Mostrando postagens com marcador acessibilidade. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador acessibilidade. Mostrar todas as postagens

27 de dez. de 2013

Copa do Mundo no Brasil e Acessibilidade (1)

Oi queridos, como estão? Preparativos para as festas de final de ano, férias?

Eu sigo enrolada com os últimos detalhes da tese, falta pouco! Mas precisei passar aqui para trazer dois materiais interessantes e que se complementam, na minha opinião, para pensarmos a acessibilidade nos grandes eventos esportivos. Ano que vem sediaremos a Copa do Mundo Fifa. Dezenas de estádios estão sendo reformados ou construídos. Também há obras para melhorar o tráfico, o transporte público, os aeroportos, a rede hoteleira, e investimentos em cursos para aprimoramento profissional. Dentro de toda esta força-tarefa eu me pergunto: e a acessibilidade? Cadeirantes, surdos, cegos, pessoas com mobilidade reduzida poderão assistir aos jogos? Terão acesso aos estádios? Poderão ir e vir, receber informações adequadas, com qualidade, terão seus direitos de consumidores e cidadãos plenamente atendidos durante este grande evento?

O primeiro material que quero compartilhar é um texto escrito pelo Jônatha Bitencourt (o primeiro texto que publicamos de autoria dele pode ser lido aqui) e postado no blog de matérias esportivas da Fabico (UFRGS). O texto questiona as condições de acessibilidade no Estádio Beira-Rio, em Porto Alegre (RS) que sediará jogos da Copa do Mundo. Publicamos abaixo um trecho do texto. Para ler o texto completo clique aqui.

"Contagem regressiva. A Copa do Mundo está logo ali. E em Porto Alegre começam a ser dados os retoques finais no Estádio do Sport Club Internacional, o Beira-Rio, local escolhido para sediar o evento no Rio Grande do Sul. Mais de R$ 300 milhões foram previstos para a modernização do espaço, que está em reformas desde julho de 2010. O anúncio de que as obras estão em sua fase final costuma ser recebido com muita alegria por grande parte de organizadores e torcedores. Euforia que se mistura com desilusão quando entra em campo a acessibilidade. Em meio às construções, pessoas com deficiência tentam olhar para um futuro de direitos plenamente contemplados.
“Está bem complicada a situação”, afirma o presidente do RS Paradesporto, Luiz Portinho, ao descrever a luta pela acessibilidade dentro do estádio Beira-Rio. A aparente obsessão pelo “padrão FIFA”, cujos pré-requisitos sugerem um elevado nível de qualidade, parece ter chegado a uma rua sem saída.
O decreto presidencial nº 5.296 de 2004 determina que os estádios reservem, pelo menos, 2% das vagas para pessoas com cadeira de rodas. O Internacional, por sua vez, alega que o número previsto no projeto contempla o decreto nº 7.783 de 2012, também conhecido como Lei Geral da Copa, que fixa esse percentual em um número menor, apenas 1%."

As notícias sobre a Copa do Mundo 2014 podem ser acompanhadas pelo site "Portal da Copa", no endereço http://www.copa2014.gov.br/pt-br.


O segundo material que gostaria de compartilhar é uma peça publicitária da Coca-Cola intitulada: "Seleção Brasileira de Futebol de Cegos: isso é a Copa de Todo Mundo". No vídeo, um jogador cego da seleção brasileira de futebol de cegos faz um depoimento pessoal sobre sua experiência no esporte, além de mostrarem o time conhecendo a taça do mundo através do tato (o comercial mostra uma ação da empresa que conseguiu convencer a Fifa de quebrar o protocolo, já que não existe autorização para que se possa tocar a taça).


Assista ao vídeo aqui:




O comercial é bonito, mas não é acessível. Não sei na televisão (vou verificar) mas pelo menos na internet não há legendas (e as automáticas ficam bem ruins, eu testei) e nem a opção de audiodescrição, o que o tornaria possível de ser assistido em sua totalidade pelos cegos, justamente o público tema da campanha.
Um evento não pode apenas PARECER acessível, inclusivo, ele precisa SER acessível para quem precisa desta acessibilidade. ISSO É A COPA DE TODO MUNDO!

Aguardo os comentários e as notícias de acessibilidade da Copa na sua região!

Abraço, Vanessa.

18 de out. de 2013

Entrevista: Bruno Fagundes, produtor e ator da peça "Tribos"


Oi pessoal, tudo bem?

Estou muito feliz por poder apresentar este material inédito para vocês! Uma entrevista exclusiva, do Blog Vendo Vozes, com o ator e produtor Bruno Fagundes.

A peça estreou em setembro, em São Paulo, e ainda não há previsão de apresentações em outros estados, mas vou torcer muito para que eles venham a Porto Alegre em 2014 (e vocês aí, torçam pela cidade de vocês, hehehe). A acessibilidade oferecida no espetáculo (há sessões especiais com intérprete de Libras, legendas e audiodescrição) surpreende, já que o teatro é sempre muito criticado por ser uma das artes menos acessíveis a quem tem alguma deficiência.
Torcemos agora para que esse exemplo se dissemine, e os surdos, deficientes auditivos, cegos, enfim, todos, possam assistir a peça que bem entenderem, de todos os gêneros e com todas as temáticas.

Abaixo um release de "Tribos", que traz um surdo como personagem principal. No final da postagem, a entrevista que o Bruno concedeu ao blog:

Comédia perversa, com texto de Nina Raine e direção de Ulysses Cruz, aborda questões familiares; com Bruno Fagundes, Arieta Correa, Eliete Cigaarini, Guilherme Magon e Maíra Dvorek, a partir do dia 14 de setembro, no Teatro Tuca
Crédito: Jairo Goldflus
Antonio e Bruno Fagundes encontram-se na produção e no palco do teatro, pela segunda vez. O motivo agora é ainda mais especial, já que formam uma dedicada equipe de produção com os atores Arieta Correa, Eliete Cigaarini, Guilherme Magon e Maíra Dvorek, em uma premiada comédia perversa, com sacadas inteligentes e uma questão polêmica - que promete criar uma inusitada relação com a platéia - entreter, provocar questionamentos e entregar um bom produto aos amantes das artes.
Nina Raine, autora do texto, usa a figura de um deficiente auditivo para questionar os diversos tipos de limitação do ser humano e, de uma maneira perversamente divertida e politicamente incorreta, revive as típicas questões familiares e reforça as dificuldades de convivência - como em toda tribo.
Tribos aborda a surdez universal e divide o tema em duas categorias: 1) daqueles que não conseguem ‘calar-se’ por tempo suficiente para entender uma realidade diferente de sua própria 2) dos surdos que são fisicamente incapazes de receber estímulos sonoros;. "Somos só mais um na multidão"; "O mundo é surdo", diz Billy. Existe surdez maior que o preconceito; que o orgulho; que a ignorância; o egoísmo; a falta de amor?
Tribos estreia em São Paulo, dia 14 de setembro, no Teatro TUCA.
O TEXTO
Sucesso no Royal Court Theater, em Londres, e vencedor do New York Drama Critics, quando em cartaz nos Estados Unidos, o texto tem tradução de Rachel Ripani e direção de Ulysses Cruz. Billy (Bruno Fagundes) nasceu surdo em uma família de ouvintes, liderada pelo pai Christopher (Antonio Fagundes) e pela mãe Beth (Eliete Cigaarini), e completada pelos irmãos Daniel (Guilherme Magon) e Ruth (Maíra Dvorek). Ele foi criado dentro de um casulo ferozmente idiossincrático e politicamente incorreto. Adaptou-se brilhantemente às maneiras não convencionais de sua família, mas eles nunca se deram ao trabalho de retribuir o favor. Finalmente, quando ele conhece Sylvia (Arieta Correa), uma jovem mulher prestes a ficar surda, Billy passa a entender realmente o que significa pertencer a algum lugar.


