua primeira tradução para o português brasileiro feita por Monteiro Lobato. Atualmente é possível encontrarmos várias versões e traduções em diferentes editoras, como uma edição bilíngue (inglês/ português) da Editora do Brasil ou em uma coleção de bolso pela Saraiva.
A obra conta a história de uma menina que fica órfã aos 11 anos e vai viver com sua amarga tia Polly (em algumas versões, Paulina), e enfrenta muitas diversidades e resistências da tia. Para conseguir viver nesse ambiente, ela joga o "jogo do contente" que aprendeu com seu pai, que ensina que temos sempre que buscar enxergar o lado positivo das coisas, mesmo que pareçam ruins. Até que a menina tem um acidente de carro e fica sem o movimento das pernas...


7. Um amigo no escuro (autora: Marcia Kuptas | Editora: Moderna)
A história de "Um amigo no escuro" é tão tocante que já foi adaptada e encenada no teatro. Ela conta a história de uma menina de 13 anos que durante um blecaute na rede elétrica resolve passar o tempo fazendo uma roleta russa. Mas não se assustem, o livro não é sobre violência! A roleta russa que Luciana, a personagem faz, consiste em discar, nos teclados do telefone, um número aleatório e conversar com alguém desconhecido. A partir daí a história se desenrola de maneira interessante e surpreendente! Leitura indicada para o público juvenil. 







8. O voo da gaivota (autora: Emanuelle Laborit | Editora: Best Seller)
Já falei sobre este livro em post de 2007 (ver aqui) mas faz tanto tempo e o livro é tão bom, que não vi mal nenhum em repeti-lo em nossa lista. "O voo da gaivota" (agora sem o circunflexo no primeiro 'o') é uma autobiografia da atriz francesa surda Emanuelle Laborit. A atriz encenou a peça que deu origem ao  famoso filme "Filhos do silêncio", na França, e fala, no livro (que em Portugal se chama "O grito da gaivota") sobre a sua infância e o como se descobriu surda, à medida que foi crescendo. Um lindo depoimento sobre as suas primeiras experiências "sem sons", com o esforço de seus pais para educá-la, seu esforço pessoal para falar, e a descoberta da língua de sinais que mudou totalmente sua vida. O livro não é mais publicado pela editora, que foi incorporada pelo Grupo Editorial Record, mas ainda é possível encontrá-lo em grandes bibliotecas ou quem sabe em um sebo. Recomendo muito, principalmente para quem se interessa pelo tema da diferença, e estuda/pesquisa/trabalha com surdos. Atenção ao procurar o livro: existe outro com o mesmo título, mas a história não tem nada a ver. Observe a autoria!


9. Feliz Ano Velho  (autor: Marcelo Rubens Paiva| Editora: Best Seller)

O romance que conta a história do acidente que deixou Marcelo tetraplégico foi um best-seller na década de 80, virou filme, peça de teatro e marcou toda uma geração. Ainda hoje há quem não tenha lido ou não conheça a obra, narrada de maneira irreverente e tocante, principalmente os mais jovens. Além do acidente, o livro traz recordações da infância e juventude do período de ditadura militar brasileira, já que seu pai foi cassado e desapareceu quando ele tinha 11 anos de idade. O autor também  escreveu outros livros, peças de teatro, e atualmente é colunista de diversos meios de comunicação, entre eles do Estadão (clique aqui para acessar a coluna dele). Indicado para adultos.


10. O Filho eterno  (autor: Cristóvão Tezza| Editora: Record)
Lançado em 2007, o romance "O filho eterno" já foi publicado em Portugal, Itália, França, Espanha, Holanda e Austrália, e recebeu os mais importantes prêmios literários brasileiros. Este grande sucesso conta a história da chegada de Felipe, um filho com Síndrome de Down à vida de um jovem casal. A história é narrada em 3ª pessoa, mas conta as experiências do próprio escritor. Diferente dos outros livros indicados, é a história de um pai, suas expectativas, reações, tristezas e grandes descobertas.

Aproveitem a lista e comentem! Abraço,
Vanessa.

