Olá pessoal!
Foi lançada ontem uma programação preliminar dos colóquios do INPLA - Intercâmbio de Pesquisas em Linguística Aplicada, que ocorrerá em São Paulo no mês de junho.
Na quinta-feira, dia 27 de junho ocorrerá, das 17h às 19h o colóquio LIBRAS e o ensino bilíngue, com a participação de cinco palestrantes sobre o assunto:
- O Diagnóstico Precoce da Surdez - qual o lugar da linguagem?
Existe um período optimal para a aquisição da linguagem para qualquer indivíduo. Sabe-se que crianças apartadas de uma condição normal de aquisição de linguagem não desenvolverão linguagem de forma normal (RODRIGUES, 1991). Para que isso venha a acontecer é necessária uma relação afetiva num ambiente estimulador. Isso pode vir a não acontecer com bebês surdos que são diagnosticados muito cedo. As famílias podem perder a capacidade de se comunicar com o bebê porque elas acham que o bebê não escuta e que não os vai entender. O bebê precisa ser considerado como alguém que poderá desenvolver linguagem (BOUVET,1990). As funções neurológicas e psíquicas trabalham juntas e há um momento certo para o desenvolvimento da linguagem. Ninguém esperaria que crianças ouvintes sejam expostas tardiamente à linguagem por nenhuma razão. Mas, o diagnóstico precoce da surdez pode fazer com que isso aconteça porque quando a família descobre a surdez de seu filho ela pode parar de falar com ela. Com o diagnóstico precoce que é feito para que a estimulação auditiva comece o mais cedo possível (via aparelhos auditivos ou implantes cocleares) pode haver uma quebra no circuito de comunicação e se poderá privar a criança de
linguagem. Os especialistas argumentam que quanto mais cedo for feito o diagnóstico, mais normal será o desenvolvimento da criança (YOSHINAGA-ITANO, C, 1998). De forma a permitir um desenvolvimento ideal de linguagem oral que não se sabe se irá acontecer ou não os especialistas evitam que uma relação natural mãe/bebê possa vir a acontecer (MADILLO-BERNARD, 2007).
Pretendemos discutir o impacto do diagnóstico precoce no desenvolvimento de bebês surdos no que se refere à forma pela qual a família se dirige ao bebê recém nascido. Pretendemos discutir também o papel que a Libras poderia ter nesse momento do diagnóstico como algo que daria respostas para os pais e propiciaria um desenvolvimento real de linguagem ainda que não seja uma orientação feita aos pais.
- Monolingual teaching in a bilingual environment
Robert Johnson GALLAUDET UNIVERSITY
The notion of bilingualism has become quite popular in deaf education in recent years. Much of the discussion about the topic has become confused, particularly in the use of terminology. We must distinguish three terms. Bilingualism refers to situation in an institution or a country in which more than one language is in common use. Bilinguality refers the ability of a person to use more than one language. Obviously, although we are interested in having our institutions of education for deaf people be bilingual, we are more concerned with having teachers and students possessing acceptable levels of bilinguality. Establishing bilinguality among teachers is a pressing need in our schools, and although we have made substantial progress, we have far to go.
Establishing bilinguality in the student population is even more important and is subject to critical issues of timing and difficulties of presentation. It must be structured in such a way that it provides all students with early and full access to signed languages and to visually accessible forms of the national language. We must note that the approach to education for the deaf must be one of bilingual education - a set of principles that requires a robust bilingual environment and widespread bilinguality. This approach is commonly being referred to as “bilingualism,” but is an approach to education. From this perspective it does not make sense to talk about “bilingual teaching.” Teaching in a bilingual environment remains essentially monolingual. That is,
only one language is used at any one time. The challenge of bilingual education is to create a system of managing the use of the two languages in such a way that they do not become confused and that they contribute the best educational results for the students.
- Aquisição bilíngue intermodal: Libras e Português
Ronice Quadros UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
O objetivo deste trabalho é apresentar as pesquisas que estamos desenvolvendo com crianças ouvintes, filhas de pais surdos, adquirindo Libras e Português. Os dados deste estudo fazem parte de um banco de dados de interações espontâneas coletadas longitudinalmente, alternando contextos de aquisição da Libras como língua alvo e do Português como língua alvo. Além disso, os dados de um estudo experimental com testes aplicados tanto na Libras e no Português se agregam ao presente estudo. Uma visão geral dos estudos desenvolvidos sobre a aquisição bilíngue bimodal por crianças ouvintes, filhas de pais surdos, será apresentada e, então, estará sendo discutido alguns aspectos linguísticos deste tipo de aquisição. O foco estará nas produções simultâneas chamadas de “sobreposição de línguas”. Este tipo de produção é muito interessante, pois a criança produz as duas línguas simultaneamente, uma vez que as línguas utilizam diferentes articuladores. caracterizando a produção intermodal A partir das análises deste tipo de produção, propomos um modelo linguístico para dar conta deste tipo de evidência linguística empírica.