Na imagem acima, os atores da peça, na ordem da esquerda para direita: Bruno Fagundes, Maíra Dvorek, Eliete Cigaarini, Guilherme Magon, Antonio Fagundes e Arieta Correa. Todos estão com roupas e sapatos pretos. Os atores estão tapando, com as mãos, os ouvidos dos que estão ao seu lado. Apenas Bruno e Arieta, que estão nas extremidades, não estão com mãos tapando seus ouvidos.

Agora, confiram a entrevista:

Vendo Vozes - Como ocorreu o seu envolvimento com a comunidade surda e a preparação para este papel? 

Bruno: Meu envolvimento com a comunidade se deu de maneira muito natural. Comecei com profissionais da área da surdez, depois com fonoaudiólogas e aos poucos fui ampliando para representantes da comunidade surda. Tivemos muito pouco tempo de preparação, mas foi um mergulho intenso na comunidade, na forma de vida do deficiente auditivo. Meus maiores desafios foram aprender LIBRAS e a busca da voz característica do deficiente auditivo.


Vendo Vozes - Você já possuía algum contato com a comunidade surda anteriormente? Já conhecia a língua de sinais?

Bruno: Não, nenhum. Minha cabeça se abriu completamente para esse universo a partir dessa pesquisa.

Vendo Vozes - Na sua opinião, qual é o maior desafio do ator ao interpretar uma pessoa surda?
Bruno: A fala é realmente um dos maiores desafios, não só pela questão técnica da articulação, potência, volumes, região da fala, mas também pelo fato de que o personagem precisa ser entendido pelo público. E meu trabalho de ator, levando em conta as emoções, as nuances do personagem, a projeção para platéia, nada disso poderia ser mascarado pela dificuldade da fala. Então foi um processo intenso de treino. Além disso, nós ouvintes nunca saberemos o que é ser surdo, como é a vida interna desse personagem, foi preciso muita criatividade também, rsrs.


Vendo Vozes - Como vocês perceberam a necessidade de acessibilidade da peça aos surdos e deficientes auditivos, e como essa acessibilidade está sendo oferecida?
Bruno: Seria um contrassenso fazer uma peça na qual o personagem principal é deficiente auditivo e não incluí-los. Foi uma iniciativa minha como produtor, a partir do meu contato com a comunidade, mas rapidamente a equipe toda se entusiasmou. Nos dias 26 de outubro (último sábado do mês), 30 de novembro (último sábado do mês) e dia 14 de dezembro, estamos realizando as sessões com acessibilidade. Para isso, temos alguns parceiros envolvidos. A primeira grande parceira e amiga é a intérprete de LIBRAS Mirian Caxilé. Ela me ensinou muito sobre cultura e identidade surda e é INTÉRPRETE DE LIBRAS oficial de Tribos. E a empresa Steno do Brasil que nos forneceu tablets com LEGENDA (para surdos oralizados) e a maravilhosa novidade AUDIODESCRIÇÃO PARA CEGOS para os dias de acessibilidade. 

Vendo Vozes - Como a comunidade surda tem recebido a peça?

Bruno: Maravilhosamente bem!!! Dia 28 de setembro foi nossa primeira sessão acessível e foi um dos dias mais emocionantes da minha vida. Tinham na platéia aproximadamente 350 surdos. E eles têm voltado, mesmo nos dias sem acessibilidade, levando seus familiares ouvintes e amigos. Tem sido uma experiência inesquecível. TODOS os meus próximos projetos de teatro, ao longo da minha vida, terão sessões acessíveis.


Vendo Vozes - Vocês pretendem viajar com a peça para demais estados? (tomara que venham ao Rio Grande do Sul!!!)

Bruno: Por enquanto, não temos nenhuma viagem agendada. Infelizmente, viajar exige um esforço monumental, envolve custos altíssimos com transporte, estadia, alimentação, aluguel de equipamento e toda uma logística de adaptação. Não é nada fácil. Mas quem sabe na metade do ano que vem?

Muito obrigada ao Bruno, pela entrevista, e à Lívia Bollos, assessora de imprensa, pela atenção.

Maiores informações sobre o espetáculo:
Tribos
Autor: Nina Raine
Tradutor: Rachel Ripani
Diretor: Ulysses Cruz
Elenco: Bruno Fagundes, Arieta Correia, Eliete Cigaarini, Guilherme Magon, Maíra Dvorek e Antonio Fagundes
Figurinista: Alexandre Herchcovitch
Cenógrafo: Lu Bueno
Iluminador: Domingos Quintiliano
Trilha: André Abujamra
Assistente de cenografia: Livia Burani e Moises Moshe Motta / Assistente de produção: Danny Cattan
Diretor de produção: Germano Soares Baía
Realização: Antonio Fagundes e Bruno Fagundes
Local: Teatro TUCA
Capacidade: 672 pessoas
Endereço: Monte Alegre, 1024 - Perdizes – São Paulo
Horários: sexta 21h30 / sábado 21h30 / domingo 18h
Fone: (11) 3670-8455
Estacionamento: R$ 12 (Rua Monte Alegre, 835)
Ingressos: sexta R$ 50 / sábado R$ 60 / domingo R$ 50
Classificação etária: 14 anos
Pontos de venda: bilheteria do Tuca (terça a domingo 14h às 19h / domingo 14h às 18h) ou www.ingressorapido.com.br
Mais informações: http://www.tribos2013.com/ e www.teatrotuca.com.br



3 de set. de 2013

Visões de Mundo


Olá pessoal, tudo bem?
Perdoem a demora por novas postagens, mas estou bastante envolvida com a escrita da tese e o meu trabalho.

Bem, o texto que publico hoje é da autoria de Jônatha Bittencourt, estudante de Jornalismo (UFRGS), âncora da Bandnews FM Porto Alegre e repórter da Rádio Bandeirantes RS. O texto foi primeiramente publicado no blog Três Gotinhas, da minha amiga Mariana, que foi entrevistada para a reportagem realizada. Gentilmente os dois me cederam o texto, para publicá-lo também aqui no blog.


