O que faz da Libras uma língua, e não estritamente uma linguagem?! E, qual a diferença entre língua e linguagem? O que uma língua tem de tão característico que a faz ser o
que é? O que confere a uma língua o seu status de língua? O que é uma língua? Por que é que quando as pessoas falam que não sabem
a linguagem dos surdos (e mudos), tem sempre alguém que replica dizendo que não é linguagem dos surdos...é a LÍNGUA dos surdos, poxa?!!
Esse foi basicamente o questionamento que guiou
meu percurso de estudos na pós-graduação em Letras. Eu já havia estudado
linguística durante quatro anos na graduação (sou formada em licenciatura
Português-Inglês pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul), e em nenhuma
disciplina do curso eu havia escutado alguém falar linguística ou
literariamente com mais detalhes sobre as línguas visoespaciais, as línguas de
sinais, e, dentre elas uma das que se fala no Brasil, a Língua Brasileira de
Sinais, mais conhecida por sua sigla: Libras. O currículo da faculdade, nesse
aspecto, não me contemplou, mas minha formação complementar (seis cursos de
Libras + curso de tradutora-intérprete de Libras) e minha curiosidade abriram
um caminho, e eu me toquei por ele. Acho que isso é o que faz a gente
desenvolver uma pesquisa, a continuar estudando e a estudar mais. Por que é que a Libras é uma língua?
[Saussure mostrando o sinal para a noção de "signo" haha, que ele tanto teorizou a respeito]
Esse senhor foi um baita professor, que no início do século XX, ministrou umas aulas na Universidade de Genebra. As aulas dele eram tão interessantes e legais que alguns de seus alunos anotavam tudinho que ele falava e explicava (ou vai ver que era os alunos é que eram excelentes, por anotarem as aulas haha). O professor não teve uma vida muito longa, mas as anotações dele e também as de seus alunos renderam tanto que se tornaram um dos pilares de uma ciência chamada Linguística, viraram livros, e até hoje tem gente que os estuda, e muito, e produz muito também, a partir dessa Linguística. Bom, lembram da encruzilhada em que eu estava? Agora eu tinha me colocado numa avenida, de duas vias: a Libras e a Linguística de Saussure, e estava confortável para caminhar. Andei aproximadamente por dois anos e a linha de chegada foi a defesa da dissertação de mestrado, intitulada O ESTATUTO LINGUÍSTICO DAS LÍNGUAS DE SINAIS: A LIBRAS SOB A ÓTICA SAUSSURIANA. O título é assim, bem grande (mas o trabalho em si nem tanto, no total tem umas 100 páginas), porque contempla os três principais tópicos que abordei no trabalho: as línguas de sinais, Ferdinand de Saussure e o estatuto linguístico. Essas são as palavras-chave do minha dissertação e o resumo dela, eu compilo aqui pra vocês:
A presente dissertação consiste numa pesquisa de caráter teórico linguístico. O objetivo é o de oferecer uma rediscussão do estatuto linguístico das línguas de sinais com base na Linguística tributária a Ferdinand de Saussure. Interessa aqui a teoria linguística e suas implicações sobre o objeto língua. Revisar o estatuto linguístico de uma modalidade de língua que desafia muitos dos parâmetros de teorias já consolidadas no campo dos estudos da linguagem acarreta um novo olhar sobre o objeto. Assim, na primeira parte desta dissertação é apresentada uma retrospectiva sobre a consideração das línguas de sinais como instrumento de ensino, como objeto de pesquisa linguística e como tal, enquanto passível de análises essencialmente linguísticas. Para isso retoma-se a vida e a obra dos seguintes pesquisadores, precursores no estudo das línguas de sinais: o francês Charles Michel l’Épée e o norte-americano William C. Stokoe. Além deles, considera-se a contribuição de alguns estudos específicos sobre a linguística da língua de sinais brasileira (Libras). Na segunda e terceira partes, revisa-se a teoria linguística saussuriana, seus princípios e elementos constitutivos, aproximando-a das línguas de sinais. Com esse movimento de aproximação, ambos os campos sofrem efeitos: as línguas de sinais passam a ser consideradas com o estatuto linguístico conforme outras línguas, e a Linguística saussuriana passa a ser deslocada para contemplar teoricamente as especificidades das línguas de sinais. Este trabalho justifica-se por mobilizar áreas distintas do conhecimento – a epistemologia linguística saussuriana e seus desdobramentos teóricos, e os estudos linguísticos das línguas de sinais – na busca por esboçar novos rumos para a reflexão linguística, em si mesma, e no tocante às línguas de sinais.
Um comentário:
Parabéns, Laura! (meio atrasado :s)
Coloquei sua dissertação na minha "wish list" de leituras e marquei com estrelinha vermelhinha.
Espero conseguir ler em breve.
Sucesso!
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