Basicamente, a idéia é de que a criança bilíngue bimodal computa um sistema linguístico no nível da sintaxe, mas com múltiplo descarregamento na interface fonológica, interligadas ao componente semântico e retomada nas interfaces do nível do discurso.
- A Disciplina Libras no Ensino Superior: constituição de novos discursos sobre a pessoa surdas nos cursos de formação de professores
Ana Claudia Lodi UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Érica de Azevedo Nogueira UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
A Língua Brasileira de Sinais (Libras) foi reconhecida como meio legal de expressão e comunicação das comunidades surdas brasileiras pela Lei nº10436/02, regulamentada pelo Decreto nº5626/05, legislação que garante o direito das pessoas surdas à educação bilíngue. O reconhecimento deste direito determinou que o ensino da Libras se tornasse obrigatório a todos os cursos superiores de formação de professores; no entanto, ainda não existem diretrizes sobre a carga horária e sobre os aspectos a serem contemplados nesta disciplina. Atualmente, as Instituições de Ensino Superior estão se adequando a esta exigência, considerando
que as Instituições tem um prazo de dez anos, após a publicação do Decreto, para a implantação da disciplina em cem por cento de seus cursos. Em 2010, a Universidade de São Paulo - campus Ribeirão Preto (USP-RP) ofereceu, pela primeira vez, a disciplina aos cursos de Licenciatura em Pedagogia, Ciências Biológicas, Química, Música e Psicologia, e esta teve como objetivo, além do ensino introdutório da Libras, constituir-se em um espaço de discussão sobre a realidade educacional inclusiva, possibilitando a reflexão dos discentes sobre sua responsabilidade social nos processos educacionais de surdos. Observa-se que as discussões realizadas na disciplina alteraram de forma significativa a visão dos alunos sobre a educação de surdos e seus discursos passaram a contemplar: a compreensão das especificidades lingüísticas das pessoas surdas; a necessidade formativa dos professores para atuar com este alunado; questões relativas à formação dos tradutores-intérpretes de Libras e sua presença em sala de aula dependendo no nível educacional dos alunos. Como decorrência, questionamentos e posicionamentos críticos sobre o modelo inclusivo foram assumidos. Este trabalho tem como objetivo discutir a transformação nos discursos dos alunos da USP-RP,
apontando alguns aspectos que podem auxiliar no traçar de diretrizes para a implantação e desenvolvimento desta disciplina nas Instituições de Ensino Superior.
- Inclusão Linguística: Ensino de Línguas, Educação Bilíngue e Questionamento da Linguagem
Sueli Salles Fidalgo UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO
Inserido no Grupo ILCAE de pesquisa (Inclusão Linguística em Cenários de Atividades Educacionais), este trabalho discute alguns pressupostos de uma inclusão possível. Para tanto, parte da noção de dialogismo (Bakhtin/Volochinov, 1929) como uma “arena de conflito” e dos conceitos de sentido, significado, mediação e zpd – como loci de contradições, negociações e ressignificação - (Vygotsky, 1924-1931) para pensar o questionamento da linguagem. Parte também da noção de modernidade líquida (Bauman, 2000) para discutir a “angustiante dramaticidade de se viver na ambivalência”. Com essa base, e tendo a inclusão como meta de debate, o trabalho abordará a diferenciação entre educação bilíngue e ensino de línguas, discutindo o espaço que ambos têm no país (em pesquisas, produção teórica e nas escolas). Abordará também a formação do professor de línguas para atuar em contextos nos quais a educação bilíngue seja enfatizada, discutindo a visão de bilingüismo predominante e o seu compromisso com uma perspectiva verdadeiramente inclusiva. Dessa forma, o primeiro ponto a se pensar talvez seja: o que é bilingüismo? Em outros países, muito se tem falado sobre o assunto – seja diretamente (Maxwell, 1977; Brisk, 1997), seja sobre questões relacionadas (ex: Krashen, 1985 e sua diferenciação entre aquisição e aprendizagem). Porém, em nosso país – embora multicultural e multilíngue -, ainda é pouco o que se tem pesquisado sobre o assunto. Talvez movidos por seus contextos de trabalho - escolas que começaram a oferecer outras línguas como um diferencial em um mercado altamente competitivo - alguns educadores buscam entender como um currículo bilíngue deveria se organizar). Porém, maioria dos estudos trata do currículo que tem uma língua dominante (o inglês, por exemplo) como alvo. Há muito pouco referente à relação entre o português como língua dominante e outras línguas (talvez subalternas, embora algumas sejam oficiais, como é o caso de LIBRAS) que aqui convivem.
A programação completa está disponível AQUI.
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