Visões de mundo
Jônatha Bittencourt
Conduzidos por uma bengala, dão passos para além da escuridão. Os barulhos do ambiente são como faca de dois gumes: ora ajudam, ora atrapalham quem deles é dependente.
Dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde apontam que a cada 5 segundos uma pessoa se torna cega no mundo. Os números também indicam a existência de 40 a 45 milhões de casos; 90% deles em países emergentes ou subdesenvolvidos; e 80% poderiam ser evitados. Segundo o Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, de 2010, mais de 35 milhões de brasileiros têm algum tipo de deficiência visual. Dos números apontados, aproximadamente meio milhão de pessoas são totalmente incapazes de enxergar. Em Porto Alegre, os números indicam que pelo menos seis mil pessoas têm cegueira total.
Apesar do índice considerável de deficientes visuais ao redor do mundo, a impressão dominante é de que não existe uma consensual preocupação com o bem-estar dos cidadãos que vivem em tais condições. Quando surge em meio à política, a acessibilidade parece apenas uma “pauta positiva” diante das denúncias cada vez mais recorrentes. E contando com esse panorama, onde alguns cegos ainda ousam sair às ruas, outros resistem entre quatro paredes.


Na imagem acima, o autor do texto, Jônatha Bittencourt, em frente à Casa Lar do Cego Idoso
Na foto, um jovem magro, de camisa xadrez preta, calça jeans e uma pasta cuja alça está atravessada em diagonal em seu peito, segura um objeto de papel em sua mão direita. Ele está no centro da foto, em primeiro plano. Atrás, há um prédio cor de rosa e branco, com os letreiros em cor preta "Casa lar do cego idoso". Na entrada do prédio há uma calçada de concreto, e à direita do jovem há um caminho de piso tátil até a porta de entrada do prédio.


Rua Braille, número 480. Esse é o endereço da Casa Lar do Cego Idoso, instalada no bairro Rubem Berta, na zona norte de Porto Alegre. No local, cerca de 40 pessoas com mais de 60 anos de idade são acolhidas. Dentre as pessoas que se dedicam a levar assistência e conforto aos moradores, estão Joanete e Niderauer.
História Viva
Joanete Pretto Zanandrea, 58 anos, tesoureira. Niderauer Pacheco de Quadros, 87 anos, tesoureiro. Na sala do departamento, no térreo da casa de dois andares, eles falam do trabalho com muito entusiasmo. Quando um para, o outro continua dando cada vez mais fôlego à conversa, que compete com o barulho das obras que estão sendo feitas no local – recém haviam chegado recursos do governo municipal.
A história do estabelecimento teve início há 40 anos, antes mesmo da sua fundação. Em maio de 1973, um grupo de cegos descontentes com a política de atendimento aos deficientes visuais no Rio Grande do Sul e com a falta de atividades esportivas para eles resolveram fundar a Sociedade Esportiva Louis Braille (SELB). “Nós tivemos diversos troféus”, destaca Niderauer. “Levamos vários títulos de futebol de salão e atletismo.”
Dez anos depois, a SELB passou a se chamar SOLB, de Sociedade Louis Braille. Perdeu a letra E, de Esportiva, que justamente motivou sua criação. Mal sabiam o que lhes esperava. Uma longa jornada na área social se estenderia pela frente.
Com a formação de um novo estatuto, em 1998, o nome da entidade mudaria para Associação de Cegos Louis Braille (ACELB). Cientes de que não seria fácil, mas que era necessário trabalhar mais pesado por uma rede de serviços que atendesse pessoas cegas idosas em situação de vulnerabilidade social, resolveram criar um setor responsável por essas demandas. Em 2000, foi inaugurada a Casa Lar do Cego Idoso, contando, inicialmente, com 12 moradores.
Joanete relata que chegou até a instituição por meio do marido. Segundo ela, por ele ser deficiente visual, os círculos sociais do casal passaram a ser, principalmente, pessoas cegas. Considerando o quadro em que se encontrava a militância pelos direitos das pessoas com deficiência, Joanete percebeu a necessidade de se engajar no projeto. Hoje, só lamenta pela falta de circular mais entre os moradores da casa, como fazia antigamente. “Passo mais tempo aqui, na sala da tesouraria, só lidando com números. Sinto falta lá de cima”, diz Joanete.
Enquanto ela conclui seu raciocínio, dá para notar que Niderauer já aguarda a vez de falar. Ele foi um dos fundadores da associação. Tem muita história para contar.
Sou aposentado. Fiz parte da diretoria de uma cooperativa de crédito. Naquela época, eu administrava a parte de empréstimos e cheguei a colaborar com cegos carentes. Além disso, sou membro, há muito tempo, da Irmandade São Miguel e Almas. Essa organização auxiliou desde o início a Associação de Cegos Louis Braille.”
Os dois destacam que, nesses 13 anos de funcionamento do asilo, passaram por muitas experiências. Uma delas insiste em se repetir. A indiferença parece resistir ao tempo.
Algumas pessoas têm familiares aqui. Às vezes, ligamos para avisar que estão no hospital porque passaram mal e que precisam ser visitados, mas recebemos como resposta: “Eu não vou atrás dele, já está na hora de morrer mesmo”, desabafa Joanete. “Infelizmente, alguns chegam ao ponto de dizer isso. São pessoas que abandonaram completamente seus parentes.”
Diante de situações como essa, o desânimo passa a ser um dos maiores inimigos dos que moram na casa. O sentimento, inclusive, toma uma certa vantagem por não existir um serviço de acompanhamento psicológico no local. “Eu acredito que se tivéssemos uma psicóloga aqui, ela teria muito trabalho”, diz Joanete, “muitas vezes não falam, mas no fundo estão precisando”. As dificuldades para a contratação de uma psicóloga decorrem das verbas governamentais, que “estão mais direcionadas às benfeitorias do lugar”, como destaca Niderauer.
Em meio à conversa com os dois tesoureiros, chega à porta um homem de avançada idade vestido ao estilo camponês, segurando nas mãos uma sacola com veneno para formigas.
Um Jardineiro Revolucionário


Na imagem acima, Sr. Adão Alcides Zanandrea
Um senhor, com chapéu preto e roupa cinza está posando para a foto, de frente para a câmera, no canto esquerdo da imagem. Ele segura uma pequena sacola branca. Atrás dele, uma grande estante de madeira escura, antiga, ocupa todo o fundo da foto. Na estante há muitos livros e porta-retratos.