5 de jun. de 2013

10 obras literárias sobre diferenças (Parte 1)

Olá pessoal,

Hoje vou inaugurar a série de postagens que estou preparando de "10 coisas", ou seja, listas de 10 dicas sobre algum material ou assunto relacionado às diferenças, surdez, inclusão, enfim, assuntos que possuem relação com o blog. Escolhi "10 coisas" porque é um bom número para quem começar a conhecer esses materiais, ou para você que já conhece, verificar o que ainda falta, opinar, dar outras sugestões. Pode ser que seja a primeira e última postagem da série, hehehehe, vamos ver se vocês gostam e se eu consigo tempo para continuar!

Começo então com as "10 obras literárias sobre diferenças" que eu considero que sejam relevantes, estão publicadas em língua portuguesa, e são fáceis de ser encontradas em bibliotecas e livrarias (pelo menos a maioria delas). Também pensei em obras que podem ser facilmente lidas por alunos (pensando que muitos leitores são professores),  e gostariam de debater assuntos como a tolerância às diferenças com seus alunos, certo? Por isso algumas são destinadas ao público infantil, outras para o juvenil, e outras somente para adultos!

Acabei dividindo o post em 2 partes, porque ele ficou muito longo! Então hoje começaremos com a primeira parte das 10 obras.

1. Tibi e Joca (autora: Cláudia Bisol | Editora Mercado Aberto)

"Tibi e Joca" está no topo da lista por um simples motivo: de todos, é o meu preferido! O livro é lindo, simples e sensível, e conta a história de Tibi, um menino cujos pais o descobrem surdo, e vive toda a problemática da diferença, quando seus pais não sabem o que fazer e ele se vê perdido e sozinho, até encontrar Joca, que lhe apresenta à Língua de Sinais, e com ela, um novo mundo. O livro traz o texto em língua portuguesa e a tradução em Libras do Joca, em ilustração no canto da página, e pode ser lido por crianças (alfabetizadas ou não), surdas ou ouvintes, e por adultos também, é claro. Quem me conhece sabe o quão difícil é contar a história do livro sem chorar, porque ele me toca demais. Recomendadíssimo!

Exemplo de página do livro.


2. A ararinha do bico torto (autor: Walcyr Carrasco | Editora Ática)


Outro livro fofo da lista, "A ararinha do bico torto" é recomendado para crianças de 8 a 11 anos, e conta a história de um filhote de ararinha que, por ter nascido com o bico torto, não consegue se alimentar e é abandonado por seus pais na floresta, onde é encontrado por um fotógrafo e seu filho. Sensível, a história rende muita discussão com os pequenos leitores, e além de falar sobre o tema deficiência também ensina a cuidar da natureza. Com belíssimas ilustrações, a obra também está disponível em versão para tablets.





3.  Ímpar (autor: Marcelo Carneiro da Cunha | Editora Projeto)

"Ímpar" é um dos livros que conheci por intermédio de meus alunos do ensino fundamental, que leram e amaram a obra. De forma emocionante e na linguagem dos adolescentes, conta a história de um menino que perde o braço em um acidente e, ao conhecer outros jovens com deficiência, forma uma turma de amigos chamados "Galera Ímpar". O livro é narrado em primeira pessoa pelo personagem principal, e mostra o cotidiano de alguém que de repente, começa a viver a vida de uma outra maneira.


4. Estrelas tortas (autor: Walcyr Carrasco | Editora Moderna)

Este é outro livro que conheci por intermédio de meus alunos, e narra uma história semelhante ao enredo de "Ímpar". A diferença é que a personagem principal, que sofre um acidente e fica paraplégica é uma menina, e a história é contada por vários personagens, que dão diferentes versões e visões do acidente e do que ele representou na vida de todos.



5. Aleijado (autor: Luiz Antonio Aguiar | Editora   )


Com um título que choca, em um mundo "politicamente correto", o livro (outro legado de meus alunos) com o subtítulo supercriativo "Aventuras de um garotão em luta contra escadas, buracos e outras desconsiderações do mundo" foi indicado ao Prêmio Jabuti e conta a história de um jovem que sofre um acidente após pegar a moto de um amigo emprestada, sem habilitação para dirigir. O personagem principal narra a sua aventura, ao ter de enfrentar um mundo nada acessível em um cadeira de rodas, em primeira pessoa, a partir de sua difícil recuperação. Vale a pena!