É o marido de Joanete, Adão Alcides Zanandrea, 75 anos, ex-presidente da ACELB e, atualmente, conselheiro estadual da Saúde e dos Direitos das Pessoas Deficientes. Ele só enxerga com o olho direito – e apenas 9%.
Era o presidente e o jardineiro da casa”, interrompe Niderauer fazendo uma piada. Os três caem na gargalhada. Adão aproveita a brincadeira do amigo e já faz a seguinte recomendação, todo orgulhoso: “Pois vá ver minhas bananeiras no pátio! Certo dia meu sogro me disse: “Onde não dá geada, o colono planta três pés de bananeira e, após três anos, vai colher bananas que durarão um bom tempo para uma família de cinco pessoas”. Há dois anos, no mês de março, colhemos 70 cachos!” A esposa e seu colega tesoureiro não contestaram. Ele parece ter aprendido, realmente, a lição do sogro.
Mas ele é mais que um jardineiro.
Mesmo enfrentando dificuldades por causa da visão, resolveu cursar Direito. Registrava as aulas em um gravador de som, depois escutava as fitas. Caso não tivesse como gravar em um determinado dia, pedia emprestado o caderno dos colegas. Em casa, Joanete lia e assim ele estudava.
Eu gravava tudo em áudio e até traduzia para o Braille. Mas nunca comprei livros,” comenta Adão. Na época, adquirir obras em Braille custava muito caro – mais do que atualmente.
Depois da colação de grau, deu início à carreira de advogado. Com o passar dos anos, começou a dar aulas e a trabalhar no Ministério do Trabalho, atendendo na área previdenciária. Ainda hoje, Adão Zanandrea recebe homenagens pela sua militância a favor dos deficientes visuais. Pelo amplo conhecimento jurídico, foi convidado diversas vezes a Brasília, Rio de Janeiro e outras cidades brasileiras para colaborar no planejamento de uma legislação que contemplasse as questões de acessibilidade e direitos humanos em torno da deficiência visual. “Eu ajudei a escrever essas leis. Tenho até hoje os documentos de agradecimento lá do Rio de Janeiro”, diz orgulhosamente.
Seu antigo local de trabalho em Porto Alegre, a agência do Sistema Nacional de Emprego (SINE), também foi palco de revolução. Lá, durante 18 anos, atuou como o único deficiente visual, passando de estagiário a professor. “Até que um dia nós, mais de duzentos deficientes na cidade, entramos no Palácio Piratini e exigimos do governador os nossos direitos.”
Em 1981, no Ano Internacional das Pessoas Deficientes, o então ministro da Previdência do país, Jair Soares, anunciou sua candidatura ao governo do estado do Rio Grande do Sul. Percebendo que o governador gaúcho do momento, José Augusto Amaral de Souza, encontrava-se em risco e disposto a abrir concessões para se manter no cargo, os manifestantes aproveitaram a oportunidade para protestar. Naquele dia, foram prometidas centenas de vagas para deficientes em todo o estado.
Eu estava a dois palmos do governador. Lembro-me de ouvir dizendo: ‘Vamos começar a contratar. Estou determinando!’ Chegaram a fazer reclamações contra alguns secretários, mas o governador Amaral respondeu: ‘Secretários são pagos para me ajudar administrar o Estado. Contratem! Estou determinando!’”
Antes de sair para o pátio com sua sacola, despediu-se dizendo: “Na tua reportagem, não se esquece de dizer para as pessoas virem conhecer esse lugar e tomarem conhecimento do que uma obra assistencial de promoção humana pode fazer”.
Ao sair da tesouraria, meu próximo passo foi subir ao primeiro andar, acompanhado por Joanete. No local, além de dormitórios e de um “fumódromo”, existe uma sala com assentos onde parte dos idosos gosta de passar o dia.
Solidão e Resistência


Dona Catarina segurando a mão de Jônatha
Na foto acima, uma senhora idosa, com cabelos grisalhos e um gorro de lã cinza segura, com as duas mãos, a mão de uma terceira pessoa. Reconhecemos que é de Jônatha, o autor do texto, porque é possível visualizar a manga xadrez de sua camisa. Os olhos da idosa estão fechados, e ela está com a cabeça levemente inclinada para a esquerda.

Sentada em uma das poltronas, Catarina Gonçalves de Oliveira, de 76 anos, se concentra em seu crochê colorido. Apesar da cegueira total, faz a peça de roupa com as próprias mãos. Peço licença e um pouco do seu tempo. Ela retribui com alegria à ideia de ser entrevistada. Dona Catarina aproveita para pegar uma das minhas mãos e, esquentando-a, “segurar” a companhia por mais tempo.
Ela explica que o crochê faz parte da sua vida há anos e é uma das formas de vencer a depressão. “Eu já fazia isso quando enxergava um pouco. E agora não posso ficar mais parada, meu anjo. Sinto um sufoco e um mal estar quando não faço nada. A gente fica tão desnorteada quando perde a visão…”
Tudo começou quando eu era pequenininha, com quatro anos”, explica, “estava com meu irmão, que era muito arteiro na época. Um militar que estava passeando com seu cavalo gordo deixou cair um cartucho de dinamite perto de nós. Curioso, meu irmão foi pegar a bomba no chão. Ela explodiu. O cavalo levou um susto tão grande que levaram umas duas semanas para achá-lo”.
O acidente fez com que dona Catarina, ainda menina, perdesse 95% da visão.
Depois de um tempo, fui diagnosticada com catarata. Precisei ir à Santa Casa. Daí chegou o doutor mais experiente e me disse: ‘Catarina, tem que operar com urgência senão vai perder as vistas!’ O problema é que fizeram com anestesia geral, quando era para ser local. Antes eu pelo menos enxergava a luz, os degraus das escadas…”
Após essas palavras, dona Catarina voltou a contar sua história do início mais umas três vezes. Talvez pela idade. Resolvi não questioná-la mais sobre as causas da cegueira.
Tenho dois filhos, faz tempo que não me visitam. O Daniel não vem há mais de um ano.” Ela parece ter criado uma espécie de resistência a esse sofrimento. Apesar de fazer questão de dizer que não recebe visitas, destaca: “Mas nem conto mais com isso, não dou bola. Eles têm a vida deles. Precisamos pensar em nós mesmos, não nos parentes, e esperar a morte chegar, né?” Ela ri.
De repente cegos
Na mesma sala onde dona Catarina se dedica ao seu crochê, Osvaldo Ferraz escuta televisão. “Não posso ler ou assistir à TV, então só ouço notícias e futebol”, explica. O homem de 80 anos de idade perdeu completamente a visão há 10 anos.
Se eu mais ou menos imaginasse”, suspira, “não teria deixado acontecer. Deitei enxergando e acordei cego”. Tudo por causa de um glaucoma, doença que se caracteriza pelo aumento gradual da pressão dentro dos olhos. Com isso, o nervo ótico, responsável por transportar as sensações visuais para o cérebro, tende a sofrer uma lesão. No caso de Osvaldo, total.
Por mais que receba, em média, duas visitas por mês, Osvaldo Ferraz sente no peito a angústia de viver no mundo da escuridão. “Isso deprime a gente”, afirma. As amizades dentro de casa servem de estímulo para o dia-a-dia. “Conhece o Niderauer? Andando com ele, tá com tudo…”
Depois de conhecer Osvaldo, fui conduzido por Joanete a um dos quartos do asilo. Em uma cama estava um homem que, em plena juventude, foi desafiado por uma raríssima doença chamada Paget. Os especialistas afirmam que apenas 5% a 30% dos casos são sintomáticos. Os demais pacientes só descobrem a doença durante exames mais específicos ou, como no caso de Alenir Moraes da Silva, de 61 anos, através das consequências.
Por volta dos 20 anos de idade, a vida de Alenir mudou drasticamente.
Eu era bastante ativo na época, trabalhava no campo”, afirmou. “A doença de Paget apareceu de repente e eu perdi a visão. Foi bastante difícil. Ninguém sabia de nada, como lidar ou não com isso.”
Ainda assim, resolveu seguir em frente. “Procurei minha independência”, declara. Além de trabalhar em empresas da capital, participou da direção de algumas entidades que apoiam deficientes visuais. Em Porto Alegre, viveu a dura realidade de uma cidade que, como a maioria ao redor do mundo, ainda está distante do ideal quando se trata de acessibilidade.
A cidade não está preparada. Na verdade, uma sociedade preparada para conviver e até entender a dinâmica de um deficiente visual não existe no mundo inteiro, viu? As barreiras arquitetônicas são imensas.”
Uma declaração que, por vezes, parece ser ignorada. Fazendo o uso contextualizado do conhecido ditado popular, a impressão que fica é que onde há cego, quem enxerga é rei. Mais do que isso, quem enxerga dita as regras de como ver o mundo.
Embora exista a imposição de limites que deveriam ser repensados, Alenir Moraes da Silva declara viver “uma vida normal. Ela já é feita de altos e baixos, de coisas boas e ruins. Ser cego é apenas um detalhe. Mesmo assim, a pessoa pode ser capaz de se adaptar e de se esquecer, muitas vezes, da própria condição de cega”, conclui.
Alenir foi o último morador que conheci na Casa Lar do Cego Idoso – que prometi a mim mesmo visitar mais vezes. Antes de ir embora, ainda passei pelo jardim de Adão.
Saí decidido a conhecer mais pessoas e lições de vida.

Construindo Rampas
Esta jovem de 27 anos tem deficiência visual parcial (baixa visão) desde o nascimento. Enxerga apenas 10% e como se estivesse usando um binóculo – não tem a percepção lateral, periférica. Para começar a ver algo, precisa estar a, no máximo, dois metros de distância, quanto mais iluminação melhor. No computador, utiliza fontes que variam de 22 a 24 pontos. Além disso, é jornalista formada.
Você deve estar imaginando: “Essa pessoa deve ser uma grande profissional de rádio, afinal de contas, deficientes visuais não desenvolvem com facilidade os outros sentidos? Trabalhar com a audição deve ser o seu forte!” Deixe-se surpreender: estamos nos referindo a uma apresentadora de televisão. Seu nome é Mariana Baierle, jornalista pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e mestre em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Nunca imaginei que seria telejornalista, era uma das áreas pelas quais eu menos me interessava na época da universidade. Até que um dia prestei um concurso temporário para a TVE-RS e, inclusive, passei no acesso universal. Fiquei toda orgulhosa por ter me classificado. Quando entrei, houve certa resistência, não sabiam o que fazer comigo.”
Hoje, Mariana é repórter e apresentadora do quadro Acessibilidade dentro do programa Cidadania. Apesar das dificuldades enfrentadas inicialmente, com o tempo passou a usar algumas situações a seu favor. Em filmagens na rua, por exemplo, consegue se concentrar ao se dirigir à câmera. Já que não enxerga perifericamente, não se preocupa se alguém a está assistindo.
Mas nem tudo é motivo de tranquilidade. O luto e a contestação são “pautas” permanentes na vida Mariana. Apesar de viver em um país onde os direitos humanos são, supostamente, prioridade, ela acredita que a questão ainda é tratada com superficialidade.
Gosto de fazer uso de uma frase da publicitária Juliana Carvalho, cadeirante: ‘É preciso construir rampas na cabeça das pessoas’. E é bem isso, mudar um pensamento, um comportamento. Não é só a rampa que vai dar acesso, mas as pessoas, a forma de atender e lidar com naturalidade. Alguns ainda têm aquela ideia: ‘Nossa! Aquele é deficiente, está vendo? Está vindo ao teatro, ao cinema, como é que pode? Está saindo de casa!’ Ainda existe, infelizmente, essa resistência. Por isso existe a necessidade de ‘construir rampas’ num sentido bem mais amplo, de transformação cultural.”
Dentre vários preconceitos que deveriam ser colocados em xeque nos nossos dias, um ainda intriga muita gente: “O que esse tipo de pessoa vai fazer em Paris se não pode ver a Torre Eiffel? Qual a importância de ir a Roma sem enxergar o Coliseu?” Diante desse tipo de pensamento, Mariana contra-ataca: “Não é bem assim! O que vale é a sensação de interagir com as pessoas, caminhar pela cidade, tirar fotos…” Tirar fotos? “Sim, vão tirar, querer uma recordação. Depois os outros descrevem as imagens coletadas! Isso acontece por meio da audiodescrição, um método de trazer acessibilidade nessas situações.”
Confesso que fiquei um tanto surpreso com essa ferramenta de “visualização”. Vale a pena destacar que a jornalista Mariana Baierle tem um blog chamado Três Gotinhas (www.tresgotinhas.com.br). Na sua página pessoal, ela explica o porquê do nome: “Acho que três gotinhas é uma boa conta, considerando que às vezes posso colocar a mais ou a menos (e não ficarei sabendo disso). Então a tentativa de sempre colocar três gotinhas me parece uma boa média.” Ali, Mariana registra as mais diversas experiências vivenciadas, que vão desde a simples imaginações e conversas a grandes viagens.
Falando em viagens…
Nem só olhos visualizam
Estou a menos de uma semana na Alemanha e já são tantas as coisas para contar que fica difícil entrar em detalhes, mas posso dizer que foram, por enquanto, os dias mais difíceis da minha vida.” (16/09/2012)
O autor dessas palavras se chama Lucas Radaelli, um jovem de 21 anos de idade, estudante de Ciências da Computação na Universidade Federal do Paraná. Assim como Mariana, ele tem um blog na internet (www.lucasradaelli.com) e é deficiente visual. No entanto, é cego. Para chegar à Alemanha, Lucas precisou superar algumas barreiras durante os anos de estudos. Ele relata que a partir da terceira série, passou a estudar mais de forma digital. Os livros eram escaneados pelos pais e “lidos” através de softwares em seu computador. O Braille servia como ferramenta apoio.
Já na universidade, participou de um processo seletivo por uma única bolsa destinada ao setor de Exatas, que englobava Ciências da Computação, Tecnologia da Informação, Física, Matemática, as engenharias etc. Passou por uma série de provas, como de idioma do país de destino, rendimento acadêmico, histórico escolar, iniciação científica e atividades extracurriculares. No final das contas, foi selecionado. Embarcou para a Alemanha. “O início foi mais difícil. Como eu não tinha amigos ainda ficava sem ajuda para algumas coisas. Precisei ultrapassar os meus limites para resolver esses problemas”, comenta. Além de visitar o país germânico com fins acadêmicos, Lucas revela sua paixão por viagens e destaca algumas das suas memórias. “Sempre pesquiso bastante para onde quero ir. Já fiz viagens frustrantes, onde só havia apelo visual. Mas já viajei para lugares dos quais gostei muito, como Dublin, na Irlanda. Havia muitos pubs com música tradicional. Lógico que a visão deve ser bastante importante, mas ainda existe a questão da culinária, dá para sentir o ambiente. Quando fui ao Museu Britânico, em Londres, passei por uma experiência muito legal porque era permitido tocar em várias estátuas egípcias. Nossa, visualizei várias estátuas.”
Já que conversamos sobre “aparências”, resolvi questioná-lo sobre conceitos de estética, beleza. Lucas destacou que faz uso de outros padrões. “Como aconteceu quando um amigo me mostrou dois celulares e perguntou qual deles eu havia gostado mais. Respondi indicando um. Ele quis saber o porquê. Falei que preferi pela traseira de metal porque me passava uma sensação melhor por ser gelado…”
Eu não tenho noção do que é uma cor. Então discussão sobre cores de pele é algo que não entra na minha cabeça”, ressalta. “Certa vez aconteceu uma situação engraçada envolvendo um amigo – eu acho que é negro, não tenho certeza. Ele estava bem ranzinza na parte da manhã e eu disse que ele estava parecendo muito alemão naquele dia. Todos meus amigos deram risada. Era bem no começo do nosso convívio. Por um tempo o chamamos de alemão.”
Assim encerrei a conversa, ciente de que para Lucas, preto e branco eram a mesma coisa.