O que acharam da primeira parte da lista? Em breve publicaremos a segunda parte. Fiquem ligados!
Vanessa

18 de out. de 2012

Era uma vez um Conto de Fadas Inclusivo

Olá queridos, tudo bem?

Eu, sempre na correria, imagino que vocês também estejam, né?
Nosso blog tem trazido, em algumas postagens, temas como acessibilidade cultural, literatura surda e inclusiva, audiodescrição. Hoje, seguindo por esta linha, quero falar do lançamento de uma coleção literária chamada "Era uma vez um Conto de Fadas Inclusivo", que faz uma releitura dos contos de fadas imaginando os personagens com alguma diferença.
Você pode conferir esse lançamento no dia 23/10, às 19h, na Casa de Cultura Mario Quintana, em Porto Alegre/RS, em uma exposição sobre a coleção, no mesmo local, até o dia 11/11, ou, durante a Feira do Livro, na Sessão de autógrafos, que será domingo, 28/10, às 19h.
Os títulos da coleção são:
Branca Cega de Neve, Chapeuzinho da Cadeirinha de Rodas Vermelha, Cinderela sem Pé, O Pequeno Polegar que não conseguia caminhar, Alice no País da Inclusão, A Bela Amolecida, Cócegas na Floresta: João e Maria, João sem Braços e o Pé de Feijão, Pinóquio das Muletinhas, Aladown e a Lâmpada Maravilhosa e O Segredo de Rapunzel.


Maiores informações sobre o lançamento, você encontra no blog da Mil Palavras - Acessibilidade Cultural.
Abraço,
Vanessa.



17 de out. de 2007

O Vôo da Gaivota

O vôo da Gaivota - Emanuelle Laborit

Emanuelle Laborit nasceu em 1972, na França. Foi a primeira filha de um jovem casal de estudantes de classe média, onde o pai estudava medicina (posteriormente vindo a ser um psiquiatra envolvido na luta pelos direitos dos Surdos) e sua mãe preparava-se para ser professora, porém interrompeu seus estudos para cuidar de Emanuelle. Surda de nascença, seus pais só tiveram a descoberta de sua condição aos nove meses de idade, e foram orientados pela equipe médica a não colocá-la em contato com outros surdos. Foi submetida, desde então, a tratamentos de ortofonistas, com oralização e uso de aparelhos auditivos, do qual só ouvia ruídos que não podia distinguir. Incluída em escola regular, somente aos 7 anos seu pai recebeu informações de surdos que utilizavam língua de sinais e conseguiram um bom desenvolvimento intelectual e comunicativo.
Emanuelle destacou-se por ser a primeira atriz surda a ganhar o prêmio Molière de teatro e também tornou-se a primeira francesa surda a escrever um livro. Mais do que sua própria e curta vida até então (já que ela o escreve com apenas 22 anos), o livro busca retratar a vida de uma pessoa Surda em um mundo que não está preparado para conviver com essa diferença:

Este livro é um presente da vida. Vai me permitir dizer aquilo que sempre silenciei, tanto aos surdos como aos ouvintes. É uma mensagem, um engajamento no combate relacionado com a linguagem de sinais, que separa ainda muitas pessoas. (Laborit, p.9)

Um dos motivos pelo qual o livro foi considerado por muitos uma ousadia, é pela dificuldade que os surdos têm com a língua escrita, tanto na leitura quanto na produção. A própria autora diz ter mais medo da escrita do que da fala, ainda que isso pareça estranho vindo de uma surda, mas fica registrada a dificuldade de lidar com a representação escrita de uma língua oral-auditiva, como o francês ou o português, por falantes nativos de línguas orais-espaciais, como a língua de sinais. Por isso, ela explica seu método de produção da obra: “Outras pessoas, mais curiosas, perguntaram como iria fazer. Escrever por conta própria? Contar o que gostaria de escrever a um ouvinte que traduziria meus sinais? Faço as duas coisas. Cada palavra escrita e cada palavra em sinais são irmãs.” (Laborit, p. 8) Assim, para a escrita do livro a autora contou com uma espécie de tradutora que a auxiliou, Marie-Thérèse Cuny, porém conservando seu estilo próprio, o que é observado ao longo da leitura.