27 de jun. de 2013

Documentário "Olhares"

Olá queridos, tudo bem?

No ano passado, postei um relato da minha experiência em curso que fiz sobre Educação, Cultura e Acessibilidade, na UFRGS (para ler, clique aqui). Pois bem, na época do curso, assisti ao documentário "Olhares", uma produção independente dos ministrantes do curso, Mestres Felipe Mianes e Mariana Baierle. Agora, o documentário está disponível na internet, gratuitamente, com os recursos de audiodescrição e legendas, e recomendo muito que assistam e divulguem esse filme. Ah, e se possível, chamem os dois para alguma roda de conversa, palestra ou evento, pois eles são inteligentíssimos e falam de inclusão de uma maneira diferente, irreverente e tocante. Recomendo!

Abaixo, reproduzo o texto da notícia que foi publicado no Blog Três Gotinhas, de propriedade da Mariana.


O documentário “Olhares” (2012) agora está disponível online para acesso em qualquer parte do mundo. No filme, pessoas cegas e com baixa visão contam suas experiências no acesso ao teatro, exposições, cinema, literatura, música e entretenimento.
A obra conta com audiodescrição – recurso de acessibilidade que permite acesso a pessoas com deficiência visual – e legendas – que se destinam ao público com deficiência auditiva. Trata-se de uma produção independente, produzida em caráter acadêmico e sem qualquer tipo de patrocínio. A direção, roteiro e produção são de Felipe Mianes (historiador e doutorando em Educação pela UFRGS) e Mariana Baierle (jornalista e mestre em Letras pela UFRGS) – ambos com deficiência visual.
Estima-se que “Olhares” já tenha sido assistido por mais de mil pessoas em eventos diversos, tais como: II Seminário Nacional de Acessibilidade em Ambientes Culturais na UFRGS, 6ª Primavera dos Museus (Salvador/BA), Mostra de Curtas-Metragem sobre a Temática de Deficiência da Fundação Liberato Salzano (Novo Hamburgo/RS), Feira do Livro de Novo Hamburgo/RS, Secretaria de Educação do Estado do RS, Santander Cultural (Porto Alegre/RS), Sala Redenção de Cinema Universitário da UFRGS, disciplinas da Faculdade de Educação da UFRGS, cursos de formação de professores e palestras na área da acessibilidade. Foi veiculado ainda na TVE-RS, canal de televisão aberta para todo o Rio Grande do Sul.
Segundo Mianes, o objetivo do trabalho é dar voz às pessoas com deficiência visual, destacando suas potencialidades na relação com o universo artístico e cultural. “Queremos mostrá-las como protagonistas de suas trajetórias de vida, para além dos estereótipos e das restrições”, afirma ele.
Desde os entrevistados até os diretores de Olhares tem diferentes graus de deficiência. Mariana Baierle comenta que ainda existe a ideia de que a pessoa com deficiência visual é apenas o cego. “No documentário buscamos dar espaço também aos indivíduos com baixa visão (aqueles com acuidade visual inferior a 30%), que possuem peculiaridades e representam a maioria entre o público com deficiência visual”, afirma ela.
É apenas de inclusão que precisamos? O que seria realmente a inclusão? O documentário convida à reflexão e ao debate sobre essas e outras questões trazidas no filme.
Para palestras, cursos, exibições públicas do filme ou consultoria em acessibilidade, entre em contato com os diretores através dos blogs: www.arteficienciavisual.blogspot.com ou www.tresgotinhas.com.br.





Link para o vídeo: http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=GGgcBL6rRVE

6 de jan. de 2013

Blog Vencer Limites

A dica de hoje é sobre o blog "Vencer limites", do Estadão.com. O blog, assinado pelo jornalista e editor da página do Estadão, Luiz Alexandre Souza Ventura, traz várias matérias sobre acessibilidade e cidadania e deficiência e é postado regularmente.


Imagem mostra a página do blog "Vencer Limites".
Você pode acessar o blog através do endereço: http://blogs.estadao.com.br/vencer-limites/

Conhece outro blog interessante e quer divulgar aqui? Escreva para blogvendovozes@gmail.com.
Abraço,
Vanessa.

18 de out. de 2012

Era uma vez um Conto de Fadas Inclusivo

Olá queridos, tudo bem?

Eu, sempre na correria, imagino que vocês também estejam, né?
Nosso blog tem trazido, em algumas postagens, temas como acessibilidade cultural, literatura surda e inclusiva, audiodescrição. Hoje, seguindo por esta linha, quero falar do lançamento de uma coleção literária chamada "Era uma vez um Conto de Fadas Inclusivo", que faz uma releitura dos contos de fadas imaginando os personagens com alguma diferença.
Você pode conferir esse lançamento no dia 23/10, às 19h, na Casa de Cultura Mario Quintana, em Porto Alegre/RS, em uma exposição sobre a coleção, no mesmo local, até o dia 11/11, ou, durante a Feira do Livro, na Sessão de autógrafos, que será domingo, 28/10, às 19h.
Os títulos da coleção são:
Branca Cega de Neve, Chapeuzinho da Cadeirinha de Rodas Vermelha, Cinderela sem Pé, O Pequeno Polegar que não conseguia caminhar, Alice no País da Inclusão, A Bela Amolecida, Cócegas na Floresta: João e Maria, João sem Braços e o Pé de Feijão, Pinóquio das Muletinhas, Aladown e a Lâmpada Maravilhosa e O Segredo de Rapunzel.


Maiores informações sobre o lançamento, você encontra no blog da Mil Palavras - Acessibilidade Cultural.
Abraço,
Vanessa.



19 de set. de 2012

Falando em acessibilidade...

Olá pessoal, tudo bem?

Em agosto divulguei as inscrições para um curso sobre acessibilidade, na UFRGS (veja aqui). Felizmente estou conseguindo participar, e estou gostando muito!
A turma e os professores são ótimos, e estou aprendendo muito com eles. Certamente o conteúdo do blog será bastante enriquecido com o aprendizado e as discussões deste grupo. A ideia do blog sempre foi multiplicar aquilo que tenho aprendido, lido, vivenciado como professora e pesquisadora, e por isso o blog precisa ser acessível. Isso significa que qualquer pessoa interessada possa acessar o site e receber todas as informações das postagens, textos, imagens, da mesma maneira que qualquer um, e fica a dica para quem tem algum site ou blog.
É importante que os anexos estejam em arquivos com extensão ".doc", para que possam ser lidos pelos softwares que auxiliam pessoas cegas ou com baixa visão, e também possam ser impressos em impressoras de braile, ou mesmo para que possa ser editável (para que o tamanho, cor e tipo da fonte possa ser configurada conforme a necessidade de cada leitor).
Outro ponto importante é que as imagens possuam uma legenda para descrevê-la, para que todos possam saber que imagem é aquela e qual a sua importância na construção de sentido do texto.

Texto "Acessibilidade Direito de todos", e abaixo o símbolo da surdez,
da deficiência física e da deficiência visual, todos em azul e branco.
Incentivo a todos que tiverem um curso semelhante à disposição que o façam! Certamente seremos melhores profissionais e poderemos atingir um número maior de pessoas.

Vamos lá?
Abraço,
Vanessa.

23 de ago. de 2012

Paraolimpíadas 2012

Este ano não acompanhei muito as Olimpíadas de Londres. Muita gente se decepcionou com o desempenho do Brasil, uns culparam os atletas, outros, o Estado, por não contribuir para que nossos esportistas tenham condições para avançar.
Para mim, o melhor dos Jogos Olímpicos começa após as competições mais famosas: são as Paraolimpíadas, que sempre me emocionam! É tanta história de superação, de garra, de luta, que não há como não admirar esses superatletas!
Sem falar que as equipes brasileiras são muito boas. A cada paraolimpíada nosso país tem se destacado e subido mais alto no pódio. Na Grécia, em 2004, ficamos em 14° lugar no ranking de medalhas; na China, em 2008, subimos para o 9° lugar. Ou seja, as expectativas para a delegação brasileira agora, em Londres, são muito boas!

Quando lecionava Espanhol para turmas de ensino médio em uma escola de Porto Alegre, fizemos um projeto sobre as Paraolimpíadas que eu adorei! Os alunos se dividiram em grupos e montaram blogs, em espanhol, sobre as modalidades de esportes paraolímpicos. Eles se surpreenderam e ficaram muito motivados com as histórias de cada atleta. Fica a dica para que o tema seja trabalhado em sala de aula, e não se limite à disciplina de Educação Física, pois é uma ótima maneira de trabalharmos a diversidade e inclusão na escola.

Também sugiro o documentário "Metamorfose", disponível neste link, que conta a história de Rosinha, uma atleta que já consegui mais de 50 medalhas e bateu dois recordes em Paraolimpíadas, símbolo de determinação e alegria. O ponto negativo do vídeo é que só há legendas em inglês... mas há um espaço para sugestões e reclamações no site, que é o Porta Curtas da Petrobras, e eu sugiro que vocês enviem mensagens pedindo legendas em português.

Abaixo, um vídeo interessante sobre os esportes paraolímpicos.





Grande abraço a todos, e espero que todos acompanhem as Paraolimpíadas 2012 de Londres. Li uma notícia que a Globo fará a cobertura dos jogos, que vão de 29/08 a 09/09.
Vanessa.

imagem da Paraolimpíadas que você pode espalhar por aí...

15 de ago. de 2012

Curso EDUCAÇÃO, CULTURA E ACESSIBILIDADE



Estão abertas as inscrições para o curso de extensão “Educação, Cultura e Acessibilidade”, promovido pela Faculdade de Educação da UFRGS .Os objetivos são  problematizar o acesso à cultura por pessoas com deficiência, refletir sobre a importância da arte e da cultura na educação como meio de inclusão e, principalmente, analisar possibilidades de intersecção entre educação, arte, cultura e recursos de acessibilidade.
Coordenação: Felipe Mianes e Mariana Baierle
Carga Horária: 48horas/ aula, com certificado para quem tiver mais de 75% de presença
Periodicidade: Terças-feiras (11/09/2012 a 27/11/2012)
Horário: das 18h45min às 22hs
Valor total do curso: R$ 160,00 por aluno
Público alvo: acadêmicos, professores, produtores culturais, profissionais que atuam com acessibilidade e inclusão e comunidade em geral
Local: Campus Central da UFRGS – Centro – Porto Alegre
Vagas limitadas
Mais informações:

7 de jul. de 2012

Sentir pra ver

Olá queridos,


Muitos leitores gostaram muito do post sobre acessibilidade no Castelo de Versailles, na França, que a Laura postou aqui. Hoje quero compartilhar com vocês uma experiência semelhante que tive no último sábado ao conhecer a Pinacoteca do Estado de São Paulo. Lá visitei a exposição "Sentir prá Ver: gêneros da pintura na Pinacoteca de São Paulo", que até o dia 15 de julho vai exibir 14 conjuntos de obras de arte acessíveis. São reproduções de pinturas do próprio acervo da biblioteca que foram transformadas em algo que se possa tocar, possibilitando que pessoas com baixa visão ou cegas possam "sentir prá ver", como diz o nome da exposição.
Se você é vidente, mas gostaria de viver esse outro jeito de ver a arte, é possível colocar vendas nos olhos, e tentar, primeiro, ver a obra com as mãos. A experiência é incrível. Além da reprodução tátil da obra, há também uma segunda reprodução, em relevo, e um texto em Língua Portuguesa e em braile que traz informações e descrição da obra. Você também pode colocar fones de ouvidos para ouvir o som que foi escolhido para compor aquela obra, ou até sentir o cheiro dela. Se preferir, pode seguir a visita com um poema relacionado a obra.



Eu participando da exposição



A exposição foi concebida segundo o padrão universal de acessibilidade, para que cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida também possam participar. As obras escolhidas ilustram os principais temas das artes plásticas, paisagem urbana, rural, marinha, retrato, abstração, natureza morta e cenas, abrangendo a arte brasileira do final do século XIX a meados do século XX, de artistas como Almeida Junior, Arnaldo Ferrari, Bete Worms, Di Cavalcanti, Carlos Scilar, Dario Barbosa, Gino Bruno, Pedro Alexandrino, Rebolo, Maurício Nogueira Lima, Leopoldo Raimo e Navarro da Costa entre outros.

"Sentir prá ver" é uma exposição realizada pelo Programa Educativo para Públicos Especiais (BEPE) que possui várias ações para que públicos com limitações físicas, intelectuais e sensoriais tenham acesso à arte, contando com visita guiada tátil para cegos e com uma educadora surda que apresenta a visita em Libras para os surdos. O telefone deste programa é (11) 3324-0945.

Aproveitem e visitem a exposição, se puderem. Agradeço, em especial, a minha amiga Sandra e sua mãe Maria que me levaram até lá.

Mais fotos desta visita, na nossa página no Facebook.

4 de jul. de 2012

Vem aí a BIBLIBRAS, da Sociedade Bíblica do Brasil!

Raros são os lares que não possuem um exemplar da Bíblia, não é? Agora, se dão a devida atenção em conhecer o texto divinamente inspirado é outra história...Pois então que anunciamos para vocês que em breve, muito em breve, a SBB estará disponibilizando dvds com algumas histórias bíblicas em LIBRAS! Pra quem não conhece os produtos da SBB, fica a dica para visitar o site deles aqui; tchê, só não lê a Bíblia quem não quer. A editora tem tudo quanto é tipo, formato, linguagem e tradução da Bíblia, vale a pena conferir! E agora os surdos também poderão ter acesso à Palavra de Deus por meio desse novo material. Ainda não conseguimos imagens e informações mais detalhadas sobre os dvds. Abaixo segue o texto extraído do próprio site da SBB. Alguns surdos já tiveram acesso ao material e a satisfação foi imediata. Confere aí:



A Bíblia agora em Libras 

Depois de disponibilizar a Palavra de Deus em braile às pessoas com deficiência visual, a Sociedade Bíblica do Brasil (SBB) tornará a Bíblia disponível também ao público com deficiência auditiva. Trata-se do Biblibras, projeto editorial iniciado em 2008, que conta com a parceria do Instituto Expressão Surda (IES), de Curitiba (PR). A ideia é disponibilizar, até o final deste ano, algumas das histórias da coleção Aventuras da Bíblia em Libras (Língua Brasileira de Sinais). 
Em formato DVD, a nova obra terá como base a publicação impressa homônima já consagrada entre o público infantil. O primeiro da série de vídeos contará com quatro historinhas bíblicas, entre elas a Arca de Noé e Sansão. O objetivo, em quatro anos, é totalizar 32 histórias bíblicas para o acesso desse segmento da população. 
“O livro Aventuras da Bíblia inspirou a concepção dessa versão bíblica em Libras porque dá uma visão geral sobre a Bíblia para crianças e famílias. E algo inédito é a prioridade numa tradução em Libras para crianças, que são o ponto de contato com as famílias e igrejas”, salienta Paulo Teixeira, secretário de Tradução e Publicações da SBB. O material também será a principal ferramenta do novo programa social A Bíblia para pessoa com deficiência auditiva, criado este ano pela SBB.




Legal, né? Então continua ligado no nosso blog e no site da SBB para não perder o lançamento da BIBLIBRAS!

A Colaboradora.



26 de jun. de 2012

Super-herói Surdo da Marvel

Oi queridos leitores,

Há alguns meses, circulou uma notícia muito interessante na internet, mas eu ainda não tinha conseguido parar para postá-la aqui. É sobre a criação de um super-herói surdo, pela empresa Marvel (criadora dos Vingadores, Homem-aranha, X-Men, etc), a pedido de uma mãe de um menino com deficiência auditiva, fã dos super-heróis da empresa, que se negava a usar o aparelho auditivo pois nenhum super-herói também o utilizava.
A Marvel, então, escreveu para a mãe do menino, lembrando que um dos personagens, que também participa dos Vingadores é o Gavião Arqueiro (em inglês, Hawkeye), que perde parte de sua audição em uma batalha, e agora utiliza um aparelho auditivo. Além disso, a Marvel criou um "assistente" para o personagem, que é um menino que utiliza um aparelho auditivo azul, chamado "Blue Ear" (Orelha azul, em referência à cor do aparelho auditivo).
No desenho, o assistente Blue Ear com o Gavião Arqueiro.

O personagem Blue Ear, que na verdade, é Anthony Smith (o menino que motivou a criação)

na foto, Anthony Smith com sua mãe, que enviou o e-mail à Marvel, e o personagem que ele ganhou.





Assim como no post dos brinquedos para crianças surdas e com deficiência auditiva, a criação de um personagem que as ajuda a se sentirem incluídas neste mundo é de grande valor para uma real inclusão, não acham?

O que vocês pensam sobre isso? 
Abraço,
Vanessa.
Fontes:

25 de jun. de 2012

Curso de audiodescrição no Rio de Janeiro

Olá queridos,
Pesquisando sobre o curso de audiodescrição em São Paulo, encontrei esse outro curso, no Rio de Janeiro, abrindo assim mais possibilidades. Se você souber de um curso semelhante acontecendo em outras regiões do país é só escrever para nós, que publicamos aqui também!




O curso tem como objetivo habilitar todos que tenham interesse neste recurso a construírem roteiros de Audiodescrição, assim como a atuação na locução e noções dos recursos técnicos de gravação.
As aulas serão teóricas e práticas, contando ainda com suporte por e-mail. A Audiodescrição é um recurso de acessibilidade que possibilita tornar eventos culturais e produtos audiovisuais acessíveis para pessoas com deficiência visual. É um importante instrumento de integração sócio-cultural, fundamental às vidas de todos os cidadãos. Assista ao vídeo ao lado para saber mais sobre Audiodescrição.

Deise Lopes é audiodescritora, locutora, radialista, formada pela Escola de Rádio. Trabalha com locução comercial, produção de audiolivros e Audiodescrição.

Entendendo o universo da pessoa com deficiência visual, O conceito de Audiodescrição / Histórico brasileiro e mundial, Os modelos de Audiodescrição pelo mundo, Roteiro para audiodescrição: compreensão e elaboração, Subjetividade e objetividade em Audiodescrição: descrevendo o essencial, A transformação de imagens em palavras, A Audiodescrição no Brasil: mercado de trabalho, Noções técnicas para gravação. Certificado de conclusão ao final do curso.

Data de Início: 6 de julho
Dias: Sextas
Horário: 19 as 21 horas
Duração: 3 meses
Carga Horária: 12 aulas – 24 horas/aula


Pague a matrícula na secretaria da ER. Valor: R$50,00
Valor: 3 parcelas de R$250,00.

Valor total do investimento: R$800,00 (5% de desconto para pagamento à vista).


- Reserve sua vaga pelo telefone 2225-5794 ou email: curso@escoladeradio.com.br
- A vaga só estará garantida após o pagamento da matrícula.
- Em caso de desistência do curso não devolvemos o valor da matrícula.
- A mensalidade deve ser paga no primeiro dia de aula e o vencimento passa a ser o mesmo dia dos meses seguintes.

Para maiores informações acesse o site (clique aqui).